Capítulo V

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Alana acordou e praticamente se arrastou na manhã seguinte até a cozinha. Abriu os armários em busca do pó de café. O ansiolítico a deixou letárgica e precisa amenizar os efeitos colaterais dele. Ligando a cafeteira, sentou à mesa, suspirando profundamente e passou as mãos pelos cabelos, desolada.
Correu os olhos pelos móveis, brancos com detalhes em preto, da cozinha planejada para o pequeno espaço, pensando em Mike e em como a descoberta de ter uma sobrinha tinha lhe deixado mais conformada. 
Tudo era surreal! Sua garganta se apertou e as lágrimas foram inevitáveis ao perceber naquela manhã, que não veria o filho nunca mais. Aos poucos, a ficha ia caindo: Mike não estava mais nesse mundo. Com o coração sangrando, ficou por alguns minutos, de olhos parados, absorta em pensamentos, mas o barulho e o cheiro do café passando a fizeram despertar.
Nada seria muito fácil dali para frente.
Serviu uma xícara e tomou um gole do líquido, sem açúcar, sentindo o amargo descer por sua garganta. Esse era o gosto de sua vida no momento, amarga. Limpou as lágrimas ao enxergar Fran parada na porta, de braços cruzados, ainda com a roupa de dormir.
__ Bom dia!- cumprimentou com voz baixa. ___ Sei que é bobagem perguntar... mas como está?
__Olá!- sorriu forçado. ___Me sinto sem vida! Não paro de pensar em Mike e na minha sobrinha, que eu nem sabia que existia, mas que agora carrega o coração dele.
Fran deu a volta na mesa, passando apertada pelo espaço que sobrava, comentando.
__Quando cheguei ontem, você já dormia, não quis te acordar.
__ Tomei uma dose dobrada de calmante. Só assim para conseguir dormir!
__ Eu imaginei. - ela abriu o armário para pegar uma xícara.
Alana passou as mãos pelo rosto desanimada.
__ Tem notícias de Duda?
__ Ela está bem. As primeiras quarenta e oito horas são decisivas e está respondendo muito além do esperado.
___ Isso me consola demais! Nunca imaginei que Eduarda fosse filha de Elen! 
Parece um milagre! Pedi a Deus que arranjasse um jeito de ficar perto de Mike e olha só! - suspirou e bebeu mais um gole do líquido.
Fran juntou as sobrancelhas para fazer as perguntas retóricas:
___ Como assim, não conhecia sua sobrinha? Sua irmã... vocês não se viam, não mantinha uma relação? I-na-cre-di-tá-vel!
__ Não tinha notícias dela, desde a morte do nosso pai. Simplesmente, ela sumiu! Nem sabia o sobrenome do noivo dela!
__ Yan te contou que depois do casamento, eles foram embora do Brasil? Casaram aqui, no civil e iriam casar nos costumes ciganos lá, mas parece que a vó adoeceu e a cerimônia acabou não saindo.
__ Não entramos em assuntos íntimos. Ele parece ainda gostar dela...sei lá! O jeito quando fala de Elen...parece detestá-la, mas...
__ Quer saber se ele a ama ainda?  - indagou e deu de ombros. __Quem sabe? Desde que se foi com outro, que Yan nunca mais foi o mesmo. Pra te falar bem a verdade, o vi algumas vezes apenas. Ele é meio arredio. Quando Igor me contou sobre a cunhada, jamais poderia  imaginar que no final das contas eu iria acabar ficando amiga da irmã gêmea dela. - sorriu com carinho. 
__ Sabe, ontem quando acabei de enterrar Mike, fiquei pensando em com a vida é injusta. Elen teve tudo o que a maioria das mulheres sonham em ter: filho, amor...dinheiro, porque não sou hipócrita de achar que amor e uma cabana de sapé, façam realmente alguém feliz. Não vou negar que o financeiro foi um dos fatores para que meu relacionamento com Alex acabasse. Quando os boletos se acumulam, não há amor que resista!  Não consigo entender, Elen endeusava esse homem, quando nos encontramos pela última vez!
Fran sentou a sua frente e comentou sem rodeios.
__Desculpa, Alana, mas sua irmã não vale nada! Igor me contou que ela acabou com a vida do irmão. Neste quase um ano, que convivo com eles, a primeira vez que vi Yan sorrir de verdade...sabe, aquele sorriso que vem do fundo da alma? Foi quando recebeu a notícia que havia um doador compatível para a filha.
Ele se fechou num mundo de amargura sem fim, depois que ela foi embora.
__ Infelizmente, não tenho como replicar a sua constatação, Fran. - ela disse amarga.__ Acredita, que mesmo sabendo que nosso pai tinha câncer no pulmão, nunca o visitou?
__ Vindo da sua irmã, nem precisa me dizer! O que sei já me basta pra fazer um julgamento dela. 
Alana encolheu os ombros.
__ Abandonar um filho doente é de uma crueldade sem medida. - pensou alto e mudou de assunto.__ Pretende fazer o que hoje? 
__ Estou de folga hoje e amanhã. Ainda não sei, mas se quiser sugerir algo para que possamos fazer... 
__ Acho que vou tomar um ônibus e ir até o meu apartamento, preciso por à venda os móveis que estão lá. Tem uma ação de despejo correndo e o prazo acaba a semana que vem para desocupá-lo. Vou vender tudo e ver o que dá para acertar com a imobiliária. Também farei doações dos brinquedos e das roupas de Mike a um orfanato, onde trabalhei. Vou tentar fazer um acordo com meus credores. Pagar parcelado... Sei lá!
__Como amiga, vou te dar um conselho: descansa hoje e depois, resolveremos isso. Nada no mundo pode ser mais urgente que curar sua dor, Alana. Entrar no apartamento, onde tem tantas lembranças de Mike só vai piorar. Posso ir com você no sábado, se quiser.
__ Ah, mas é seu final de semana de folga...! - ela protestou. __Não quero atrapalhar. Talvez queira sair com Igor.
__ Ele dorme algumas noites aqui comigo e ultimamente, tem se divido entre mim, o trabalho e a sobrinha. Igor é louco pela menina! Você não vai atrapalhar em nada.
Diante das explicações, Alana concordou. 
__ Tem razão. Nada do que eu fizer hoje, vai mudar minha situação. Vou contatar por telefone, algumas lojas que compram e vendem móveis usados e marcar para avaliarem no sábado. 
__Isso aí! Primeiro passo é se livrar das dívidas para recomeçar. Não sei por onde, minha amiga, mas estarei aqui para pensarmos juntas. - sorriu compreensiva.
Alana não conteve a curiosidade que a assolava desde a tarde anterior. Mesmo que pensasse muito em toda a sua situação de vida, não conseguia tirar Yan da cabeça também.
__ O que realmente são os negócios de Yan? Ele me disse que é muito rico.
__ A família Romanov é uma das mais ricas e importantes do leste europeu. Eles têm negócios em várias partes do mundo, desde grandes mineradoras até hotéis em lugares turísticos. Igor administra a cadeia de hotéis deles aqui no Brasil. Os dois não são filhos do mesmo pai. Yan é um Romanov, tem sangue cigano. A mãe deles é brasileira.
__Ah, sim, entendi o porquê dele ter aquele leve sotaque. Então quer dizer que ele não é brasileiro. Parece que a família tem atração pelas mulheres brasileiras.- conclui e levantou, reposicionando o banquinho estofado para baixo da mesa.
Fran balançou a cabeça em sinal negativo.
__ Yan nasceu no Brasil. A mãe veio grávida para cá...Não sei direito essa história, mas parece que foi isso!
Alana ligou a torneira para lavar a xícara encerrando a conversa. Não queria que a amiga desconfiasse que se sentiu perturbada pelo charme dele no dia anterior. 

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