Capítulo 9 - Esbarrões e tempestades.

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"Só dessa vez

Esquece as coisas do passado

Vamos olhar pro outro lado

Bobagem a gente discutir

Prefiro que cê fique aqui

E aos poucos vou mudando

E me adaptando

Eu troco tudo, tudo, tudo, tudo

Pra não te deixar ir"

Só Dessa Vez – Hugo Henrique.

O único barulho a nos cercar é o som do motor barulhento da caminhonete, Theo e eu estamos em um silêncio sepulcral olhando diretamente para frente, onde se pode ver apenas a próxima curva na estrada de terra mais adiante. Deixamos um rastro de poeira em meio a solavancos. Essa situação toda é tão conhecida por mim e ao mesmo tempo tão nova que é irritante.

Lembro-me de cada uma de nossas viagens nessa mesma estrada, sempre rindo, ouvindo música ou conversando, havia sempre alguma coisa minha perdida aqui dentro, fosse um sapato ou um casaco, essa caminhonete era apenas mais um dos muitos lugares que compartilhávamos e onde éramos felizes. Mas agora a é situação é completamente diferente, há uma tensão, vários mal entendidos e magoas entre nós, nem estamos nos falando e essa coisa toda é uma droga.

Não falamos, ninguém diz uma única palavra durante as quase uma hora que gastamos da fazenda à vila, quando Theo estaciona perto da praça e o motor finalmente para de fazer barulho é que finalmente nos olhamos. Ele parece travar uma batalha interna quando nossos olhos se encontram, tentando decidir as palavras que usar ou só pensando no que dizer e eu o entendo, por que quero tanto bater nele e em mim quanto beijá-lo outra vez. E é por isso que abro a porta e pulo pra fora da caminhonete e só depois de estar na segurança do lado de fora é que volto a encará-lo.

- Você vem? – pergunto e ele sorri.

- Não, eu sou só o motorista, você já está entregue então se divirta.

- Você vai me deixar aqui?

- Não, vou tirar um cochilo.

- Theo, eu falando sério!

- Eu também – ele responde pegando um chapéu preto de abas largas do banco de trás, que eu nem havia notado, e se recostando no banco para colocá-lo sobre o rosto logo em seguida. – Não demore – ele diz sob o chapéu. – Por que se não, vamos nos molhar.

- Argh! Idiota! – praguejo enquanto me afasto pisando duro. Theo nunca deixaria de ser o cara mais irritante da face da terra.

Depois de alguns passos respiro fundo e deixo pra lá, estou nessa cidadezinha do interior que parece ter saído de um filme e não vou deixar de apreciá-la por causa de um idiota. Sorrio olhando as lojas, casas e carros na rua. Há muitos anos atrás esse era meu mundo, hoje eu sou só uma estranha a observar tudo de longe. Esse pensamento repentino me pega de surpresa, mas é uma verdade inegável, principalmente quando eu estou andando na rua e atraio olhares para os meus saltos e óculos escuros, me tornei só mais uma garota da cidade das quais eu vivia falando mal, o mundo realmente dá voltas.

Livro-me desses pensamentos e decido fazer algo mais produtivo, como ligar para papai, por exemplo, e reclamar sobre cada um e todos os momentos que passei aqui, mesmo que a maioria nem tenha sido tão ruim assim.

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