Capítulo 2

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Açoites, fome, cordas apertadas e escuridão. Palavras que definiam sua infância. Não, ele não era um escravo. Não era a toa que não repetiria o mesmo ato a ninguém, pois conhecia bem a dor. Como será sua reação ao voltar pra lá?

Lembra com clareza de estar com uma espécie de venda nos olhos, mãos amarradas por uma corda áspera e apertada, que lhe marcavam o pulso. Lembra da voz do seu pai lhe machucando com os piores xingamentos que uma criança não deveria ouvir e Chicotadas que abriram suas costas em vários cortes paralelos.

Alexander acordou do devaneio quando lhe foi avisado que estavam chegando a cidade.

***

A notícia da vinda do Conde se espalhou por Lajes como doença contagiosa. A cidade inteira comentava, nobres temiam, as moças se atentaram para ver o rosto do novo nobre.

Quando três carruagens de alto padrão, com dois cavalos de raça pura, em cada, chegaram em frente ao palacete dos Carvalho, o povo aproximou-se com cautela. Alexander observava a curiosidade da pequena cidade, o padrão de vida naquele lugar era relativamente abaixo do que estava acostumado.

E ali estava ele. Tinha tomado a decisão de mudar-se para a casa antiga pois estava querendo, no fim das contas, confrontar seus medos antigos. Alexander estava com seus 30 anos, era alto, porte atlético e possuía uma beleza exuberante, tão exótica que chamava a atenção por onde passava, porém seu modo observador e misterioso destacava-se tanto quanto sua aparência e isso era tema de muitas teorias e mexericos sobre ele. Mexericos no qual muitas vezes ele concordava internamente. Descendo da carruagem, foi abordado por vários homens bem trajados o qual presumiu que fosse a nobreza local, tentando lhe bajular.

- Senhor! Seja Bem vindo de volta á Lajes! Sou o Coronel Antônio Leôncio Meirelles e esta é minha filha Isabela das Virgens Meirelles.

À vista de Alexander, o coronel lhe pareceu bastante atirado. Não gostava da sensação de receber apresentações daquela forma. Olhou de relance para a moça perto dele. Isabela fez uma mensura discreta com a cabeça sendo correspondida em seguida por Alexander da mesma forma. Olhando para ela, ele concordou consigo mesmo. Era muito bela e delicada como uma dama da alta sociedade deve ser. Porém era justamente disso que ele pretendia manter distância enquanto estivesse em Lajes.

- Fico grato pelas boas vindas... E pela recepção. Disse percorrendo seus olhos pelo povo que o observava admirados, talvez nunca tivessem visto alguém daquele escalão, pensou o conde.

- Minhas condolências.

- Obrigado! Respondeu Alexander vagamente. Na verdade, era um alívio a morte de seu pai, mas ele não o diria ao público.

Logo em seguida, surge entre a multidão o Fidalgo João Clemente, o Baronete e Antônio Macedo.

- Sua graça! É um prazer revê-lo! Disse José.

Alexander se sentiu aliviado por ver um rosto conhecido com excessão dos criados que trouxera consigo. Apertou a mão de José e seu sogro, esboçando um sorriso.

- É um prazer rever o senhor também! Como está a Baronetesa?

- Está bem, com a família dela. Permita-me apresentar meu sogro João Clemente e o noivo da minha cunhada, Antônio Macedo.

- Prazer em conhecer os senhores...

- O prazer é meu, sua graça! Aliás, minhas condolências...

- Obrigado... Que tal, mais tarde, vossas senhorias virem á minha casa tomar um café e conversarmos? Tenho muito que lhe perguntar sobre Lajes, Baronete. O conde convidou o trio a sua frente, enquanto o Coronel Leôncio ao lado ficava vermelho. Leôncio não gostava de não ser o centro das atenções, principalmente de um dos integrantes da casa imperial.

O Conde de LajesOnde histórias criam vida. Descubra agora