capítulo 10

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Era uma tarde ensolarada, todos da cidade, pelo menos os nobres de Lajes, iriam a missa naquela tarde.  Mariana havia optado por um vestido azul petróleo de seda e luvas brancas. Ao perguntar como estava sua aparência a Amélia, notou Antônio descer a despensa. Era sua chance de abordá-lo, já que todos ainda se arrumavam.

Desceu a despensa atrás do moço e o encontrou procurando mantimentos para suprir a cozinha.

- Por quê foges de mim? Perguntou Mariana em lágrimas.

Antônio se virou com o susto. E permaneceu parado olhando para ela.

- Responde! Sabes o quanto me machuca, cada vez que me dás as costas?

- Mariana...

- Antônio, eu o amo! E nenhum empecilho irá me fazer te esquecer! E Eu tentei, acredites! Quando me destes as costas naquele dia, achei que não me amavas mais... Disse ela chorando.

- Eu a amo! Mas também não sabes o quanto me machuca, ver-te com ele? Ver tudo ser planejado a minha frente, ver isto! Disse ele apontando para o anel de noivado na mão da moça.

- Eu nunca deixei de pensar em ti! Disse ela com indignação.

- Eu também não... Mas temos que aceitar que não daremos certo...

Os dois se entreolharam e correram um para o outro se envolvendo em um abraço apertado e demorado. E beijaram-se.

- Eu vou lutar por ti, Mariana.

                                  ***

João Clemente, não havia perdido todos amigos como previu, perdeu, apenas, profissionalmente e isso o deixou um pouco mais aliviado. Porém, coronel Leôncio era o único que não lhe dirigiu a palavra.

Mariana também havia tentado conversar com Belinha, queria pedir-lhe desculpas pelo ocorrido, mas a moça também não quis conversa com ela. Belinha havia caçoando dela na frente de suas amigas, acusando-a de roubar pretendentes alheios. Aquela altura, todos já sabiam que o conde havia sido fisgado e as jovens já não queriam mais ser amigas de Mariana.

Os Nobres de Lajes, tinham o hábito de conversarem na praça de frente a igreja após a missa.  Mariana e suas irmãs estavam de pé, próximas ao pai e  maridos.

- Não compreendo porque Belinha não quer me perdoar...  E nenhuma das minhas amigas, querem ser mais minha samigas... Disse Mariana, triste.

- Calma minha irmã! Tudo vai se resolver. Acontece que noivaste com o homem mais competido que Lajes  já teve, isto intrigou todos da cidade. E sabes o quanto Belinha queria casar-se com ele.

- Eu sei, mas não havia necessidade de ela humilhar-me! Eu não tenho culpa! Disse ela chateada.

Olhando a sua volta via, Belinha com suas antigas amigas, todas conversando e olhando para ela com um desprezo que machucava seu coração. E ela refletia em como chegou a achar que elas eram de confiança.

- Mariana... Maria Cristina cutucou a irmã na tentativa de chamar sua atenção.

Quando Mariana segue o olhar de sua irmã, ela o vê, vir em sua direção. Estava lindo como sempre e cada vez mais atraente, como armadilha para ela cair.

Alexander para à sua frente, cumprimenta suas irmãs e por fim estende a mão para Mariana. Ela hesitou, olhando para Belinha, que a fuzilava com inveja, decidiu estender a mão com muito gosto para provocar a ex-amiga.

O seu noivo, surpreendeu-se com o bom grado que ela estendeu a mão. Ele, levantando uma sobrancelha e sorrindo para Mariana, beijou o dorso de sua mão delicada. Notou que ela usava a pulseira que ele havia lhe dado na semana passada.

- Vejo que a senhorita gostou do presente, fico muito feliz em vê-la usando. Disse ele orgulhoso.

- Pediu-me para não jogá-lo fora, te fiz um favor. Sussurrou ela.

- Vejo que vim em boa hora, estás de bom humor.

Disse ele oferecendo o braço para que ela entrelaçasse sua mão. Ela aceitou, só pela raiva e inveja que estava despertando em Belinha.

- Não se anime, senhor Conde. Quero apenas deixar claro que há uma razão  apenas para meu comportamento dócil.

Os dois caminharam pela praça, com Amélia sempre por perto.

- E qual é a motivação? Perguntou ele vagamente.

- Tentei pedir desculpas a alguém e essa pessoa humilhou-me na frente das minhas amigas, bem pelo menos achei que fossem... E eu não fiz nada, não tive a culpa...

- Não deves, jamais, pedir perdão para alguém, se não fez nada de errado.

- O senhor pratica o que diz? Se pratica, agora entendo porque não se dás bem comigo.

-  Como disse? Ele parou para encará-la.

- Exatamente o que ouviu. O senhor não entende nada de relacionamentos. Agora vejo porque não tens amigos. Agora vejo porque ninguém o atura.

Ele permaneceu calado. Apenas fitou-a, mordeu o lábio inferior e continuou a caminhar com ela. Mariana também começou a caminhar fitando-o.

- Por que olhas tanto pra mim? Perguntou ele baixinho.

- Estou vendo o senhor controlar sua fúria. Disse ela provocativa, queria ver a máscara dele cair.

- Não estou furioso... Deves ter um motivo para odiar-me, eu entendo. Disse ele zombeteiro como se o motivo dela fosse o mais estúpido.

- E eu tenho um ótimo motivo para permanecer. Completou ele sussurrando no ouvido dela.

Naquele momento ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo e seu coração acelerar. O que estava acontecendo?

Ele sorriu maliciosamente.

- Com sua licença...

Mariana suspirou para iniciar a sua relutância e desistiu, soltando o ar, vendo o Conde partir.

                                ***

Já se passavam das dez da noite quando Alexander bateu a porta de Ícaro. Seu pai havia citado seu nome várias vezes no diário. Ícaro era o vidente da cidade, um ancião, excluído pela sociedade, porém, foi criado na casa de Alexander quando o mesmo tinha quatro anos.

Alexander precisava saber qual era a ligação de Ícaro com seu pai, para ser citado tantas vezes no diário.

Ícaro o convidou a sentar e ofereceu-lhe chá. Que aceitou por educação.

- Eu sei o que estás procurando...

- Eu preciso saber...

- Eu sei. Eu trabalhei em sua casa quando você era criança.

Alexander ficou em silêncio procurando o modo certo ou a ordem certa de perguntar.

- Como era o relacionamento dos meus pais? Indagou como uma criança curiosa.

- Não era nada bom. Seus pais se odiavam. Sua mãe... Ela não queria partir para Nova Friburgo, não queria ser dama de companhia de D. Carlota Joaquina. Seu pai queria... Visava status na casa imperial...

- Há um quarto... Um quarto que está trancado, ninguém sabe onde está a chave...

- Seu pai a perdeu... Há algo a mais lá na casa, que ele não queria que encontrássemos... Sei que é o que você busca...

- Eu... eu não possuo boas lembranças daquele lugar, queria me desfazer dele mas meu pai não deixou e eu não sei o porquê... ele não me disse...

Alexander desabafou quase falando pra si mesmo.

- É porque há algo lá, que lhe pertence como herança... Não posso dizer o que é, nem onde está... Mas, posso lhe dar uma pista...

Alexander apenas esperou ele completar sua frase.

- Onde ninguém pisa, onde ninguém vê... Disse o velho quase sussurrando.

- Onde ninguém pisa, ninguém vê...
Repetiu ele tentando decorar. Precisava anotar essas informações e prosseguir com a busca pelas jóias, a busca pela verdade.

O Conde de LajesOnde histórias criam vida. Descubra agora