Capítulo 15

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Amélia deu um susto na sinhá que acabara de entrar sorrateiramente no quarto.

- Sinhá, onde estavas? Teus pais estavam procurando por ti, menti dizendo que estavas dormindo...

- Fizeste bem, Amélia... Oh! Como fui tola! Amélia, tomei uma decisão terrível! Quase joguei o nome de minha família ao vento!  Disse Mariana se jogando na cama.

- Que fizeste? Perguntou a escrava arregalando os olhos assustada.

- Eu... Eu não sei o que deu em mim! Deixei-me guiar pelas emoções e ia fugindo com Antônio...

Amélia fez uma expressão de aprovação, afinal era o que Mariana queria, estar com Antônio.

- Não é algo bom! O conde estava lá... Na cooperativa de transportes, alguém nos viu e avisou a ele... Ele nos deu uns sermões... E eu percebi o que havia feito, Amélia! Oh! Fiquei desesperada!

- E o que o conde fez??

- Ele ameaçou Antônio de morte ... Levou-me para casa e alegou que não diria aos meus pais que fugi. Não sabes o quanto me dói ter que deixá-lo! Antônio não merecia aquilo e eu não devia ter aceitado!

- E o noivado? Como fica?

- Ele disse que manteria pela minha honra... Oh! Quão injusta fui eu! É certo que o odeio, mas ele abriu-me os olhos e ainda ajudou-me a chegar aqui sem meus pais perceberem, sinto-me horrível, Amélia!

- Então, não amas a Antônio mais?

- Claro que o amo! Mas não poderíamos ficar juntos... Não devíamos ter nem tentado fugir! Seria a pior de todas as decisões!

- Pelo visto, na verdade, não podes fugir do teu noivo...

Mariana sentou-se na cama analisando a frase que acabara de ouvir.

- Sim... E ele estava lá como se tivesse adivinhado que eu tentaria aquilo.... Céus! Como poderei olhar para ele novamente? Sinto tanta vergonha! Mesmo que ele fosse totalmente insuportável...

Ela se interrompeu e passou a chorar, sendo consolada pela mucama.

     Na manhã seguinte, nada de anormal na casa foi percebido, a não ser pelo fato de Antônio não ter comparecido ao trabalho. Seu pai, João Clemente decidiu dar as contas do rapaz, uma vez que ele não podia faltar... Mariana disfarçou toda a confusão interna sobre aquela noite, seus pais nada notaram e ela sentiu um ligeiro alívio. O conde realmente manteve sua palavra em não contar nada.

                                  ***

Alexander não saiu da cama durante toda a manhã. Seu coração estava em pedaços, nunca havia sentido aquilo e não gostou nada da sensação. Ele se perguntava o que havia de errado com ele para que fosse facilmente trocado por um simples criado.

O mordomo e o restante dos empregados perceberam a mudança repentina no humor do conde. Ele não estava na biblioteca, xeretando as coisas do pai, apenas ficara deitado na cama com o olhar perdido para o teto, nada dizia nem respondia, nem tomou o café da manhã. Ficaram preocupados mas nada podiam fazer, senão guardar sigilo de todo o ocorrido.

Quando ele finalmente decidiu levantar-se, foi diretamente para a biblioteca, os arquivos separados por Ícaro estavam lá, tudo o que ele tinha de fazer era examinar tudo, atrás de dados sobre seu pai. Mas não tinha vontade de fazê-lo. Pela primeira vez desde que chegara ali, não quis saber da casa, nem do assassinato, nem de seu pai. Sua cabeça estava voltada totalmente para a noite anterior na qual havia se segurado muito para não matar o criado. E ele se perguntava o porquê continuar com o noivado, quando estava claro que ela não o amava. E, de repente, encontrou a resposta. Estava apaixonado demais para deixá-la, a honra e fortuna dos Portelli dependia do casamento e por fim queria vingar-se dela. Se, para ela, o casamento com ele era um inferno, então no inferno ele a prenderia para sempre. Ele podia conviver com isso facilmente...

                                 ***

Havia chegado o grande dia. Toda a nobreza de Lajes estava presente. Sebastiana fez questão de que ninguém perdesse aquele grande evento, o dia em que os Portelli chegariam ao topo. Suas filhas e maridos ganharam assento exclusivo e até a côrte imperial brasileira estava lá. Dom Pedro I, acompanhado de sua esposa, D. Leopoldina, melhores amigos do noivo. O casal imperial estava na sacada acima de todos da igreja, a guarda real estava para fazer a segurança. Até Chalaça estava presente, ao lado do Noivo que não parecia feliz, porém ninguém, além de seus amigos leais, notaram aquilo. Alexander conseguia disfarçar bem suas emoções

Sebastiana vai onde está a filha, em seu quarto pronta para subir ao altar.

- Estás linda!

Ao ouvir estas palavras, Mariana derramou-se em lágrimas. Era o dia mais triste de sua vida e sabia que naquele momento não havia escapatória. Deixando-o guiar por todos da família, ela não disse nada, apenas chorava durante todo o trajeto.

Chegando na igreja, Alexander pôde vê-la. Estava encantadora! Era a noiva mais linda que ele já havia visto e, de repente, sorriu, orgulhoso.

Ela ao entrar na igreja, deparou-se com todos os Nobres da cidade, Belinha morrendo de inveja, no canto do banco, a expressão de suas ex amigas não era diferente. Seu olhar a leva, então, ao altar. Lá estava ele e estava lindo... O noivo mais lindo que ela já viu, porém, ao notar o sorriso dele, revirou os olhos, percebendo que, aparentemente, nada mudou depois daquela noite.

Chegou, enfim, ao altar e o padre começou a falar. Seu discurso sobre o casamento e a união de duas pessoas perante Deus, provocavam nela um arrepio. Não era uma sensação boa e quando ela ousava encarar o noivo, ele a olhava de lado sem virar, sequer, o rosto. 

O padre então mandou-a virar um de frente ao outro. Mariana não conseguia olhar para ele, pois batia a vergonha ao fazê-lo.

- Alexander Carvalho, aceita esta mulher como sua legítima esposa para honrar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, sendo-lhe fiel por todos os dias de sua vida?

Ele encarou Mariana, sabendo que ela não retribuiria.

- Aceito.

- Mariana Portelli, aceita este homem como seu legítimo esposo para honrar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, sendo-lhe fiel por todos os dias de sua vida?

Mariana processava todo o juramento devagar, palavra por palavra. Era como uma condenação ao inferno... Afinal, ele se chamava Alexander? Ela percebeu que estava demorando a responder, chamando a atenção de todos os convidados. Olhou em volta e viu seus pais em sinal de alarme, e todos assustados. Conseguiu olhar para o rosto de Alexander, ele estava discretamente desafiando ela com o olhar, como se ela não fosse forte o bastante para dizer :

- Aceito.

João Clemente e a esposa, respiraram aliviados, afinal, aquele era o maior medo do casal. Perderia tudo o que tinham, inclusive a honra, se a menina dissesse não. Mariana foi muito sábia, pensava sua mãe.

O padre abençoou as alianças e entregou a Alexander uma. Repetindo as palavras do padre ele pegou a mão esquerda de Mariana.

- Com esta aliança, eu a desposo.

Mariana estava atônita, não conseguia nem se mover. O padre entregou a outra aliança a ela, instruindo-a a repetir suas palavras.

Ela segurou a mão esquerda do conde, e colocou a aliança.

- Com esta aliança... Eu... O desposo... Ela disse suspirando no final, segurando-se para não chorar.

O padre os entregou uma caneta para assinar a certidão de casamento.
Ele assinou rapidamente e entregou a caneta à ela.

Mariana engoliu em seco e assinou, sentiu-se assinando sua sentença de morte, como previra várias vezes.

- E pelos poderes concedidos a mim, eu vos declaro: Marido e Mulher. Em nome do pai, do filho e do espírito santo.

O conde aproximou-se, tomou delicadamente sua mão e a beijou. E estavam casados.

Mariana não conseguiu conter toda a tristeza que a aflingia o dia todo, o fato de que a partir daquele momento estaria casada, presa, era o cúmulo. Começou a chorar tanto, que chegou a soluçar. Os convidados acharam que era de alegria, era fácil fingir que sim.

O Conde de LajesOnde histórias criam vida. Descubra agora