Após rondar toda a casa, abrir porta por porta, Alexander se dá conta que há um quarto trancado. Vasculhava cada canto da biblioteca, atrás da chave do aposento. Havia perguntado ao mordomo e ele dissera que o seu pai a havia perdido. Havia algo naquele quarto... Alexander sabia que seu pai sempre escondia coisas em cantos que ele pudesse estar vigiando. Como ele vivia na biblioteca, tanto na casa em Nova Friburgo como no Palacete de Lajes, pelo que ele lembrava, a chave poderia estar lá. Olhava dentre os livros, nas gavetas, debaixo dos móveis, na escrivaninha. Nada. Ele precisava encontrar aquela chave, precisava ver como estava o quarto já que ninguém pisou lá.
Passou a examinar novamente com cuidado o diário do seu pai e ver o que conseguia extrair sobre o quarto ou a chave.
Alexander havia virado a noite procurando pistas e dormiu durante o dia. Pela tarde, foi acordado por um de seus criados que o avisara que ele tinha visitas.
Ao descer as escadas de mármore branco, Alexander encontra-se com sua ilustre visita. Coronel Leôncio, esposa e filha.
- Coronel, a que devo a honra de sua visita? Disse sendo cortês.
- Conde! Vim para falar-lhe sobre alguns negócios que tenho a lhe oferecer, e claro tirar uma dúvida com vossa senhoria.
Alexander já podia supor o que seria, lembrando-se do que o fidalgo disse sobre a insistência do Coronel em tornar Isabela em condessa.
- Claro! Senhora, Senhorita! Cumprimentou acenando com a cabeça para as damas.
- Senhor conde. Cumprimentou Isabela.
-Por que não se acomodam na sala de visitas? Logo lhe serão servidos café, ou chá se preferirem. Alexander sinalizou estendendo a mão para o lado direito da casa.
Todos caminharam, seguindo-o e acomodando-se no sofá e poltrona o Coronel não perdeu tempo.
- Sabes que a indústria de Cana-de-açúcar é perfeitamente lucrativa, não é? Porém precisamos de mais investidores no ramo. Soube que o senhor possui uma vasta terra, bem fértil, ouvi falar.
- Sim, pretendo investir na plantação de cereais como milho, feijão e arroz.
- Por que não investes na Cana-de-açúcar também? Assim seremos sócios eu, o senhor e o fidalgo.
- Falaremos com ele sobre sua opinião com relação aos investimentos. Ainda não vejo necessidade de fazer algo com a terra visto que não tive tempo para estudar o solo de Lajes.
O coronel o observou em silêncio. Notou que Alexander estava com cara de sono e para completar havia acabado de bocejar, discretamente claro, apenas o Coronel notou.
- Perdão, Conde, estava dormindo?
- Perdoem-me, eu passei a noite estudando...
Os criados apareceram para servir o café para as visitas.
- Entendo... Diga-me, Conde. Soube através de alguns mexericos, que o senhor havia noivado, isso não é verídico, é?
"Estava demorando", pensou Alexander.
- Sim, Coronel. Eu realmente estou noivo.
- Mas como isso é possível? O senhor havia dito que não pretendia casar-se tão rapidamente.
- Coronel, isso pode soar como uma tolice. Eu conheci uma dama e me apaixonei por ela.
- Com sua licença, Senhor conde, quem é a dama? Perguntou Belinha curiosa para saber quem era a moça que havia roubado o coração do seu amado.
Ele sorriu um pouco constrangido.
- Mariana Portelli.
- A filha do fidalgo? Perguntou o coronel incrédulo.
- Mas ela o detesta! Completou Belinha quase em lágrimas.
- Não foi o que me pareceu, ela aceitou noivar comigo. Mentiu ele. Alexander sabia muito bem que ela não tinha simpatia por sua pessoa, mas não desistiria de casar com ela por isso.
O coronel encostou-se na poltrona como se acabasse de receber uma péssima notícia. Belinha arfava como quem queria despedaçar Mariana.
***
- João Clemente!
Bradou o coronel Leôncio na sala dos Portelli. O fidalgo assustou-se ao receber a visita desta forma. Levantou do sofá nervoso, já imaginava o que seria. O coronel amava a sua filha e João ter noivado Mariana com o homem que Belinha queria para marido, era como uma faca na amizade dos dois nobres de Lajes.
O coronel também era seu sócio o que significava que grande parte das terras para as plantações eram dele e de seus sócios, que faziam tudo por Leôncio. Por isso, perder este sócio era perder quase todas as terras de plantio.- C-Coronel...
- Diga-me, porque fizeste isso? Por que traíste minha amizade?
- Leôncio, ele pediu, disse que estava interessado em Mariana...
- E o senhor aceita de bom grado?! Belinha queria casar-se com ele!
- Eu disse a ele. Mas... Ele afirmou estar interessado em minha filha, o que eu poderia fazer?
- Rejeitar! Disse ele andando pela sala.
- Ora! E minha filha ficará solteira? Irritou-se o Fidalgo.
- Não, senhor fidalgo, claro que não. Falou mais calmo. - Mas há muitos jovens aqui em Lajes, interessados em tua filha.
- Então por que não casas um deles com Belinha? Ela é a moça mais cobiçada de Lajes.
- Porque minha filha merece o melhor partido! Porque ela quer o conde. Soube que tua filha o detesta e está noiva dele!
- Minha filha também merece o melhor! E ela não o odeia. Mentiu o fidalgo.
- Eles se dão muito bem juntos. O fidalgo ajeitou o terno para encobrir seu nervosismo.- diga-me... Desde quando eles estão noivos?
- Cerca de duas semanas.
- E achas que é o suficiente para uma moça mudar de opinião.
-Bom, foi a primeira impressão dela, com a corte ela mudou de opinião.
- Com a Corte?! Quando? Meu Deus! Quando pretendias me contar? E eu, tolo, guardando esperança de que ele poderia aproximar-se de Belinha e até Côrte o rapaz já fez a Mariana?!
- Coronel...
- Agora escute-me com atenção! Roubaste um genro meu! Não tolerarei ser teu sócio depois de apunhalar-me pelas costas!
- Coronel, por favor... Implorou o fidalgo.
- A partir de hoje minhas terras não plantarão uma semente sua sequer! E farei o possível para que nenhum dos sócios QUE EU CONSEGUI PARA TI, continuem também, Até mais ver!
Coronel Leôncio se retira quase marchando e o fidalgo, desesperado, sobe ao seu escritório para calcular o que lhe restaria caso seus sócios o deixasse. Tinha a certeza que pelo menos o sogro de Maria Cristina, sua filha, continuaria a ceder as terras e seu genro, o baronete, continuaria fornecendo as sementes para vender a ele. O problema era que, as terras do coronel, sogro de sua filha e suas terras não eram o suficiente para competir com as terras e plantações dos sócios do coronel Leôncio que seriam agora uma indústria concorrente.
Mariana soube, pelos criados, da confusão que houve a pouco na sua casa e, preocupada, foi verificar se seu pai estava bem.
- Meu pai? O senhor está bem?
Disse ela entrando devagar no escritório.
- Não, minha filha. Estamos prestes a perder nosso sustento... Não temos terras suficiente e os nossos sócios irão apartar-se da gente, está tudo perdido...
O fidalgo baixou a cabeça. Mariana sentou-se a frente do pai e pôs sua mão direita sobre a mão dele. Ele olhou por um momento para o anel de noivado de Mariana e levantou a cabeça em um lampejo de esperança.
- Talvez... Disse pegando a mão da filha na qual estava o anel. - Nem tudo está perdido, minha filha...
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O Conde de Lajes
ChickLitPrimeiro livro da série: Romances do Império. No Brasil imperial, o recém condecorado Conde, Alexander, se muda de Nova Friburgo, para a pequena cidade de seus pais, Lajes. Lá, ele conhece Mariana, a ultima filha solteira de um Fidalgo, que desperta...