Mariana estava rodeada de flores, sua mãe escolhia minuciosamente cada uma e Mariana sentia que era para seu funeral. Não sentia-se nada feliz e a medida que o casamento se aproximava, sentia que era como estivesse morrendo, não fisicamente, mas emocionalmente.- Não achas lindas estas? Quero encher a igreja destas flores e encher o salão de bailes do conde também! Oh! Elas vão combinar perfeitamente com a casa! Que casa! Uma maravilhosa casa!
Mariana a olhava incrédula. Quando suas emoções deixaram de existir pra sua mãe?
Antônio entra na hora, arrancando um sorriso involuntário de Mariana.
- A costureira chegou... Com... O vestido de noiva. Disse ele com certo pesar.
A senhora com sua assistente entram logo depois com uma grande caixa e um caderno.
- Aqui, minha querida! Escolha o modelo que queres. Ela o entregou a Mariana enquanto partiu para falar sobre tecidos, prazos e preços com sua mãe.
Ela abriu temerosa. Era como abrir a caixa de Pandora. Folheou algumas páginas e encontrou um belo modelo, mas ela não se viu casando com o conde e sim com Antônio. Automaticamente sorriu para si mesma, despertando o olhar da mãe, que tomou o caderno dela.
- Deixe-me ver ... É um belo vestido! Podes fazer.
A costureira, mandou-a ficar de pé, tirou suas medidas. E prometeu voltar em uma semana com o vestido meio pronto para ajustes.
Sebastiana notou a tristeza no olhar da filha. Esperou a costureira se retirar da sala e aproximou-se da filha.
- Não estás contente, Mariana?
- Mamãe... Sabes bem que não o amo... Não quero planejar isto!
- Não jogues esta oportunidade fora! Terás um casamento de princesa e tens de aceitar isso! Pense no teu futuro!
Sua mãe se aproxima mais dando um beijo na testa.
- Minha filha... Não o deixes ir... Se não quiseres planejar o casamento, Eu planejo o por ti.... Vá! Vá passear... Penses bem...
***
Alexander decidiu verificar as terras e os plantios juntamente com seu futuro sogro e cunhados. João Clemente aproveitou a presença do conde para tocar no assunto do coronel Leôncio.
- Conde, o coronel Leôncio procurou-me... Disse que estava em desespero, não querem comprar dele... Falou hesitando.
- Parece que a cooperativa dele não vai bem... Alexander disse enquanto pegava nas sementes.
- Ele quer...
- Juntar-se a sua cooperativa novamente?
- Isso! Bem eu disse que pensaria a respeito e falaria contigo, dependendo de sua aprovação, Claro!
Alexander ficou calado. Avaliou bem o pedido do coronel. Lembrou-se de Mariana lhe dizendo que Belinha, sua filha, havia humilhado ela. Então, pensou em recusar, mas na mesma hora achou melhor manter o coronel abaixo dele, fazendo assim com que Belinha respeitasse Mariana, afinal ela seria a Condessa de Lajes.
- Está bem... O coronel pode Juntar-se a nós, claro, se aceitar apenas 10% da cooperativa. Disse o conde erguendo uma sobrancelha em desafio.
- Ele não iria aceitar porcentagem tão baixa... Ele sempre teve 40%. Disse João Clemente.
- Eu possuo 50%, o senhor 30%, seus Genros 5% cada, o coronel ainda ficaria 5% acima deles. Ele só entra assim, nada mais de sócios.
João Clemente apenas acenou com a cabeça. O coronel não iria gostar de ser o 3° na cooperativa... Porém, ele mesmo saiu, não seria fácil voltar. Ele ainda tentou entender o porquê o conde aceitou que ele voltasse, poderia ter negado e acabar com a finança do Coronel...
***
Mariana estava passeando pelo pátio. Não podia fazer mais nada. Nem havia mais lágrimas para chorar, também não sentia vontade de fazê-lo. Tudo o que partia seu coração era saber que jamais casaria com o amor de sua vida e que o amor não era pra ela, visto que estava condenada a um homem que odiava.
Olhou para sua mão direita, aquele anel brilhante. quem dera que fosse de Antônio... Quem dera que ele fosse o conde, assim estaria destinada a ele e não recusaria. Planejaria seu casamento com muita felicidade... Olharia para o anel com satisfação. Receberia a pulseira com carinho e usaria o vestido com muito orgulho... Mas estava longe desse desejo.
Ela para no meio do caminho, para observar Antônio de longe. O rapaz estava sentado em uma pedra abaixo de uma árvore. Olhou para ela com tristeza, mas mesmo assim sorriu pra ela. E Mariana retribuiu o sorriso.
Maria Cristina estava juntamente com Sebastiana na sala planejando tudo. Os convites e convidados, ornamentos e menus. Ana Francisca estava sentada na varanda escolhendo a cor para a mesa de festa, procurava luz natural para distinguir os tons.
- Mamãe... Mariana não parece feliz. Disse Maria Cristina.
- Por que diz isto? Disse Sebastiana tentando disfarçar.
- Se ela estivesse feliz, estaria aqui escolhendo tudo. Ela está lá fora andando sozinha.
- Ela está apenas nervosa. Ela gosta do Conde.
- Não parece! Parece que o odeia. Notei os comportamentos dela com o Conde nos jantares. Falou Ana Francisca de fora, vindo para dentro da casa.
- Ora! Que bobagem! Ela vai casar-se com ele e isso é o que importa... Vai receber um título de nobreza e será a esposa do homem mais rico de Lajes, que também é amigo do imperador do Brasil... Ela não jogaria esta oportunidade fora...
***
Mariana aproxima-se de Antônio.
- Então... Pronta para viver o resto de seus dias presa em uma casa grande e luxuosa?
- Não... Sinto que vou morrer e o casamento meu funeral.
- Eu te amo! Cansei de ficar olhando ele lhe roubar de mim! Não cases com ele, Mariana!
- Eu não tenho saída! Disse ela chorando, andando de um lado para o outro com o dorso da mão na boca.
- Lembras que se nosso amor fosse proibido, nós fugiriamos?
- Sim...
- Então, vamos fugir! Podemos ir para a província de Natal! Ninguém nos acharia!
Mariana sorriu mas ficou temerosa com isso. Era uma escolha que não teria volta e ela poderia arrepender -se depois.
- Antônio...
- Por favor! Não digas que não vais! Sabes que nosso amor é forte para ficar preso aqui nesta casa... Sabes que estarás assinando tua prisão perpétua se casar com ele...
- Não é uma decisão fácil! E meu pai? E minha família?
- Eles jamais permitiriam que ficássemos juntos... Fugiremos! Vamos lá! Viveríamos felizes para sempre, casariamos escondido! Eu posso arranjar emprego na província. Não passarias necessidades... Claro que não tenho o mesmo que o conde mas tenho algo que ele não tem... O teu amor.
- Preciso pensar sobre isto, Antônio. Afinal, é a decisão de abandonar meus pais.
Ela saiu deixando-o sem palavras. Ele sentia que de alguma forma ela havia sido ameaçada pelos pais a não desistir do conde. Ele sabia bem que ela o odiava, não havia motivos para permanecer com ele a não ser pela família.
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O Conde de Lajes
ChickLitPrimeiro livro da série: Romances do Império. No Brasil imperial, o recém condecorado Conde, Alexander, se muda de Nova Friburgo, para a pequena cidade de seus pais, Lajes. Lá, ele conhece Mariana, a ultima filha solteira de um Fidalgo, que desperta...