Era hora das Damas descerem ao salão principal, para se juntar aos Cavalheiros na sala de visitas inferior. Mariana foi a última a entrar. Estava deslumbrante com um vestido de seda rosa pétala e luvas brancas. Alexander se levantou quando a viu, não conseguiu pensar e mulher mais bonita que aquela que estava vindo em sua direção. Ele via que ela não estava nada feliz com a notícia, mas ele tentaria mudar esta situação.
Quando Mariana se colocou a sua frente, o Fidalgo anunciou para todos os presentes que o noivado seria oficializado. Alexander havia tirado do bolso uma pequena caixa de veludo azul marinho, a abriu e dentro havia um lindo solitário de rubis. Ele retirou a jóia da caixa e estendeu a mão esperando Mariana a entregar.
A família toda esperava pelo momento para que pudessem contar a todos da cidade que sua Filha seria Condessa.
Alexander sussurrou para ela.
- Vamos, não seja mal educada...
- O senhor me enoja! Ela sussurrou de volta com um sorriso fingido para que ninguém notasse o que se havia sussurrado. Ele apenas ergueu uma das sobrancelhas e deu um meio sorriso, debochando dela.
Enfim, sob os olhares de alarme e ameaça de seu pai, Mariana de mal grado estendeu sua mão para Alexander. Ele gentilmente colocou o solitário e estava oficializado. Mariana era comprometida a partir daquele momento e sentiu seu coração se quebrar em mil pedaços.
- Se me derem licença, irei ao toalete. Disse ela calmamente.
Ao chegar no toalete do andar de cima, ela se derramou em choro. Olhava pro anel e cada vez que o via mais chorava. Sentia estar traindo seu amado Antônio, sentia-se tão impotente... Ela sentia uma dor que nunca havia sentido antes. A dor da tristeza... Sentia-se tão sem voz para opinar, para recusar e tudo o que podia fazer naquele momento era chorar.
No andar de baixo, todos muito felizes conversavam e planejavam enquanto Alexander só fingia ouvir e se perguntava por que ela demorava tanto.
E, finalmente, ela desceu. Ele pôde notar que estava chorando, não por sinais visíveis como vermelhidão no nariz ou lágrimas, mas um leve inchaço quase imperceptível abaixo da sobrancelha. Ninguém mais percebeu. Ele também nada disse, compreendia perfeitamente o que ela estava sentindo, mas tinha esperança que os sentimentos dela mudassem. Todos se dirigiram para a sala de jantar acompanhados de seus pares. Alexander ofereceu o braço a Mariana que o recusou orgulhosamente, seguindo sozinha á frente dele.
Alexander não se ofendeu. Como sempre, a achava intrigantemente atrevida, ele adorava isso.
Sentados a mesa de jantar, o fidalgo indagara a Alexander como iriam dar a notícia, sem que Coronel Leôncio, que queria muito tê-lo como genro, ficasse furioso com ele.
- Sabe, Conde? Ele é o sócio mais importante dentre meus investidores, e estando ele com raiva, não acha que cortará laços comigo?
- Perfeitamente. É claro que vossa senhoria corra este risco, visto que o coronel não sabe separar o trabalho e as relações pessoais.
- E o que acha que devo fazer? O senhor deve ter alguma experiência nestes casos...
-Claro! Tomarei as rédeas desta causa, Fidalgo, pode ficar sossegado! Garantiu Alexander.
Observando a família da sua noiva durante o jantar, ele presumiu muita coisa sobre eles. Para o Fidalgo e sua esposa tudo o que importava naquilo eram os status e o bom casamento arranjado pra sua última filha solteira. Alexander presumiu, através do comportamento das duas irmãs casadas, que elas tinham uma pontada de inveja de Mariana. Possivelmente com tanto prestígio de uma Condessa, deixaria muitas moças assim. Enfim ele observa o comportamento de Mariana.
Ela é educada, gentil e sorridente com a família. Mas com ele, ela se torna totalmente fechada e grosseira. Alexander complicou a relação dos dois tendo zombado da escrava dela, e não tendo pedido desculpas quando se esbarraram, mesmo ele não estando errado. Ele queria ser motivo de pelo menos um sorriso daquela moça, porém ele teria que batalhar muito pra vê-lo.Mariana não estava nada feliz como sua família. O que ela não fazia pela honra de seus pais? Ela almejava, naquela mesa de jantar, ter voz para recusar quando bem entendesse, o pedido do Conde. Mas ela era mulher. Que voz tinha ela? Que importância tinha os sentimentos dela? Nenhum.
Ela observa o Conde. Os interesses dele estavam acima de qualquer mísera vontade dela. Sinceramente, não esperaria milagre algum vindo dele. Ela acreditava que ele era um fútil nobre de Nova Friburgo, tão grosso quanto qualquer homem vil e tão galinha quanto seu amigo, o Imperador do Brasil. O que ela poderia esperar? Apenas noites sozinha, sabendo que não seria a única mulher, sendo posta para trás para obedecer alguém tão rude que ri de seus ideais.
O casarão dos Portelli estava silencioso, visto que duas sinházinhas haviam se casado tendo apenas uma também prestes a unir-se em matrimônio.
Mariana não descera para nada, havia ficado em seus aposentos. Para preocupação de seus pais, também não comeu nada, nem o que Amélia havia levado e insistido para que a menina comesse.
Sebastiana subiu para conversar com a filha.- Minha filha?
- Sim, minha mãe.
- Querida! Por quanto tempo pretende ficar isolada aqui dentro? Nem comeu nada.
- Perdoe-me, eu não consigo engolir... Esta história...
- Meu bem, Nós somos mulheres. Quem dera que tivéssemos poder para dizer o que queremos fazer, com quem queremos casar... Se queremos casar... Lembro-me que eu não era diferente de você quando tinha sua idade. Também bati o pé quando teu pai me foi designado. Mas aprendemos a nos amar depois que casamos. Não desonre teu pai, Mariana. Ele está tão contente, todos nós estamos...
Mariana nada disse, apenas encolheu-se mais na cama como uma criança com medo. Como ter esperanças quando está claro que ele não serve?
Quando passou a descer e conviver novamente com os outros ambientes da casa, Mariana pode notar a frieza no olhar de Antônio. Eles não haviam se falado desde o noivado dela. E cada vez que Mariana tentava falar-lhe ele a ignorava. Isso dava nela uma grande vontade de chorar, para não fazê-lo na frente dos pais, passou a chorar antes de dormir.
Refletia sobre tudo durante as noites e chorava muito, não só por ter perdido Antônio, mas também por ter aquela coisa brilhante vermelha em seu dedo, aquilo a apavorava tanto quanto a enojava.
Certo dia da semana seguinte, João já a havia avisado sobre o que havia para ela durante todo o dia.
Sentados todos na varanda, avistaram bem de longe a bela carruagem com os dois cavalos de raça a caminho.- O Conde está vindo fazer-lhe a corte, minha filha. Comporte-se, e nem pense em tratá-lo mal!
- Que seja o que o senhor deseja, meu pai. Mas não tolerarei grosserias da parte dele!
Disse a moça já se levantando na defensiva.
- Tenho a plena certeza que ele não é grosseiro como diz. Então se ele sair ofendido saberei que foi de sua parte, portanto comporte-se!
A carruagem se aproximava rapidamente e enfim estacionava a frente da grande escadaria da Casa Grande. Mariana observava a beleza da carruagem, com rara beleza era até impossível não saber de quem era. Percorrendo os olhos sobre a carruagem ela o vê. Tão bem trajado como sempre, belo, como nenhum outro rapaz de Lajes era. Ele estava sorrindo para ela, um sorriso magnífico, porém sabia ela que toda aquela beleza era capa de cordeiro sobre um lobo, ela não conseguia simpatizar-se com ele, com todos os atrevimentos de sua parte, como poderia amá-lo algum dia?
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O Conde de Lajes
ChickLitPrimeiro livro da série: Romances do Império. No Brasil imperial, o recém condecorado Conde, Alexander, se muda de Nova Friburgo, para a pequena cidade de seus pais, Lajes. Lá, ele conhece Mariana, a ultima filha solteira de um Fidalgo, que desperta...