Semanas depois, passado o casamento de Maria Cristina com o filho do Coronel, Antônio Macedo, o Conde se confinou em sua residência. A Cidade entrou numa calmaria, mesmo ainda havendo mexericos sobre sua pessoa.
Alexander não tinha apenas voltado pra descansar, ou ver a herança que lhe tinha sido deixada. Ele estava em busca de algo. Um item que poderia provar algo muito importante: As jóias de sua mãe. Quando Alexander era pequeno, fazia infindáveis perguntas ao seu pai sobre sua mãe e como ela se foi. Tudo o que seu pai lhe dizia era que ela fora assaltada e levaram todas as jóias da casa. Quando ela se foi, seu pai disse que jamais pisaria em Lajes novamente e no seu leito de morte o proibiu de vendê-la. Ele apenas precisava saber o porquê João Carvalho não queria o deixar vender, e onde estavam as jóias, se as encontrasse, encontraria o assassino de sua mãe.
Dentre vários diários de seus pais, ele buscava algum fato, ou acontecimento do dia. Mas ao virar a página do segundo diário, ele vê algo que não sabia sobre seu pai.
João Carvalho fazia parte de uma seita secreta que aumentava sua influência na cidade e aquilo com certeza envolvia algo muito criminoso.
Alexander precisava pesquisar sobre isso mais tarde, precisava saber que seita era aquela que seu pai havia entrado.***
Os dias foram se passando e chegou o dia em que João Clemente deveria contar a sua filha da notícia de que ela estava noiva. No jantar no qual só haviam Sebastiana, João e Mariana a mesa. Ele quebrou o silêncio para contar a notícia. Antônio estava servindo o copo de seu patrão quando o mesmo disse.-Hoje faremos um brinde!
- A quê, meu pai?
- A você, minha filha!
Antônio olhara para Mariana com um orgulho discreto. Sebastiana sorria orgulhosa para seu marido e filha.
- Sabe, Mariana, Eu nunca achei que você fosse ter um futuro digno da nobreza de Nova Friburgo...
Mariana por algum motivo se alarmou. Largou o garfo e indagou, temerosa que fosse o que ela estava pensando.
- Que quer dizer com isso, meu pai?
- O conde...
- Não!
- Sim! Ele lhe pediu a mão.
Mariana olhou para Antônio discretamente e o viu se retirar, óbvio que ele estava chateado.
- Não, meu pai! Por Deus! Ele não pode casar comigo!
- E por que não, Dona Mariana? Disse seu pai já chateado.
- Porque eu não o amo!
- Amor? Menina tola!
- Mariana... Disse Sebastiana mais calma. - Não se trata de amor, se trata do seu futuro, da honra de teu pai...
- Eu sei que ele é o mais rico aqui e influente agora, mas ele é um rude! Ele zombou da Amélia...
- Ora! não é isso que ouço das moças que estiveram na companhia dele. E cá entre nós, Amélia é uma escrava.
- Meu pai! O senhor sabe que ela é minha amiga...
- Eu sei, minha filha, mas não é esta a questão!
- Papai, eu não vou...
- Vai! Está noiva do Conde e não pode mais fazer nada! Decretou João Clemente, dando um soco na mesa.
Mariana levanta-se da mesa e sobe para seu quarto aos prantos.
O casal se entreolha e João Clemente coloca a mão na testa.
- Estava demorando para uma das três dar trabalho.
- Irei conversar com ela, meu querido!
Sebastiana entra no quarto da filha que está deitada na cama ainda chorando.
- Oh! Minha filha! Tinha mesmo que recusar uma proposta tão boa?
- Mamãe, ele não serve pra mim! Não é com ele que eu sonhei em me casar...
- Eu entendo. Mas não haverá outro pretendente tão bom quanto este se o recusar. Não espera casar por amor, não é?
- Sim, eu espero!
- Ora, Mariana! O amor não sustenta família! Não traz status... O que quero lhe dizer é que você aprende a amar a pessoa.
- Não adianta aprender a amar e amar sozinha.
- Ah! Tenho a certeza que não estará aprendendo a amar sozinha neste noivado.
- Só acreditarei que poderei aprender a amar quando ele o provar!
- Então está decidido! Está noiva! Verá que, com as cortes, ele não é rude como pensa.
Já se passavam das dez da noite e Mariana ainda não havia conseguido dormir, estava com várias coisas rondando sua mente. O que diria a Antônio? Ela havia prometido esperar por ele e era ele quem ela amava. Ele se retirou zangado com a notícia... Como poderia olhar no rosto bonito e zombeteiro do Conde, ele estava sempre lhe tirando do sério, como amar alguém que ri de você?
Por que ela? Belinha sempre dizia que iria se casar com ele e virar Condessa e o que diria a sua amiga sobre esta virada de página? Mariana seria a culpada com certeza... Como poderia se portar bem e aceitar o anel de noivado daquele ogro, quando a vontade que se tem é de esbofeteá-lo?***
O jantar de noivado foi fechado. Ninguém sabia que o Conde estava prestes a noivar, a esperança dentre as jovens ainda reinava.
No início da tarde, seria oficializado.Antes de sair de casa, Mariana tentou dialogar com Antônio. Na despensa, como sempre ela o encontrou sentado e cabisbaixo.
- Antônio...
- Não precisa dizer mais nada! Você não teve culpa. Não pode escolher com quem se casar...
- Eu sinto muito... Mas sabe que eu odeio o Conde e...
- Sei que vai casar com ele! Por que a vida é tão injusta? Mais 4 meses, Mariana! 4 meses e eu poderia desposá-la! Então vem este cara de Nova Friburgo e coloca todos aos pés dele. Até o coronel Leôncio está fazendo tudo por ele e leva o que tenho de mais precioso.
- Eu não tenho escolha! Disse Mariana chorando.
Antônio a abraça e a consola.
- Eu não desistirei de você tão fácil, mas não pensenque meu coração está inteiro. Disse ele ao deixar ela sozinha na despensa.
***
No Palacete dos Carvalho, que por insistência de João Clemente, seria a sede do evento, os empregados corriam de um lado para o outro organizando a sala de jantar de forma a ficar agradável aos olhos de seus convidados.
No andar de cima, na sala de visita superior, estavam Mariana, Ana Francisca, Maria Cristina e Sebastiana. Todas muito contentes tentando animar, em vão, a nova noiva. Mariana não havia dito uma palavra à elas desde que acordou naquele dia, era o dia mais triste de sua vida. Estava pra noivar com o homem que mais odiava, e olha que não odiava ninguém.
Quebrou sua promessa com Antônio e o machucou. O que faria ela agora? Aceitar o anel sorrindo? Claro que não! Havia algo nele que ela não gostava, ele ria dela, era rude e sempre irônico quando se encontravam. Não sabia como conseguiria sobreviver a ele.
No andar de baixo estavam João Clemente, seus dois Genros José e Antônio Macedo, e o seu Anfitrião, Alexander. Eles falavam de negócios e investimentos afim de atrair o interesse de investimento do Conde em suas posses.
Alexander estava sentado em sua poltrona de veludo preta, fingindo estar ouvindo toda a conversa dos cavalheiros. Por sinal, fingia muito bem. Ele estava bem longe, imaginado o que deu nele para escolher a filha do fidalgo, tão depressa, talvez estivesse encantado com a beleza da jovem, ou talvez encantado com o atrevimento dela. Já não se importava mais com o porquê de sua escolha, ele só pensava agora em conquistar a garota, trazê-la para seu lado. A investigação sobre a morte de sua mãe e o que havia na casa poderiam esperar... Ele precisava fazer com que Mariana o amasse.
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O Conde de Lajes
ChickLitPrimeiro livro da série: Romances do Império. No Brasil imperial, o recém condecorado Conde, Alexander, se muda de Nova Friburgo, para a pequena cidade de seus pais, Lajes. Lá, ele conhece Mariana, a ultima filha solteira de um Fidalgo, que desperta...