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— Finalmente você chegou — foi a primeira coisa que eu escutei assim que cheguei na recepção do hospital.

Eu estava em estado de choque. Não conseguia falar nada desde que entrei na ambulância e vi o quão mal ela estava.

Eu também não estava nada bem, estava sangrando por causa de um leve corte na cabeça e meu braço latejava. Mas eu estava tão mal por ela que simplesmente ignorei tudo isso.

— Shawn? Shawn? — Lauren me cutucou e logo olhei pra ela. Seu rosto estava vermelho e os olhos denunciavam que estava chorando há pouco tempo atrás.

Assim que eu olhei em sua direção ela não falou nada e abraçou, como uma forma de me confortar de dizer que tudo ficaria bem.

— Onde ela está? — Luke perguntou.

— Foi direto para a sala de cirurgia. O bebê vai nascer, e depois disso eles vão cuidar dela.

— Meu pai pegou um vôo, ele está chegando — e pensar na possibilidade de explicar tudo isso para o meu sogro... não vai ser nada bom.

— Porque não foi se cuidar também? — Gilinsky perguntou — Você também está ferido.

— Não, eu estou bem. Só preciso respirar um pouco.

Eu falei e eles assentiram. Eu precisava me acalmar, talvez... Talvez se eu fosse para a ala da maternidade onde ficam os bebês recém nascidos esperando para o meu chegar ali fosse me acalmar.

Fechei os olhos e respirei fundo, minha cabeça doía tanto. Me levantei e pelo menos ninguém me seguiu, e eu peguei um copo de água e fui seguindo as placas até chegar no corredor.

Havia tantos bebês vindo com as enfermeiras que eu imaginava quando o meu chegaria e minha ansiosidade aumentava à cada momento. Eu queria tanto saber logo se era menino ou menina, se ele se parece mais comigo ou com a Camila.

— Qual desses é o seu? — escutei uma voz feminina me tirando dos meus pensamentos.

— Ele não está aqui ainda — eu disse assim que olhei e vi uma morena do meu lado. — E qual é o seu?

— O mesmo que você, minha namorada está na sala de parto. Só que já vai fazer duas horas e eu estou começando a ficar preocupada — ela confessou. — Então eu vim aqui só pra me acalmar.

— É, eu também... — falei — mas ei, não se preocupe, é normal demorar assim mesmo. Tenho certeza de que a sua namorada e seu filho também. — ela sorriu fraco.

— Nossa, o que aconteceu com você? — ela se preocupou assim que me encarou melhor e viu meu estado.

— Nada demais, só um acidente.

— Bom, eu acho que você deveria fazer um curativo, não tá muito legal...

— Acredite, você não é a primeira a falar isso.

— Bom, então acho que você realmente deveria ir — ela riu fraco tentando amenizar.

Senhora Shellstrop? — escutamos a voz de um médico no final do corredor, e ela se virou.

— Sou eu, acho que finalmente meu bebê nasceu — ela disse pra mim sorridente e eu acenei em despedida, me sentando em uma poltrona ali próximo e era inevitável ver a situação perto de mim.

A mesma moça que conversava animadamente comigo e que saiu com um sorriso enorme no rosto, não parecia a mesma que estou vendo agora, com seu sorriso se desmanchando aos poucos enquanto conversava com o médico. Ela recebeu uma notícia ruim.

Continuei prestando atenção e foi aí que escutei o médico dizer que tinha tentado tudo, mas o bebê não resistiu. Ela havia perdido seu filho. Ela começou a gritar e chorar bastante, era uma situação tão agonizante que eu queria poder fazer alguma coisa por ela. O médico tentou acalmá-la e então ela pediu para ver a namorada.

Eu não consigo imaginar pelo que ela está passando. Ver aquela cena me deu um aperto no coração, me fazendo querer entrar na droga da sala de cirurgia só pra ter certeza se estava tudo correndo bem.

Resolvi que seria melhor dar um jeito no meu estado e depois voltar para a recepção com o resto dos meus amigos.

• • •

Cinco horas e trinta e dois minutos, exatamente, que ela tinha entrado naquela sala e eu não recebi notícia nenhuma desde então. Já deveria ser aproximadamente uma da manhã, e as horas pareciam estar se arrastando.

Eu juro que tentava fechar os olhos, nem que fosse por um minuto que seja, mas eu não conseguia, por causa de toda essa tensão, além do fato de eu ter quebrado o braço fazendo com que eu não ficasse tão confortável assim.

O pai da Camila tinha chegado há tempos, mas estranhamente eu ainda não tinha visto ele. O resto do pessoal ainda estava ali, eu mesmo tinha pedido para que eles voltassem para descansar, mas quiseram permanecer ali comigo.

Aproximadamente trinta minutos depois, nem o café que eu tinha tomado fazia mais efeito, e foi quando eu estava prestes à enfim pregar os olhos, Lauren me cutucou depois de levantar rapidamente, dizendo que o médico queria falar conosco, e meu nervosismo nesse momento não podia estar pior. Só eu e ela nos levantamos e fomos de encontro ao médico.

— Bom, como vocês sabem o estado da senhorita Cabello não é um dos melhores. Ela teve uma fratura na perna, mas nada muito grave. O que realmente nos preocupa é a lesão cerebral.

— Me desculpe? — eu não podia estar escutando isso mesmo.

— Ela sofreu um traumatismo craniano, com perda de massa encefálica. Com isso, ela acabou entrando em estado de coma por tempo indeterminado. Ainda não sabemos as sequelas, mas isso é apenas com o tempo.

Eu estava atônito, sem saber o que dizer ou como agir. Eu simplesmente estava parado sem reação alguma, tudo o que eu mais queria era gritar até não ter mais voz. Como isso pôde acontecer e eu não fiz nada?

— E... e a criança? — Lauren perguntou tentando parecer firme.

À essa altura eu só esperava que ao menos nosso filho estivesse bem.

— De fato, o bebê estava sim preparado para nascer. Com todo o impacto do acidente, ele acabou sendo prejudicado... Não tínhamos mais o que fazer, ela já nasceu sem respirar. À propósito, se quiserem saber, era uma menina. — eu não podia mesmo estar escutando isso.

Tudo o que eu tinha, eu consegui perder em questão de horas. Tudo porque eu estava chateado e me importando demais com a droga do pedido de casamento. Tudo o que eu precisava era não ter brigado com ela, e ter prestado atenção na porra da estrada.

Eu consigo estragar tudo. Eu perdi minha filha. Uma menina. Eu ia ficar tão feliz em dizer para Camila que eu estava certo sobre o sexo do bebê e que sim, o nome dela seria Chiara como ela queria. Mas nem nossa filha temos. E dada a situação, eu não tenho certeza se Camila vai continuar conosco.

A sensação que eu tive assim que ele disse foi a pior do mundo. Eu olhei para o lado e vi Lauren destruída, sem dúvidas eu jamais a imaginaria assim. Ela só virou para trás chorando pra abraçar o namorado.

E só segundos depois ela me puxou para um abraço onde eu não consegui me segurar. Eu nunca chorei tanto na minha vida.

Agora sim, eu entendia perfeitamente a dor daquela mulher mais cedo. E eu garanto que é uma das piores coisas que já senti.

— Você vai pra casa agora com seus amigos, deveria descansar. Qualquer coisa nós ligamos. — o pai da Camila disse depois que o médico saiu, provavelmente ele e Luke já receberam a notícia bem antes de nós.

Eu tentaria até dizer que não, pois continuaria ali até liberarem o horário de visitas, mas eu estava tão acabado e perplexo com tudo que nem disse nada, além de que eu sei que neles eu realmente posso confiar.

stalker ❀ sm+ccOnde histórias criam vida. Descubra agora