One

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       Existem dias de sorte e dias em que tudo da errado, infelizmente eu parecia ter acordado com o pé esquerdo naquela manhã. Talvez quebrar minha caneca favorita e bater o mindinho no móvel da sala, fosse um sinal do céus para que eu ficasse em casa, infelizmente não ouvi.

     O céu estava nublado, o trânsito não estava dos melhores mas convenci a mim mesma de que assim que chegasse ao escritório, tudo correria bem. Liguei o rádio e selecionei minha pasta com minhas músicas favoritas, precisava me animar.

       Resolvi fazer um trajeto diferente, meu grande erro, pensei que assim ia evitar o trânsito. Gee do girls generation começou a tocar e apesar de amá-las, não estava no clima para todo aquele baby baby.

      Olhei a pista, ainda estava longe do semáforo,  me abaixei para trocar a música e quando me levantei dei de cara com um rapaz atravessando a rua com um violão, o sinal tinha fechado.

   — Merda! — Pisei no freio torcendo para que fosse parar a tempo.

     Ouvi o baque e me perguntei o quanto aquele dia ainda poderia piorar. Tirei o cinto de forma apressada, droga de dia, droga de freio, maldito garoto burro!

     Ele estava caído em frente ao carro, o violão que  tinha em mãos voou para alguns metros a frente. O rapaz por outro lado  apenas caiu como um saco de batatas no chão.

    Seus cabelos estavam tingidos de vermelho e a camisa de botões numa estampa azul, junto com a corrente prateada no pescoço, faziam parecer que ele tinha saído de um filme clássico dos anos 80.

   — Ei, garoto? — Chamei vendo que o mesmo parecia congelado.

    Não obtive respostas o que me levou a pensar que ele estava mais machucado do que parecia.

     — Você...

    — Não encosta em mim. — Foi rápido em se esquivar da minha mão. — Você me atropelou!
   
   É, eu sei.

    — Foi um acidente. Precisa de um hospital? — Me abaixei ao seu lado.

     A pele pálida em seu braço possuía um arranhão feio, principalmente no cotovelo, devia estar doendo bastante. Sua expressão de desespero me deixou preocupada. Por que ele estava agindo assim? O garoto parecia num estado de transe.

     — Eu não acredito. — Seu tom de puro choque me deixava confusa. — Hospital não, aish o que eu vou fazer?

     — Hum, as pessoas estão começando a olhar, sai da pista, eu te levo a emergência ou quem sabe...
  
   — Não precisa. — Se levantou com um protesto dolorido e seguiu até o violão. —  Isso aqui custou caro sabia?

      Massageei as têmporas, tudo o que eu não tinha no momento era dinheiro para um violão novo, muito menos para um processo por atropelamento. Recorrer aos meus pais estava fora de questão, quando saí de casa, prometi a mim mesma que não dependeria mais do dinheiro deles.

    — Só entra no carro, preciso sair da pista. — Suspirei, as coisas não estavam melhorando. — Nós podemos resolver tudo isso numa boa.

   Seu olhar de desprezo me fez engolir em seco, no entanto o esquentadinho de cabeça vermelha me seguiu. Ok, ele tem razão de estar chetado, mas foi um acidente e eu estava disposta a resolver da melhor maneira possível.

    — Você tem plano de saúde? — Segui com o carro e parei no acostamento a frente.

   Para meu azar, o ruivo resolveu desviar da minha pergunta.

    — Sempre coloca estranhos no seu carro? — Semicerrou os olhos.

   — Apenas os que eu atropelo friamente — Sorri cínica — Você que atravessou na hora errada.

    — O sinal tinha acabado de fechar! — Bufou pressionando o ferimento no braço. — Me deve um violão, eu preciso dele para trabalhar.

     — Não quer mesmo uma carona para o hospital? Pode ter quebrado algo.
  
    Muitas vezes na hora do acidente a vítima não sente nada demais, mas exames mostram ferimentos internos.

       — Nada de hospital. Quero outro violão. — Ele estava irredutível.

    — Olha...qual seu nome mesmo?

    — Baekhyun.

    — Ok, Baekhyun. Eu não tenho aqui o dinheiro, se você me der seu contato eu te entrego um assim que conseguir.

    Meu dia de pagamento ainda estava longe, de onde eu ia tirar o maldito dinheiro? Poderia ligar para o meu pai, mas contar a história do acidente o faria pensar que sou uma irresponsável.

   — Preciso dele, para hoje. Agradeça por eu não chamar a polícia. — Seu sorriso cínico me irritava.

    Aigo, o que eu vou fazer?

    15 minutos depois lá estava eu, numa loja de artigos de música, usando o cadastro da minha melhor amiga para pagar o violão. Baek parecia impaciente e não parava de olhar o relógio, quando ele começou a tossir pensei que teria sido melhor ir ao hospital mas a idéia foi rejeitada mais uma vez.

   — O que desejam não tem mais no estoque. — o vendedor informou.

Ai não.

    — Alguma previsão de quando chega? — Quase choraminguei.

    — Desse modelo apenas mês que vem. — O vendedor nos encarou.

   — Viu o que você fez? Nunca te ensinaram sobre dirigir com cuidado? — Baekhyun esbravejou.

  Nunca te ensinaram a olhar antes de atravessar?

   — A culpa é minha se não tem mais no estoque? — Rolei os olhos.

   — Eu preciso trabalhar. — Passou a mão pelos cabelos, o ferimento ainda parecia horrível.

    — Não serve outro modelo?

    — Provisoriamente sim, mas ainda quero outro igual, trabalhei muito pra comprá-lo. — Tossiu cobrindo a boca com a mão.

   — Que seja. — Engoli em seco. — Pega um baratinho e depois eu te dou o que devo.
 
  E lá se vão parte das minhas economias.

      Assim que finalizei a compra, Baekhyun me deu seu contato e deixou claro que não ia esquecer de me cobrar. Meu dia estava péssimo e ainda não era nem 10 da manhã.

    ***

     — Meu dia foi horrível, eu espero que você saiba onde está indo. —  Comentei enquanto retocava o batom no espelho do carro.

    — Esse bar está virando o queridinho dos jovens —  Haerim comentou. — Tudo o que você precisa é de uns drinks para relaxar.

     Passei o dia inteiro me perguntando se o tal Baekhyun tinha ficado bem mesmo, eu não queria ser a causa da morte de ninguém. Nem mesmo daquela criatura irritante.

    Como Haerim disse, o bar estava mesmo cheio de jovens. O local possuía uma luz amarelada e mesas redondas de madeira. As paredes tinham um aspecto rústico e eu imaginei as fotos que poderia tirar ali.

    Nos sentamos num dos poucos lugares vagos, eu tinha acabado de pedir um drink quando notei que as luzes do palco ao fundo foram acesas.

   — A música daqui é muito boa. — Haerim comentou.

   — Eu não acredito nisso! — Meus olhos estavam fixos no músico que acabava de ajustar o microfone.

   Ninguém menos do que Baekhyun.

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Haseul devia ter ficado em casa.

Baek de cabelo vermelho é meu ponto fraco.

Por que ele evitou o hospital?

Espero que gostem da fic.

𝐅𝐎𝐑 𝐋𝐈𝐅𝐄 ➵ 𝑩𝒂𝒆𝒌𝒉𝒚𝒖𝒏Onde histórias criam vida. Descubra agora