𝐅𝐎𝐑 𝐋𝐈𝐅𝐄 ➵ 𝑩𝒂𝒆𝒌𝒉𝒚𝒖𝒏

Thirty

  Acordo com o toque do despertador, Baek tem um braço jogado sobre minha barriga e as pernas se entrelaçam com as minhas. Me estico de maneira cuidadosa e desligo o alarme. Não tive mais do que três horas de sono, mas não gostaria de ter passado a noite anterior de um jeito diferente.

    Me viro encarando Baek, os fios avermelhados caem em sua testa, ele está de  bruços, o rosto virado na minha direção. Gostaria de poder passar o dia todo aqui, infelizmente o trabalho me chama. 

   Traço a linha de seu maxilar, em seguida deixo que minhas mãos percorram suas costas nuas. As lembranças me atingem fazendo com que meu rosto core e eu contenha um sorriso.

    Baek compartilhou mais do que apenas seu corpo, me deixar ver suas inseguranças, foi um passo importante. Tento me desvencilhar dele sem acordá-lo, o ruivo deve estar mais cansado do que eu e pode dormir uns minutos a mais.

    Saio com cuidado, pego meu vestido jogado no chão e jogo no cesto de roupa suja. Deixo a porta do banheiro aberta, não há nada aqui que Baek não tenha visto. Encaro meu reflexo, os cabelos bagunçados e jogados para o lado, as marcas avermelhadas descendo pelo colo. Traço algumas com as pontas dos dedos, aperto os olhos fechados numa tentiva de parar as memórias.

    Entro no box, a água morna relaxa meus músculos e reduz meu cabelo a um pequeno amontado úmido. Cantarolo enquanto removo os resquícios da primeira aplicação de  shampoo, se não me controlar, todos no trabalho vão saber que algo aconteceu.

    — Haseul? — Baek tem a voz rouca e ainda um pouco sonolenta.

    — Estou tomando banho. — Fecho o registro pegando o shampoo novamente.

    Ouço passos abafados e em segundos Baek está colocando a cabeça pela porta. Ele tem um sorriso fofo e me encara como uma criança curiosa.

     — Posso me juntar? — Seus olhos estão focados em meu rosto.

    Fazem anos, desde a última vez que dividi um momento assim, o que me deixa envergonhada, é como se meu cérebro tivesse esquecido como agir.
 
    — Pode, não vou demorar.

     Volto a ensaboar meu cabelo, dando espaço para Baek lugar a ducha e se molhar. Observo suas costas, minhas unhas deixaram alguns rastros. Quando ele se vira, tento não olhar para a cicatriz, não quero que ele se sinta desconfortável. 

     — Eu amo esse cheiro. — Ele comenta enquanto eu aplico meu condicionador.

     — Frutas vermelhas, é meu favorito. — Afasto as mechas molhadas do rosto. — Quer experimentar?

    Baek assente, eu derramo uma quantidade de produto na mão e me estico, logo começando a massagear seus fios. Ele me encara com atenção o que me faz rir, mordo o lábio tentando conter o sorriso.

    — Vou ficar com seu cheiro o dia todo. — Seus lábios produzem um estalo ao beijar minha bochecha.

     — Bom que não se esquece de mim. — Penteio seus cabelos para trás com meus dedos.

    Baek segue para de baixo d'água, eu termino rápido e saio me enrolando numa toalha. Visto meu uniforme e corro para a cozinha, ainda não estou atrasada mas se continuar me distraindo com Baek, logo vou estar.

   Ele aparece usando as roupas da noite passada, enquanto termino de cozinhar o ramen, é o melhor que o tempo me permite fazer.

    — Você fica com um ar de poder, vestida assim. — Seus olhos percorrem meu corpo.

     Minha calça preta de linho é solta, a blusa creme de botões está fechada até em cima e eu ainda não dobrei a gola. O casaco azul marinho que uso por cima está jogado na cadeira, irei usá-lo junto aos meus saltos curtos.

    — Uma pena que o meu poder não passe do visual. — Suspiro. — Eu estou cansada de esperar pela maldita promoção.

    — Já tentou procurar outro emprego? — Baek põe as tigelas na mesa.

   — Meu poderia me conseguir outro, mas quero fazer isso por mim mesma.  Quero conquistar com meu próprio esforço.

     — Tenho certeza de que vai conseguir. — Seus dedos acariciam minha bochecha.

    Sorrio fraco, gostaria de ter tanta certeza assim.

   ***

   Encaro Minho pela décima vez nos últimos dois minutos. A pele cor de oliva está pálida, e os nós dos dedos começam a ficar brancos em volta do copo.

    — Você tem certeza que tá tudo bem? — Cruzo os braços.

   — Aquele desgraçado roubou meu caso. — Ele amassa o copo de plástico que antes continha água. — Eu tinha as provas, tinha tudo e...

    — Vamos com calma. — Dou um tapinha em seu ombro. — Você está nervoso demais. O que exatamente aconteceu?

    — Tem caso importante que chegou até a empresa, ainda seria decidido quem ficaria responsável. Mas eu me adiantei, pesquisei tudo e montei a melhor proposta possível. — Minho aperta as mãos em punho. — E aquele safado do Donghae foi lá, roubou minhas pastas e apresentou como dele.

    — Não tem como provar que são suas? — Ele nega. — Talvez esteja na hora de por um cadeado na sua gaveta.

     Os advogados estão sempre competindo pelos casos grandes, é preciso ganhar a confiança do chefe para receber um. Alguns funcionários como Sungjae e Joy costumam ficar com casos menores, como divórcio e causas trabalhistas. 

    — Ele adora trapacear, todos no setor vivem reclamando.

    A gestão do escritório realmente deixa a desejar, volta e meia pego os funcionários reclamando. Coisas simples acabam em confusão, justamente por não ter alguém para interferir.

   — Eu já sei o que fazer. — Pego minha caneta. — Vou precisar da sua ajuda.

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   Haseul tá pronta pra por os conhecimentos em prática.