Twelve

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   O olhar que Baek me lançou, deixou claro que existiam muitas coisas que eu não sabia.

    — Não é uma história que vai gostar de ouvir. —  Hesitação brilhou naqueles olhos. — Não é algo que eu gosto de contar."

       Ele se ajeitou na cama, o modo como se movia fazia com que parecesse frágil. Por mais curiosa que estivesse, pressioná-lo a falar, não seria bom.

    — Tudo bem, mas prometa que não vai sumir do nada. — Engoli em seco. — Tenho apenas uma pergunta.

    — Faça. — Cruzou as pernas e apoiou os braços atrás de cabeça.

    Pelo menos aquela duvida ele teria que tirar.

    — Não está com algo terminal, está?

     Por favor, diga que não.

   Não. — Baek riu fraco e eu senti sinceridade em suas palavras. — Pode ficar tranquila quanto a isso.

    — Que bom então. Está tarde, eu preciso ir. — Ajeitei meu cabelo. — Fique bem.

     — Tchau. Tenha uma boa noite.

      Apenas assenti, caminhei rápido até a porta, a maçaneta era fria contra a minha mão. Parte de mim, se sentia idiota por ter deixado o jantar da família para procurar Baek, no entanto só consegui me acalmar ao vê-lo em segurança.

   — Espera, Haseul. —  Pigarreou. — Eu vou te contar a verdade.

   Meu coração se acelerou, estava curiosa mas não queria que ele quebrasse os próprios limites. Baek parecia tenso, as mãos juntas sobre o colo, os lábios apertados numa linha fina.

   — Não precisa. Se não consegue falar sobre...

    — Vai doer, mas preciso tirar esse peso daqui. —  Sorriu fraco deixando a mão sobre o coração. —  Se puder ficar mais um tempo acordada, conto tudo.

   É claro que ficaria para ouvir, não é como se houvesse algo me esperando em casa.

   — Ok.

    Voltei e me sentei na poltrona ao lado da cama. Me perguntei se meus olhos deixavam a curiosidade e a ansiedade estampadas. Encarei Baekhyun, ele parecia perdido nos próprios pensamentos, como se ponderasse por onde começar.

   — Primeiro: se começar a me olhar com pena, eu vou proibir que venha me ver de novo. Segundo: não me dê um sermão depois. Entendeu?

     — Certo.

   Respirei fundo e tentei relaxar. Meu coração batia rápido, com a sensação de que não seria uma boa história.

     — Eu sempre gostei de música, cantar é o que me faz feliz e quando eu tinha 18 anos, uma empresa me ofereceu uma vaga. —  Ele sorriu, como se as lembranças aquecessem seu coração. —  Era uma empresa grande e eles queriam muito que eu me juntasse a eles, como a proposta era boa, aceitei.

   —  Então mentiu sobre não querer ser idol. — Completei.

   Por um segundo, minha mente viajou para longe. Podia ver Baek fazendo parte de um grupo, ele com certeza faria sucesso. Era capaz de imaginar as fãs gritando seu nome e derretendo com sua voz.

   — Não me interrompe. — Seus lábios formaram um bico. —  Eu estava treinando a quase um ano, meus pais começavam a aceitar a idéia. Meu pai queria que eu  continuasse a faculdade de direito, mas nunca foi algo que gostei de fazer. Fui contra eles e larguei os estudos. — Baek suspirou e passou a mão pelos cabelos. —  Num inverno, quando eu tinha 19 anos, peguei o carro e resolvi viajar a noite, ia visitar minha família.
    
    Algo dentro de mim soube que a história não acabaria bem. Mesmo assim, me forcei a manter o rosto calmo enquanto o olhava.

     — Tinha neve na pista, eu não deveria ter viajado com o tempo daquele jeito. Perdi o controle. O carro ficou muito machucado do meu lado, um pedaço da lataria perfurou meu pulmão esquerdo. — Baek se encolheu. — Fiquei ali, ferido, tentando não me afogar no próprio sangue e quase congelando por uma hora até ajuda chegar. Eu devia ter morrido naquele dia. Por um tempo desejei ter morrido naquele dia.

   Meu coração se apertou e eu cobri a boca. A verdade se mostrou pior do que eu pensava.

     —  Meu pulmão estava péssimo, eles conseguiram salvá-lo mas jamais seria igual. Uma infecção tornou a cicatrização pior, no fim o tecido cicatricial tornou boa parte do meu pulmão esquerdo inútil. — A frustação ficava visível em sua voz. —  O outro pulmão também foi afetado pela infecção mas ainda funciona bem, mesmo assim tive que desistir de debutar.

    — Eu sinto muito. —  Murmurei.

    — Um idol precisa de agilidade, precisa conseguir dançar e cantar ao mesmo tempo, eu jamais serei capaz de fazer isso de novo. —  Haviam lágrimas em seus olhos quando ele me encarou. —  Fiquei obcecado com limpeza depois disso.

     — Deve ser muito difícil, era o seu sonho. E seus pais?

    — Meu sonho era cantar, para o mundo todo. Agora o que me resta é aquele bar e eu nem consigo manter o fôlego por tanto tempo quanto antes. — Continuei encarando e então ele finalmente falou. — Meus pais se ressentem até hoje, pelos gastos do hospital, pelo modo como destruí meu futuro. A empresa me descartou assim que soube do acidente.

   —  Gostaria de poder fazer algo para ajudar.

   Baek ficou sozinho, rejeitado pelos pais e chutado pela empresa que um dia foi seu sonho. Não consigo imaginar quão triste deve ter sido.

    — Não me olhe assim. —  Um sorriso sorriu em seus lábios mas os olhos não pareciam acompanhar. — Ainda consigo pagar minhas contas e não estou morto. As garotas amam me ver cantando lá.

    — Pelo visto sua autoestima continua alta. — Rolei os olhos.

   — Preciso me divertir com algo. — Deu de ombros. — Elas amam quando canto a música favorita de cada uma.

   — Como sabe a música favorita de todas elas?

    — Haseul, querida, essa é uma história que vai gostar muito de ouvir. — Ele parecia um felino me encarando. — Mas só posso mostrar quando sair daqui.

   E então eu entendi do que ele estava falando.

   —  Você é um porco! —  Atirei a almofada da poltrona contra ele.

    — Você que perguntou. — A risada de Baek encheu o quarto.

   E eu gostei daquele som, de como ele parecia vivo e feliz por isso. E por mais que minhas bochechas estivessem quentes, eu me permiti rir também, algo em mim tinha se cansado de guardar mágoa pelo que não iria voltar.

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  Tá aí a história do que aconteceu com o Baek.
 

𝐅𝐎𝐑 𝐋𝐈𝐅𝐄 ➵ 𝑩𝒂𝒆𝒌𝒉𝒚𝒖𝒏Onde histórias criam vida. Descubra agora