O olhar que Baek me lançou, deixou claro que existiam muitas coisas que eu não sabia.
— Não é uma história que vai gostar de ouvir. — Hesitação brilhou naqueles olhos. — Não é algo que eu gosto de contar."
Ele se ajeitou na cama, o modo como se movia fazia com que parecesse frágil. Por mais curiosa que estivesse, pressioná-lo a falar, não seria bom.
— Tudo bem, mas prometa que não vai sumir do nada. — Engoli em seco. — Tenho apenas uma pergunta.
— Faça. — Cruzou as pernas e apoiou os braços atrás de cabeça.
Pelo menos aquela duvida ele teria que tirar.
— Não está com algo terminal, está?
Por favor, diga que não.
— Não. — Baek riu fraco e eu senti sinceridade em suas palavras. — Pode ficar tranquila quanto a isso.
— Que bom então. Está tarde, eu preciso ir. — Ajeitei meu cabelo. — Fique bem.
— Tchau. Tenha uma boa noite.
Apenas assenti, caminhei rápido até a porta, a maçaneta era fria contra a minha mão. Parte de mim, se sentia idiota por ter deixado o jantar da família para procurar Baek, no entanto só consegui me acalmar ao vê-lo em segurança.
— Espera, Haseul. — Pigarreou. — Eu vou te contar a verdade.
Meu coração se acelerou, estava curiosa mas não queria que ele quebrasse os próprios limites. Baek parecia tenso, as mãos juntas sobre o colo, os lábios apertados numa linha fina.
— Não precisa. Se não consegue falar sobre...
— Vai doer, mas preciso tirar esse peso daqui. — Sorriu fraco deixando a mão sobre o coração. — Se puder ficar mais um tempo acordada, conto tudo.
É claro que ficaria para ouvir, não é como se houvesse algo me esperando em casa.
— Ok.
Voltei e me sentei na poltrona ao lado da cama. Me perguntei se meus olhos deixavam a curiosidade e a ansiedade estampadas. Encarei Baekhyun, ele parecia perdido nos próprios pensamentos, como se ponderasse por onde começar.
— Primeiro: se começar a me olhar com pena, eu vou proibir que venha me ver de novo. Segundo: não me dê um sermão depois. Entendeu?
— Certo.
Respirei fundo e tentei relaxar. Meu coração batia rápido, com a sensação de que não seria uma boa história.
— Eu sempre gostei de música, cantar é o que me faz feliz e quando eu tinha 18 anos, uma empresa me ofereceu uma vaga. — Ele sorriu, como se as lembranças aquecessem seu coração. — Era uma empresa grande e eles queriam muito que eu me juntasse a eles, como a proposta era boa, aceitei.
— Então mentiu sobre não querer ser idol. — Completei.
Por um segundo, minha mente viajou para longe. Podia ver Baek fazendo parte de um grupo, ele com certeza faria sucesso. Era capaz de imaginar as fãs gritando seu nome e derretendo com sua voz.
— Não me interrompe. — Seus lábios formaram um bico. — Eu estava treinando a quase um ano, meus pais começavam a aceitar a idéia. Meu pai queria que eu continuasse a faculdade de direito, mas nunca foi algo que gostei de fazer. Fui contra eles e larguei os estudos. — Baek suspirou e passou a mão pelos cabelos. — Num inverno, quando eu tinha 19 anos, peguei o carro e resolvi viajar a noite, ia visitar minha família.
Algo dentro de mim soube que a história não acabaria bem. Mesmo assim, me forcei a manter o rosto calmo enquanto o olhava.— Tinha neve na pista, eu não deveria ter viajado com o tempo daquele jeito. Perdi o controle. O carro ficou muito machucado do meu lado, um pedaço da lataria perfurou meu pulmão esquerdo. — Baek se encolheu. — Fiquei ali, ferido, tentando não me afogar no próprio sangue e quase congelando por uma hora até ajuda chegar. Eu devia ter morrido naquele dia. Por um tempo desejei ter morrido naquele dia.
Meu coração se apertou e eu cobri a boca. A verdade se mostrou pior do que eu pensava.
— Meu pulmão estava péssimo, eles conseguiram salvá-lo mas jamais seria igual. Uma infecção tornou a cicatrização pior, no fim o tecido cicatricial tornou boa parte do meu pulmão esquerdo inútil. — A frustação ficava visível em sua voz. — O outro pulmão também foi afetado pela infecção mas ainda funciona bem, mesmo assim tive que desistir de debutar.
— Eu sinto muito. — Murmurei.
— Um idol precisa de agilidade, precisa conseguir dançar e cantar ao mesmo tempo, eu jamais serei capaz de fazer isso de novo. — Haviam lágrimas em seus olhos quando ele me encarou. — Fiquei obcecado com limpeza depois disso.
— Deve ser muito difícil, era o seu sonho. E seus pais?
— Meu sonho era cantar, para o mundo todo. Agora o que me resta é aquele bar e eu nem consigo manter o fôlego por tanto tempo quanto antes. — Continuei encarando e então ele finalmente falou. — Meus pais se ressentem até hoje, pelos gastos do hospital, pelo modo como destruí meu futuro. A empresa me descartou assim que soube do acidente.
— Gostaria de poder fazer algo para ajudar.
Baek ficou sozinho, rejeitado pelos pais e chutado pela empresa que um dia foi seu sonho. Não consigo imaginar quão triste deve ter sido.
— Não me olhe assim. — Um sorriso sorriu em seus lábios mas os olhos não pareciam acompanhar. — Ainda consigo pagar minhas contas e não estou morto. As garotas amam me ver cantando lá.
— Pelo visto sua autoestima continua alta. — Rolei os olhos.
— Preciso me divertir com algo. — Deu de ombros. — Elas amam quando canto a música favorita de cada uma.
— Como sabe a música favorita de todas elas?
— Haseul, querida, essa é uma história que vai gostar muito de ouvir. — Ele parecia um felino me encarando. — Mas só posso mostrar quando sair daqui.
E então eu entendi do que ele estava falando.
— Você é um porco! — Atirei a almofada da poltrona contra ele.
— Você que perguntou. — A risada de Baek encheu o quarto.
E eu gostei daquele som, de como ele parecia vivo e feliz por isso. E por mais que minhas bochechas estivessem quentes, eu me permiti rir também, algo em mim tinha se cansado de guardar mágoa pelo que não iria voltar.
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Tá aí a história do que aconteceu com o Baek.
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𝐅𝐎𝐑 𝐋𝐈𝐅𝐄 ➵ 𝑩𝒂𝒆𝒌𝒉𝒚𝒖𝒏
FanfictionOnde Haseul apenas queria trocar a estação de rádio, mas acaba atropelando Baekhyun e lhe devendo um violão. Capa feita pela @aestuantic