Chapter 20

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Sexta-feira, 26 de Julho de 2013 - Bristol, Inglaterra 

"Não acredito que não nos vamos ver durante um mês inteiro" o Richard encostou-se ao meu cacifo. 

Era o ultimo dia de aulas, e para a semana eu iria voltar para a casa dos meus avós, enquanto que o Richard iria para Londres tirar um curso de desenho e a Caroline iria para França durante duas semanas com os pais. Eu iria sentir a falta deles, mas não queria ficar aqui durante as férias, claro que a minha mãe não queria que eu fosse mas ela também iria estar a trabalhar e com o meu pai de viagem outra vez, acabaria por ficar sozinha durante o verão inteiro. 

"Eu sei, mas não me apetece ficar aqui." fechei a porta do meu cacifo e ambos caminhamos em direção a entrada da escola. 

"Porque?" ele parou no meio do corredor levantando as mãos de forma dramática. Eu sorri. 

"Porque eu não quero ficar aqui sozinha." alguns alunos protestaram com a nossa paragem repentina, ele colocou o braço sobre os meus ombros e sorriu-me. 

"Quando vais perceber que nunca vais estar sozinha?" ele encostou-me mais a ele e eu sorri sentindo-me confortável com as suas palavras. 

Nunca ninguém iria perceber o meu tipo de solidão, poderia estar rodeada por pessoas e mesmo assim nunca me sentiria bem, eu sabia que esta solidão me comia por dentro, me tornava mais fria, mais eu. Podia ficar o dia todo a falar com alguém, mas mesmo assim iria sentir-me sozinha, porque ninguém é capaz de me tirar este sentimento, de me fazer sentir confortável, nunca consigo descansar a pensar que irei envelhecer com este sentimento entranhado em mim, esta era eu, solitária por dentro, vazia por dentro. Seria a única a ter este sentimento? A sentir-me assim? Não me podia queixar, já me habituei a sentir isto, a ignorar, mas haverá sempre aquele friozinho dentro de mim a alertar-me que estou sozinha. 'Nós nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos. Somente através do amor e das amizades é que podemos criar a ilusão, durante um momento, de que não estamos sozinhos.' esta frase marcou-me desde o dia em que a li pela primeira vez, ela dizia tudo, dizia tudo o que eu sentia e mais alguma coisa, talvez não fosse a única, talvez Orson Welles sentia o mesmo que eu, talvez mais pessoas sentissem. Dependia de mim própria, apenas de mim para ser feliz, para conquistar o que eu queria, porque no fim voltarei as cinzas, voltarei ao nada, ao pó.  

"Achas que os sentimentos são uma ilusão? Uma criação para nos distrair dos nossos objetivos ou talvez para nos distrair das nossas fraquezas ou mesmo criá-las? " ele olhava-me confuso. 

"Cientificamente nos sentimos prazer ou felicidade porque o nosso cérebro liberta dopamina mas eu acho que é algo para além disso, o que sentimos não pode ser um mecanismo ou uma substancia certo?"  

"Não sei, por vezes acho que é uma ilusão" Começamos a descer as escadas da entrada da escola.  

Já tinha refletido sobre este assunto, e apenas cheguei a conclusão que era tudo uma ilusão da vida, dos sentimentos, destruiriam as pessoas, uma ilusão era o que ele dizia, as ilusões tornam-nos fracos, mas sem estas pequenas ilusões as pessoas que odeiam nuca amariam, nunca sorririam. 

"Porque?" paramos no fim das escadas. 

"Porque só pode ser isso." eu olhei para ele.  

"Sofia, tudo tem o seu tempo e não te podes forçar a arranjar desculpas, vais ver que um dia vais-te apaixonar por alguém tão profundamente que ate vai parecer doentio." ele sorriu. 

"Não sei se isso é uma coisa boa." mexi com o nariz desconfiada. 

"Acredita, no fim, vai ser das melhores sensações do mundo."  

Talvez ele tivesse razão, mas não conseguia acreditar, precisava sentir isso,  que estes  sentimentos eram reais não uma ilusão.  

"Ver para crer!" sorri. 

"Não penses muito nisso, quando menos esperares algo acontecerá, só tens que te deixar levar pela maré." 

"Mas e se no final me afogar?" eu brinquei. 

"Por vezes é melhor ter 5 segundos de felicidade do que não ter nada." ele deu-me um beijo na bochecha "A minha mãe chegou, eu ligo-te mais logo." observei-o enquanto que corria em direção ao carro da mãe. 

Eu tinha medo. E se no final eu ficasse como a avó? Presa no passado, presa num amor que nunca mais voltara. Eu não queria viver presa no passado, mas também não queria viver no futuro, cheia de esperanças de que algo ou alguém me mudara, eu não quero mudar, eu não quero tornar-me numa pessoa que vai contra os meus princípios, não quero ficar 'cega', eu quero ver o me acontece, eu quero estar ali e pensar, pensar e sentir, todos os meus sentidos alerta, não quero perder-me nos sentimentos, não quero guiar-me apenas pelo coração, mas também não quero pensar demais , não quero pensar no que teria acontecido, no que poderá acontecer, no que está a acontecer. Mas será que seguir a maré era a escolha certa? No final de contas seguir a maré é o mesmo que seguir com a multidão, não me destacar por ser diferente, por ser eu. 

Olhei a minha volta, a escola estava quase deserta, mas eu continuava aqui parada na entrada da escola sem saber o que fazer, sem saber se deveria caminhar para casa ou ir para outro lugar. Não sabia o que deveria fazer. Fechei os olhos por momentos e respirei fundo. Coloquei os meus auriculares e o a voz do Billie  dos Green Day fez-me relaxar de imediato, simplesmente apreciei a musica letra da musica. Comecei a andar, não sabia aonde os meus pés me levavam mas neste momento não me importava.

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Guida quando vamos ao cinema? ha ha ha

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