Quinta-feira, 1 de Agosto de 2013 - Bristol, Inglaterra
"Porque é que eu tenho a impressão que estas a fugir de mim?" suspirei e virei-me parando de arrumar a minha mala.
"Não estou a fugir de ti, só não quero estar aqui" ele encostou-se a ombreira ainda com as mãos nos bolsos.
"Parece." ele olhou para o chão. Desde que disse ao Harry que não ia estar aqui durante o verão, ele não me largou, pensando que eu ia e nunca mais voltava, que eu o estava a abandonar. "Parece que estas sempre a viajar." ele olhou para as minhas fotos na parede.
"Isso é porque é algo que eu gosto, alem disso eu vou viajar quando acabar o ultimo ano, não quero ir logo para a universidade." voltei a focar-me na minha mala.
"Somos amigos?" ele sentou-se no meu sofá. Olhei para ele confusa.
"Sim, acho que isso já estava esclarecido"
"Então porque é que eu não sei nada sobre ti?" olhei para ele confusa. "Se fossemos amigos eu já saberia dos teus planos para o fim da escola, já saberia coisas pessoais sobre ti" ele passou a mão pelo cabelo "Para mim ainda continuas a ser um mistério." ele suspirou e sentou-se no sofá.
Seria mesmo verdade? Talvez eu nunca te tivesse dito nada pessoal, não lhe tenha falado dos meus gostos, de assuntos pessoais. Ele tinha razão, mas eu na verdade também não sabia nada dele, apenas a historia sobre os seus pais mas de resto nada demais.
Suspirei e sentei-me na minha cama "Então vais saber agora. O que queres saber?"
"Qual é a tua cor preferida?" eu ri-me e abanei com a cabeça. Ele queria mesmo saber estas coisas simples? Algo que não tivesse muito significado? Se bem que nos somos definidos pelas pequenos pormenores que no fim se tornam em grandes pormenores.
"Azul. E a tua?"
"Também. Já somos almas gémeas." ele piscou-me o olho e eu ri-me alto. "Já praticaste algum desporto?"
"Sim, eu costumava jogar futebol e basquetebol." olhei para as minhas mãos.
"Porque paraste?"
"Porque a um ano atras apercebi-me que não estava a fazer nada com a minha vida, apenas me focava nesses desportos e em nada mais. E tu?"
"Não gosto muito de desportos de equipa. Só gosto de correr." ele sorriu "Qual a tua comida preferida?"
"Não tenho, gosto de comer tudo o que me aparece a frente." ele riu-se alto "E tu?"
"Adoro lasanha"
"A minha avó faz a melhor."
"A serio?" ele olhou-me entusiasmado. eu acenei com a cabeça "Tenho mais uma desculpa para voltar a Portugal."
"Que queres dizer com isso?" olhei-o confuso. Porque é que ele quereria ir a Portugal? Até podia ser um pais bonito mas para mim já se tinha tornado um pouco maçador, talvez fosse pelo facto de eu ter vivido lá a minha vida inteira, talvez fosse pelo facto de nunca me sentir confortável na minha antiga casa, talvez fosse pelo facto de eu ter conhecido as pessoas erradas.
"Eu gostei de ir la e a tua família é fantástica."
"Eu sei que é. Mesmo que por vezes eles gostem de ser intrometidos." revirei os olhos.
"Significa que se importam com a tua vida." ele sorriu.
"Tenho mesmo que acabar de fazer as malas." levantei-me da cama olhando para ele.
"Queres ajuda? Posso dobrar a tua roupa interior se quiseres." ele levantou-se com um sorriso.
"Isso querias tu. Podes ir buscar comida." eu ri-me enquanto que dobrava uma camisola. "Continuamos com as perguntas mais logo"
A minha família era mesmo fantástica, eu tinha sorte em ter uma família grande que me acolhia sempre que eu queria. Os meus avós quando souberam que eu queria ir visitá-los eles ficaram de imediato contentes, dizendo que a casa parecia vazia. Na realidade a casa não estava vazia, mas a diferença do mês de maio para o mês de agosto devia de ser muito grande já que a família reúne-se sempre no mês de maio na quinta.
"O que queres comer?" o Harry já se encontrava na porta do meu quarto.
"Surpreende-me" sorri.
"Adoras ser surpreendida não adoras?"
"Claro, sem as surpresas a vida não seria tao divertida, no entanto sou impaciente por isso é uma combinação estranha" deixei escapar uma gargalhada enquanto que olhava para ele.
"Eu já percebi que és estranha." ele riu-se quando lhe mandei uma camisola. "Calma! Eu não disse que isso era uma coisa má." ele piscou-me o olho e saiu definitivamente do meu quarto.
Eu gostava de ser estranha, de ter os meus gostos estranhos, as minhas piadas estranhas. Nunca fui nada de extraordinário mas os meus gostos estranhos faziam com que eu aprecia-se algumas pequenas maravilhas que me rodeavam, faziam com que aprecia-se o meu dia-a-dia como algumas pessoas não faziam.
* * *
Não sabia o que colocar dentro da mala, queria levar tudo o que tinha dentro do armário, queria levar a minha maquina fotográfica, queria levar os meus livro preferidos, queria levar vídeo jogos para jogar com os meus primos, queria levar o meu portátil, queria levar o Max comigo, mas não caberia tudo dentro da minha mala minúscula.
"Já acabaste?" eu abanei com a cabeça sem olhar para a minha mãe. "Porque levas livros? A avó tem tantos, alem disso podes comprar lá novos em vez de leres esses pela décima vez."
"Mas eu gosto destes." cruzei os braços. A minha mãe tinha razão, devia deixa-los para trás, mas sinceramente não me sentia com disposição para comprar novos, eu sabia que perderia uma tarde inteira na livraria só para escolher um novo, mas não me importava se quisesse mesmo encontrar o meu próximo livro, apenas precisava de vontade. Suspirei "Talvez tenhas razão."
"Tens mesmo a certeza que não queres ficar aqui?" ela olhou-me atentamente.
"Tenho, não quero mesmo estar aqui, alem disso sabes muito bem que gosto de estar na quinta, é mais relaxante e tenho mais companhia."
"Eu percebo, só não sei o que vou fazer aqui sozinha nesta casa."
"Tu mal estas em casa, por isso, não vai ser muito mau e podes sempre ligar-me." eu sorri. Ela normalmente quando esta em casa dorme maior parte do tempo para recuperar as energias e pouco tempo sobra para ela relaxar comigo no sofá a ver televisão ou a falar. Alem disso, ela poderia ir mais vezes ter com a avó já que não ficaria tanto tempo comigo ou a 'tomar conta de mim'.
"Se vir o teu ponto de vista tens razão, podes só me fazer um favor?" ela olhou-me nos olhos esperançosa. Eu acenei com a cabeça observando cada movimento dela. "Ajuda os avós no campo ou nas limpezas. Não fiques o dia todo no sofá a ver televisão ou a ler. Ajuda-os" eu sorri.
"Não te preocupes, ajudar naquela casa sempre foi algo de estranho e divertido." ela sorriu e acenou com a cabeça concordando comigo. Como a minha família era grande naquela casa era sempre divertido ajudar e com uma pitada de estranheza. Os meus primos amontoavam-se sempre na mesma divisão a arrumar acabando por ficar quase igual, as minhas tias falavam mais do que arrumavam e os meus tios simplesmente desapareciam, o que no final acabávamos por ter que arrumar durante o dia inteiro já que passávamos metade dele a conversar ou a brincar.
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Made of ice
Fiksyen Remaja"Quando era pequena, costumava chorar por tudo e por nada. Hoje, com 17 anos apercebo-me que me estou a tornar numa pessoa fria." "Não és fria, és verdadeira" olhei-o nos olhos " é isso que mais gosto em ti" ele sorriu e foi nesse momento que perce...