Chapter 33

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Quinta-feira, 17 de Outubro de 2013 - Bristol, Inglaterra 

Respirei fundo e olhei para cima. O mapa praticamente vazio, sem viagens surpreendentes e de tirar o folego, nada de aventuras marcadas na memoria. Suspirei. Apetecia-me viajar, mas por outro lado só queria ficar neste quarto fechada. Porque sou tao indecisa? Parece que voltei aqueles tempos quando só queria estar no escuro sem ninguém, no silencio. Parecia mesmo que estava a voltar aos velhos tempos, aos piores tempos.  

Levantei-me automaticamente e desci as escadas a correr. "Mãe!" chamei por ela mas ela não me respondeu "Mãe!" falei mais alto enquanto que andava as voltas pela casa. Parei um pouco, sentia-me zonza, coloquei a mão na cabeça e fechei os olhos tentando absorver-me do barulho agudo que aumentava a cada segundo, tentei chamar a minha mãe outra vez mas não saiu nenhum som da minha boca. Abri os olhos mas apenas vi a sala a andar toda a roda e velocidade recorde. A velocidade aumentou, o som intensificou-se. Estava quase no meu limite quando tudo parou, e eu desabei por fim no chão gelado, tudo ficou escuro, não havia qualquer som, qualquer movimento, apenas paz no meio da escuridão. Já não sentia aquilo a mais de um ano, mas tudo voltou para me assombrar e eu sabia que o pesadelo ia começar.  

Permaneci ali deitada, imóvel a espera de acordar, de alguém me salvar. Não queria que eles soubessem que eu estava ali mas era inevitável. "Sofia!" uma voz masculina falou bem alto, mas eu não respondi, mantive-me quieta, mantive-me imóvel, tentei não respirar muito alto mas era impossível. Sentia-me nervosa, estava a entrar em pânico. "Sofia!" de repente ceguei completamente, alguém tinha ligado as luzes, cai completamente no desespero, comecei a rastejar no chão enquanto que me adaptava a luz daquela divisão. Estava num quarto minúsculo sozinha, com apenas uma cama e uma maquina que não sabia para que servia, o quarto era todo branco e a minha frente tinha um espelho que ocupava a parede inteira, observei-me por alguns momentos, estava com uma bata igualmente branca, estava pálida demais e o meu cabelo estava mais selvagem que nunca, parecia uma lunática. Rastejei para trás, tentando fugir daquela imagem ate que bati contra a parede gelada.  

Ouvia alguém a aproximar-se daquela divisão, os passos pesados tornavam-se cada vez mais audíveis, depois pararam de repente, olhei a minha volta, o meu quarto não tinha portas, respirei fundo de alivio. Uma fechadura foi destrancada e depois uma porta rangeu, era a porta do meu quarto, porta que não consegui ver a segundos atras. Como era possível? Estaria a enlouquecer? O homem sorriu para mim e aproximou-se de mim muito lentamente, queria fugir mas não tinha por onde escapar. "Sofia!" ele voltou a repetir enquanto que se ajoelhava ao meu lado e me tocava no braço 

"Largue-me" gritei. 

"Calma querida, só estou aqui para tratar de ti!"  

"Não! Deixe-me!" encostei-me mais a parede encolhendo-me ainda mais.  

"Não posso, tenho que tratar-te, tenho que te por normal." ele voltou a tocar-me no braço, tentou levantar-me do chão gelado mas eu ripostei. Empurrei-o mas ele nem se mexeu, empurrei-o com mais força mas foi em vão, ele sorriu "Não vale a pena Sofia, apenas colabora, é o que os teus pais querem." 

"Os meus pais? Eles nunca me fariam mal" eu gritei, sentia-me furiosa por ele mencionar os meus pais. Rangi os dentes. 

"Foram eles que te trouxeram para aqui, já não te lembras?" olhei-o nos olhos "Vês como estas? Já nem consegues controlar a tua raiva, precisas de ser tratada, alem disso, eles querem que tu mudes, querem uma filha mais carinhosa, que saiba amar." aquelas palavras incoaram na minha mente, repetidas vezes. Fechei os olhos, queria chorar mas não era capaz, queria gritar mas faltava ar nos meus pulmões, sentia-me a afogar, sentia-me a cair num abismo, no meu abismo.  

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