Terça-feira, 17 de Setembro de 2013 - Bristol, Inglaterra
Permaneci no chão gelado durante uma eternidade, não sabia se tinham passado segundos, minutos ou até horas, apenas permaneci ali quieta, não sabia se o tempo estava a passar a voar ou a passar lentamente mas dava-me a impressão que estava a passar muito lentamente. A casa de banho cheirava ao perfume da avó, cheirava a rosas com um toque pessoal dela. A minha cabeça estava entre os meus braços, apenas observava o chão branco e brilhante, agora marcado com os meus pés imundos.
Eu sabia que ele não ia vir atrás de mim, eu soube logo quando vi aquele olhar. Ele agora devia desprezar-me, achar-me uma abominação sem sentimentos, devia pensar que nunca fui amiga dele, que nunca senti amizade por ele já que não chorei pela avó, não chorei por ninguém. Não me lembrava quando tinha sido a ultima vez que tinha chorado, não me queria lembrar por quem eu tinha chorado mas lembrava-me, não sabia o porque nem quando mas sabia quem tinha sido, não queria pensar nele agora, não queria pensar em quem nunca gostou de mim, em quem me desprezou e me fez sofrer.
Fechei os olhos por alguns segundos e respirei fundo quando levantei a cabeça e observei a casa de banho, esta estava imaculada, igual. Ainda tinha algumas roupas da avó, produtos de higiene, produtos de beleza que ela a muito já não usava. Inspirei contendo o susto quando observei a banheira e vi uma mulher lá deitada, o braço dela estava fora da banheira contendo uma garrafa que quase que tocava no chão, ela observava-me.
"Quando parares de deprimir podes me ir buscar mais uma garrafa?" ela sorriu-me e bebeu um pouco mais da garrafa que tinha na mão direita.
"Não me parece que esteja em condições de beber" olhei-a seriamente.
"Eu sei quando chegar ao meu limite. Sei quando parar mas por agora só quero beber." ela olhou para a garrafa antes de voltar a beber mais um pouco.
"Porque?" encostei-me mais a porta endireitando as costas.
"Porque? Não sei. Tenho este habito de me afogar em algo antes de me afogarem." enruguei a testa. Não percebi o que queria dizer com aquilo, ela parecia falar sem sentido, sem pensar ou talvez parecia-lhe que aquilo fazia o maior sentido.
"Não percebi."
"Prefiro ser eu a magoar-me do que deixar os outros magoarem-me." ela levantou a garrafa dramaticamente "Supero melhor." ela voltou a beber. Devia levantar-me a arrancar-lhe a garrafa mas o mais provável era ela roubar-me a garrafa ou fazer um escândalo.
"Mas isso quer dizer que é uma desistente?" levantei uma sobrancelha.
"Digamos que sim, mas no fim não sou eu quem fica a rastejar atras das pessoas, a procura do tal, a tentar resolver tudo." ela suspirou "Sabes, eu encontrei o tal a alguns anos atras, sabes o que é que ele me fez? Sabes?" neguei com a cabeça "Partiu-me o coração, eu nunca tinha aberto o meu coração a ninguém, nunca deixei-me levar pela conversa dos homens e depois apareceu ele com o seu sorriso galanteador e a sua forma divertida de ver o mundo, eu apaixonei-me pateticamente." ela voltou a beber "Ele até podia ser a minha alma gémea, mas até as almas gémeas podem não resultar, foi o que nos aconteceu." ela apontou-me a garrafa "Nunca te apaixones acredita em mim, no fim não vale o sofrimento."
"Nunca me apaixonei" sussurrei, ela soltou uma gargalhada.
"Ironia da vida, eu também nunca me tinha apaixonado, não gostava de compromissos e depois ele apareceu."
"Onde está ele?" ela suspirou.
"Casou-se com outra e já têm um filho. Apesar de tudo ele preferiu ficar com ela e deitou-me fora." ela riu-se.
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Made of ice
Подростковая литература"Quando era pequena, costumava chorar por tudo e por nada. Hoje, com 17 anos apercebo-me que me estou a tornar numa pessoa fria." "Não és fria, és verdadeira" olhei-o nos olhos " é isso que mais gosto em ti" ele sorriu e foi nesse momento que perce...