Chapter 32

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Terça-feira, 8 de Outubro de 2013 - Bristol, Inglaterra 

Não sei nada. 

Não sinto nada. 

Não sou humana. 

Não sei se sou capaz de amar. 

Não sei confiar. 

Não sei viver de forma correta. 

Não sei de nada. 

Sinto-me a navegar, sem nada em que pensar, sem nada em que me preocupar. "Distrai-me" sussurrei-lhe "Faz-me sorrir e pensar em algo maravilhoso. Torna-me humana, normal. Pelo menos tenta." deixei a minha cabeça cair sobre o seu ombro e permanecemos quietos. 

Ouvia a sua respiração pesada e sabia que ele tinha as sobrancelhas bem juntas, interrogando-se sobre o que se passava comigo, mas não era capaz de olhar para ele, na verdade não queria olhar para ele, não queria ver aquele brilho no seu olhar e deixar-me entristecer por não o ter, por não ter aquela paixão, aquele calor. "Não percebi!" disse ele tentando parecer descontraído mas a sua voz rouca revelou o contrario.  

"Quero que me faças pensar em algo interessante." 

"Desculpa, mas não." ganhei coragem e levantei a cabeça e olhei-o nos olhos. 

"Porque?" 

"Por uma vez na vida quero que fiques aqui relaxada comigo, no meu sofá enquanto que eu te falo de como foi brilhante e ao mesmo tempo monótono o meu fim de semana sem ti." 

"Mas..." ele colocou o dedo indicador sobre os meus lábios, de uma forma tão delicada mas ao mesmo tempo tão desesperada que me fez permanecer em silencio e ouvi-lo.  

Ele era a única coisa em que podia pensar agora, a única luz que aparecia na minha mente, no entanto, essa luz não é suficiente para mim. Nunca vai ser suficiente, nunca vou conseguir ama-lo o suficiente, nunca vou conseguir protege-lo o suficiente, eu vou magoa-lo vezes e vezes sem conta, ate que por fim ele volte a cair na escuridão pela qual passou quando a sua mãe morreu. Vou magoa-lo com a minha falta de sentimentos e as minhas verdades nuas e cruas, isto vai despedaça-lo, ou hoje, ou amanhã, ou depois, mas vou acabar por o magoar. Eu não quero, mas será algo inevitável, ele foi feito para amar, eu não, eu fui feita para navegar neste mundo, fui feita para assistir a vida das outras pessoas enquanto que a minha permanece parada. Nunca vou encontrar o meu pico de felicidade, apenas vou assistir a ela, toda a gente me contará como a vida deles é maravilhosa e eu irei questionar-me sobre isso, vezes e vezes sem conta.  

Porque é que fui feita assim? Será que é algum teste? Será que irei conseguir passar no teste? Ou irei falhar miseravelmente? Não quero falhar, mas sei que não vou conseguir. Não tenho tanta coragem, não tenho força, não sou capaz de nada. Não posso prometer nada a ninguém pois irei falhar como falho sempre. Tenho medo de tudo, e por mais que lute nunca vou ser capaz de superar os meus medos. Não sou a rapariga corajosa e lutadora que todos pensam que sou nem nunca o serei, sou apenas uma rapariga que luta mas que esta cansada, cansada de perder.Vou cair, inúmeras vezes, apenas quero deitar-me na minha cama e dormir, ficar em paz ate que tudo acabe. Sinto-me uma cobarde por querer desistir tão depressa, mas estes dezessete anos têm sido terríveis e solitários por dentro, ninguém se apercebe e provavelmente ninguém quer saber. Talvez esteja a ser injusta, mas sinceramente não me sinto capaz de amar, não me sinto capaz de entrar num relacionamento, na realidade estou assustada disso.

Como posso viver em paz comigo própria se continuo a desiludir as pessoas que me rodeiam? Quero que a minha consciência tire férias, me deixe por alguns dias ou até semanas, não quero sentir-me culpada por magoa-los, não quero que o peso da minha personalidade caia sobre os outros e os corrompa a medida do tempo. Não quero que as minhas palavras sejam como veneno para a alma deles. Não quero que a minha presença os mate cada vez mais, que lhes roube todo o tipo de sentimentos que nutriram por mim ate que não reste nada.

"Eu bem digo, não consegues ficar muito tempo sem pensar, que se passa contigo afinal?" ele levantou o meu queixo delicadamente e fez-me olha-lo nos olhos, respirei fundo. 

"Sinto-me a navegar, sinto-me perdida." a cara dele permaneceu imóvel, espantada, e ate um pouco confusa. Foi naquele momento que percebi que ele não me compreendia, que ele nunca me compreenderia. 

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Quarta de tarde ja estou de ferias!!!! Finalemnte vou ter tempo para publicar regularmente, vao ser duas semanas intensivas a escrever... bom natal e aproveitem bem este ultimo mes... 

Made of iceOnde histórias criam vida. Descubra agora