Chapter 16

237 16 3
                                    

Sábado, 1 de Junho de 2013 - Benidorm, Espanha 

Sentia-me apertada, apertada demais. Abri os olhos e apenas vi roupa espalhada no chão. Voltei a fechar os olhos quando a luz do sol me atingiu. Quando voltei a abrir os olhos vi um braço a rodear-me, não sabia quem era, sentia-me perdida. Tentei sair por debaixo do seu toque mas foi inutilmente, ele apertou-me mais. Respirei profundamente e voltei a levantar o braço que me rodeava. Doía-me o corpo todo, sentia-me cansada. Sai da cama silenciosamente pegando nas minhas roupas. Olhei para a cama e apercebi-me que era o Harry, apesar da sua cabeça estar enterrada na almofada ainda reconhecia o seu cabelo. Fechei os olhos por uns segundos tentando me lembrar da noite anterior mas apenas imagens distorcidas surgiam. Caminhei rapidamente até a casa de banho, quando fechei a porta deixei-me cair no chão. O meu corpo quente embateu no chão gelado mas não me importei, abracei-me a mim própria.  

*Flashback on* 

"Anda lá!" o Harry insistiu mais uma vez. 

"Não sei se os meus pais me deixam." disse reticente. 

"Eles não precisam de saber. Anda lá, veste algo sexy." ele parecia não querer desistir, além disso não me apetecia ficar mais uma noite fechada neste quarto a ver televisão. Suspirei.  

"Esta bem, mas não tenho nada sexy." ele negou com a cabeça. 

"Eu vi um vestido preto na tua mala, parece ser muito sexy. Veste-o! Estou a tua espera na entrada do hotel." ele saiu do quarto sem dizer mais nada, eu deitei-me na cama e olhei para o teto. 

*Flashback off* 

"Porque aceitaste? Foste tão estupida." murmurei batendo com a mão na minha cabeça. 

Poucos minutos depois levantei-me lentamente, ainda me doía corpo, ainda me sentia exausta, ainda me sentia perdida. Liguei o chuveiro lavando o meu corpo e alma. Encostei a testa contra a parede, gostando da sensação de frescura contra a minha cabeça dolorida. Não sabia quanto tinha bebido e arrependia-me disso, arrependia-me de não ter seguido as minhas regras. 

Porque é que eu fui tão imprudente? Não sei o que fazer, não sei como enfrenta-lo, não sei se devo falar com ele ou não. Desliguei a torneira e sai. O meu corpo estava menos dolorido, mas continuava exausta. 

Vesti-me rapidamente, sempre alerta para qualquer movimento do Harry, vesti-me com o maior cuidado e rapidez que pude, não o queria acordar, não queria falar com ele. 

Caminhei sobre a calçada sem rumo, não queria pensar mais no que tinha acontecido, era obvio que tinha perdido a minha virgindade com o Harry, também seria obvio para ele quando acordasse e encontrasse os lençóis sujos de sangue. Ele provavelmente não se iria importar, já devia estar habituado. Sou apenas mais uma na sua lista interminável. Ele conseguiu o que queria e o mais provável é ele deixar de ser meu amigo. Sinto-me usada, suja. 

Nunca fui daquele tipo de raparigas que queria encontrar o amor verdadeiro e perder com ele num momento extremamente romântico. Nunca quis um quarto cheio de pétalas de flores e velas. O romance nunca fez parte de mim, sinceramente acho secante o romance, não acho piada quando os rapazes são românticos. Mas quem sou eu para falar? Não sei o que é o amor, nunca me apaixonei. Talvez seja isso que defina a minha forma de pensar, talvez seja por isso que eu não aceite gestos românticos.  Mas agora que a perdi sem deixar memorias para trás, sinto-me vazia, queria-me lembrar das dores, queria-me lembrar do prazer. Normalmente, as pessoas quereriam fugir a dor, mas eu não, eu acho que é a dor que nos torna humanos. Será que eu chorei? Será que eu fui boa? Será que eu gritei muito? Ri para mim própria. Não podia acreditar que estava a pensar nisto, devia estar a chorar no colo da minha mãe, mas aqui estou eu, a passear por ruas desconhecidas a pensar se fui boa na cama ou não. Quando é que me tornei nesta pessoa que se importa se excedeu as expectativas? Sinto que mudei e esta mudança não me esta a tornar numa pessoa melhor. 

Bati contra alguém e cai no chão. Não me levantei de imediato, fiquei no chão por alguns segundos recuperando da dor, quando abri os olhos apenas vi um homem a resmungar comigo em espanhol. Não lhe pedi desculpa, apenas me levantei e segui em frente. 

*    *    * 

Ao fim de algumas chamadas da minha mãe tive que voltar relutantemente para o hotel, não me apetecia falar com ninguém, mas não queria preocupar ninguém. Fui a ultima a sentar-me na mesa, ao lado dele. Sentia os olhos verdes dele em mim, a observar-me atentamente, a observar cada um dos meus gestos. Não olhei para ele, apenas para o meu prato ainda vazio. 

"Que se passa contigo?" a minha mãe soava preocupada. Olhei-a nos olhos. 

"Sinto-me cansada" tentei sorrir mas não tinha forças para isso. "Posso ir dormir um pouco?" 

"Mas..." notou-se na expressão da minha mãe que ela não queria que eu me retira-se. 

"Podes" o meu pai interrompeu-a "Deixa-a ir!" o meu pai olhou para a minha mãe, depois para mim. Levantei-me mas apercebi-me que o Harry também vinha. 

"Não. Eu quero ir para o quarto sozinha." ele voltou a sentar-se, não o olhei nos olhos, simplesmente retirei-me daquela sala barulhenta e abafada. 

Quando me deitei na cama ainda com a roupa vestida, senti-me confortável. Mas esse conforto desapareceu quando me apercebi que estava deitada na cama onde tudo tinha acontecido. Não sabia se deveria dormir nesta cama ou na do Harry, estava perante um dilema ao qual não tinha forças para decifrar.  

Quando coloquei os cobertores da cama dele sobre o meu corpo respirei fundo e observei o quarto agora arrumado. O meu telemóvel vibrou no meu bolso. Era o Harry. 

Precisamos de falar! 

Coloquei o telemóvel sobre a mesinha de cabeceira sem responder. Fechei os olhos e tentei dormi, ouvi o telemóvel a vibrar mais algumas vezes mas não voltei a pegar nele, deixei-me consumir pelo cansaço.

Made of iceOnde histórias criam vida. Descubra agora