Sábado, 25 de Maio - Braga, Portugal
Uma leve brisa bateu contra o meu rosto e eu sorri. Eu sempre gostei de visitar os meus avós paternos. Adorava vir para o campo e ficar aqui durante horas a fio, sem ninguém, apenas eu e a natureza. Era algo de extraordinário como a poucos quilômetros os carros passavam, as pessoas passeavam e faziam compras. Mas aqui, apenas se ouvia o vento a bater nas arvores. Enterrei mais os meus pés na terra remexida, estava quente.
Quando era pequena corria a quinta de um lado ao outro descalça, adorava sentir a terra macia nos meus pés, lembro-me de uma vez estar a correr e encontrar algumas cabras pequenas, foi divertido brincar com elas, mas nunca corri tanto na minha vida quando a mãe delas me descobriu, acabei por ficar cheia de lama e no fim ter que tomar banho a entrada da casa dos meus avós. Nunca me diverti tanto a tomar banho e aposto que os meus primos nunca regaram tão animadamente como naquele dia.
Conseguia ouvir os cães a ladrarem, eles aproximavam-se de mim. Abri os olhos mas tive que os fechar de imediato por causa do sol.
"Sofia!" ouvi alguém a chamar ao longe. Não conseguia distinguir a voz, apenas via uma sombra ao longe. Coloquei a minha mão sobre a testa tentando ver melhor. "Sofia!"
"Estou aqui!" gritei de volta enquanto que me levantava. Era o Henrique, o doce Henrique. Ele era a beleza da família, com a sua pele bronzeada e os seus olhos azuis. Quando ele andava no secundário andava sempre rodeado de raparigas, sempre a conquistá-las apenas com um simples sorriso. Era divertido quando me punha a janela com ele e as via passar e a acenar mesmo sem ele as conhecer. Segundo ele a avó vendeu muitos ovos devido as visitas diárias delas, mas ele nunca se deixou conquistar por ninguém até conhecer a Margarida. Ele e a Margarida conheceram-se a dois anos na universidade e aparentemente apaixonaram-se ao fim de alguns meses e alguns encontros surpreendentes. Eu gostava dela, não a conhecia bem, mas apenas por saber que ele estava feliz ao lado dela, fazia o meu coração derreter-se e adorá-la daqui até a lua.
"Anda jantar." olhei-o confusa, depois olhei para o céu. Ainda era de dia, o céu não mostrava sinais de escurecer. Ele continuava a andar na minha direção.
"Porque tão cedo?" peguei nos minhas sapatilhas e caminhei na sua direção.
"Bem, primeiro tens que tomar banho" ele olhou-me de alto a baixo "A avó convidou o resto da família para virem cá e alguém precisa de ajudar." acenei com a cabeça e comecei a andar em direção a casa.
"O ultimo a chegar é um ovo podre!" ele gritou enquanto que passava a correr por mim, eu ri-me e corri atrás dele. Os cães ladravam atrás de nos enquanto nos seguiam.
"Vou apanhar-te" gritei quando estava a aproximar-me dele.
Acabei por perder, também como é que eu apanharia um rapaz com umas pernas tão longas e bem treinadas como as dele? Deixei-me ficar no banho, observando a terra a sair da minha pele, a misturar-se com a agua e a espuma e depois a desaparecer. Seria tão simples lavar os pensamentos, as ideias e as perguntas como lavar o corpo? Gostava que fosse assim, sentia-me sempre mais relaxada nesta quinta, afinal de contas, a natureza atrai sempre pensamentos positivos e boas energias.
Enquanto que me apreçava até a casa principal olhei a minha volta. Eu adoro esta quinta, não apenas por ser relaxante, não apenas por ser enorme mas sim por toda a minha família estar aqui. Os meus avós nunca quiseram ficar sozinhos, por isso, ao fim de alguns anos decidiram construir uma pequena casa para cada filho que nascesse, cada casa contem três quartos, uma casa de banho e uma pequena cozinha, onde normalmente ninguém come, não era luxuoso apenas acolhedor. Eles não eram ricos, mas uma vida inteira a trabalhar proporciona destas maravilhas, alguns dos meus tios vivem aqui permanentemente mas outros tal como era o meu caso, fomos viver para a beira do caos. No total eram seis casas sem contar com a principal onde os meus avós viviam. O meu lugar preferido era a pequena biblioteca que eles tinham, tal como eu, a minha avó adora ler. Quando entro lá dentro e sinto o aroma a velhos livros, viajo para outra dimensão e deixo-me absorver por essa sensação.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Made of ice
Подростковая литература"Quando era pequena, costumava chorar por tudo e por nada. Hoje, com 17 anos apercebo-me que me estou a tornar numa pessoa fria." "Não és fria, és verdadeira" olhei-o nos olhos " é isso que mais gosto em ti" ele sorriu e foi nesse momento que perce...