Chapter 25

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Quarta-feira, 4 de Setembro de 2013 

Senti o vento a atingir o meu rosto e mexi-me no banco, sentia-me desconfortável com o frio matinal de Setembro, sentia-me ainda mais desconfortável por não ter trazido um casaco.  

"Porque é que me fizeste acordar tão cedo?" voltei a perguntar ao Harry e mais uma vez ele sorriu de canto enquanto que observava o parque ainda vazio. Ao longe conseguia ver o Max a andar muito lentamente em cima da relva, também ele queria ir para casa. Levantei-me impaciente "Harry, não tenho paciência para estes jogos" coloquei as minhas mãos nas ancas. 

"Espera só mais um pouco." ele puxou-me, sentando-me ao seu lado no banco. 

Porque é que ele me trouxe até aqui? Porque é que eu atendi a chamada? Devia de ter ficado a dormir, devia de ter ficado a sonhar comigo a comer tudo o que me aparecia de bom a frente. 

"Chegaram." ele sussurrou. Segui o rasto dos seus olhos, parando num casal idoso. 

"Que têm eles?" sussurrei. 

"A alguns anos atras, vim dar uma volta a este parque, queria estar sozinho e este era o lugar perfeito. Depois eu vi-os, estavam sempre a rir-se e de braço dado. Quero casar-me com alguém e viver com ela assim, eles parecem namorados mas com algo mais, uma energia diferente, consegues perceber? Eu quero amar alguém assim, até ao fim." ele olhava atentamente para os idosos, eu apenas o observava, as suas bochechas um pouco coradas por causa do vento, os seus lábios encarnados e molhados, os seus cachos suaves e os seus olhos, os seus brilhantes olhos. 

Nunca pensei muito em me casar, para mim era apenas um papel assinado, ao qual muitas pessoas davam importância. Nunca pensei muito em casamento porque nunca me apaixonei, quando amamos pelo menos uma vez, começamos a ter esses pensamentos, tenho a certeza, mas eu não, apenas penso se algum dia vou ser capaz de amar, se vou ser capaz de me apegar a alguma pessoa, se vou ser capaz de me apegar a algo. Não me sinto triste por pensar assim, por não amar daquela maneira, de não ter aqueles sentimentos de que me falam e de que não me falam. Será assim tao difícil descrever o amor? Descrever o amor não é complicado, é apenas falar do que sentimos, mas porque é que as pessoas fazem disso um quebra-cabeças? Se conseguem descrever o que sentem quando comem um bolo de chocolate, porque é que não são capazes de descrever o amor? Talvez as pessoas compliquem demais.  

"Não. Não estou a perceber o que sentes." olhei para os idosos ainda do outro lado do parque, pareciam-me um casal normal de idosos.  

"O que não percebes?" olhei para ele. Ele já me observava. 

"Não percebo o teu fascínio por eles, não sinto nenhuma energia vinda deles, não sei se me quero casar, não percebo nada sobre o amor." encolhi os ombros. 

"Esta tudo bem." ele colocou o braço sobre os meus ombros e eu pousei a minha cabeça no seu ombro, ficamos assim durante alguns minutos. "Estas gelada." ele levantou-se e tirou o seu casaco. 

"Não é preciso, estou bem."  

"Aceita. Não te vou deixar a congelar." ele atirou-me o casaco. 

"Obrigada, eu depois dou-to quando sairmos daqui." sorri enquanto que vestia o casaco. "Porque te queres casar?" 

"Porque quero provar que nunca me vou tornar como o meu pai." eu acenei com a cabeça. 

"Pois não." eu sorri. Ele era incapaz de se tornar uma pessoa má, eu tinha a certeza desde a uns tempos para trás, desde que ele passou a apoiar-me e a ser querido comigo, mais do que alguma vez eu serei para ele, ele tem  um coração bondoso, apenas precisa de ter cuidado para não ser corrompido. 

"E tu? Porque não queres? Normalmente as raparigas sonham com isso." ele bateu no meu ombro com o seu, ele estava a sorrir. 

"Nunca sonhei com isso, nunca tive esse sonho." encolhi os ombros "Aquilo é só um papel." 

Ele acenou negativamente com a cabeça "É mais do que isso, é tu prometeres diante dos teus amigos e familiares que vais tomar conta daquela pessoa, que a vais amar a até ao fim, aconteça o que acontecer. Quando estamos numa relação prometemos tudo e mais alguma coisa, bem, quando estamos num casamento prometemos diante de testemunhas que vão ver a nossa relação, que nos vão ajudar a cumprir cm as nossas promessas, que nos vão ajudar a sermos felizes como um casal, estas a perceber?" acenei com a cabeça positivamente. "Já queres casar?" ele riu. 

"Não" ri juntamente. Ele tinha mesmo pensado no assunto, ele sabia o que queria, sabia o que queria fazer, ele já tinha tudo planeado, mas eu não, eu tenho dezassete anos mas não tenho planos, apenas uma viagem enorme ainda por planear, a qual eu quero fazer para me encontrar, para descobrir novas maravilhas deste mundo. Será assim tao difícil para mim planear o meu futuro a longo prazo? Não posso viajar para o resto da minha vida, preciso de assentar um dia, mas onde? Com quem? Serei capaz de criar uma família e acabar com esta solidão que tanto me atormenta? Tenho que parar de pensar no futuro, no que me posso vir a tornar, mas as vezes parece que é inevitável, parece algo natural pensar nisto, eu quero pensar no aqui e agora, eu quero aproveitar enquanto que tenho dezassete anos antes de me tornar uma adulta. 

"No que pensas?" ele semicerrou os olhos. 

"Que é inevitável eu pensar no futuro." 

"Não faz mal se pensares no passado ou no futuro, desde que não percas a noção do tempo, desde que não te esqueças onde te encontras" eu sorri enquanto que acenava com a cabeça. 

"Desde quando te tornaste tao sábio?" levantei a sobrancelha, um pequeno sorriso apareceu nos meus lábios. Ele encolheu os ombros também divertido. Suspirei. "Tenho fome. Vamos tomar o pequeno-almoço." 

"Claro." levantamo-nos e caminhamos até ao max. 

"Max." ele correu desajeitadamente e lentamente na nossa direção. "Tens que fazer dieta." ele lambeu-me a cara quando lhe prendi a trela.  

"Só faz se tu também fizeres." o Harry riu-se. 

"Quem te dera a ti ter este corpinho cheio de gordura, atrai tudo e todos." ri. Não me importava quando falavam do meu corpo, sentia-me bem com ele maior parte dos dias, não me importava se ele estivesse a falar a serio ou não. Era eu quem tinha controlo do meu corpo, era eu quem decidia o que queria comer, se neste momento me apetecia comer uma fatia de bolo eu comeria, se me apetece-se correr, eu correria, era eu quem decidia o que fazer com o meu corpo. E neste momento apetecia-me comer a maior fatia de bolo que a pastelaria me proporcionaria e iria sorrir para o Harry enquanto que comia porque sentia-me bem quando fazia o que queria, quando não me importava com os comentários dos outros sobre o meu aspeto físico. Era eu quem decidia. 

"Eu sei, eu sei." ele colocou um braço sobre os meus ombros e caminhamos até a entrada do parque. 

"Ainda bem, porque eu vou comer bolo." pisquei-lhe o olho.

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