Chapter 5

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Domingo, 13 de Janeiro de 2013 - Bristol, Inglaterra 

Quando tinha 10 anos, os meus avos maternos decidiram vir viver para Portugal, não aguentavam ver a minha mãe apenas no Natal. Eles tinham dinheiro suficiente para terem duas casas, uma em Portugal e outra em Bristol. Foi ai que eu comecei a ser mais próxima do avô James, ele compreendia-me e estava sempre lá para me limpar as lagrimas, foi ele quem me deu o Max, segundo ele, o Max seria a minha companhia nos dias mais solitários. Ao principio não compreendi porque é que ele o tinha feito, mas depois ele foi para o hospital e morreu lá, uma pequena gripe, que o afetou mais do que alguma vez tinha imaginado. Lembro-me que a minha mãe não parava de chorar, a minha avó apenas se fechava no quarto, a ver as fotografias deles os dois, apenas eu sabia, a minha  curiosidade fez-me um dia abrir a porta do quarto e vê-la a remexer todos os álbuns. Eu perguntei-lhe porque é que ela fazia aquilo e num sussurro ela respondeu: "Eu sinto tanto a falta dele que até sufoca, eu só preciso de recordar qual era a sensação de quando ele me acariciava a mão ou quando me beijava o rosto todo até eu começar a rir." Poucos meses depois ela não aguentou mais,  vendeu a casa e foi-se embora. Desde então já visitou mais lugares que eu posso imaginar, mas alguns imprevistos aconteceram, e ela teve que voltar, abriu a casa em Bristol e deixou-se lá ficar, reconfortando-se com as visitas diárias de uma enfermeira. A minha mãe costuma visita-la, já eu não falo com ela praticamente desde que ela partiu. A minha mãe não gostou muito disso, por isso, aproveitou o dia de folga, meteu-me no carro e dirigiu ate á casa da avó Evelyn. 

"Tens que ser simpática." disse a minha mãe ao fim de 10 minutos de silencio. 

"Eu sinto a falta dela, é claro que vou ser simpática." a minha mãe olhou-me de canto. 

"Nada de comentários sarcásticos ou respostas..." ela não acabou, eu já sabia o que ia dizer, nada de respostas frias, cruéis. 

Encostei a cabeça ao vidro, estava tão cansada, eram ainda 6h30 da manhã. Porque tínhamos que acordar tão cedo? Eu adoro a minha cama, ela é maravilhosa, mas hoje não pude desfrutar o suficiente, acho que foi por isso que acabei por adormecer. Quando abri os olhos o Harry estava a olhar para mim, ao principio pensei que estava a sonhar mas depois apercebi-me que a minha mãe me tinha abandonado no carro. 

"O que fazes aqui?" disse um pouco rabugenta enquanto que saia do carro. 

"Vim cozinhar para a Mrs Roberts." espreguicei-me "E tu?" 

"Porque cozinhas para a minha avó?" disse caminhando em direção á entrada da casa, ele seguiu-me. 

"Ela é tua avó?"ele perguntou surpreendido, eu apenas acenei afirmativamente, depois ele respondeu a minha pergunta "Porque ela gosta e alem disso ela paga bem." bati a porta mas o Harry desviou-me e colocou uma chave na porta. 

"Tu tens a chave?" ele sorriu misteriosamente entrando dentro de casa. 

"Que posso dizer? Ela encantou-se com o meu sorriso e a minha voz rouca" eu comecei-me a rir. 

"Estou a ver que já se conhecem." disse a minha mãe. 

Ela estava sozinha na cozinha, tinha uma chávena de café na mão e o jornal na outra.  

"Andamos na mesma escola" ele disse calmamente 

"São amigos?" ela perguntou com uma sobrancelha levantada e um pequeno sorriso nos lábios. 

"Não" disse de imediato 

"Sim" ele disse ao mesmo tempo, eu simplesmente revirei os olhos. 

"Como podemos ser amigos se só falamos uma ou duas vezes?" disse aborrecida, ele simplesmente encolheu os ombros. 

"Então Harry, que vais cozinhar hoje?" 

"Surpresa" ele disse rindo-se. 

"Sofia, ajuda-o!" eu olhei para ela confusa. 

"Porque?" 

"Porque eu estou a mandar" ela colocou a chávena de café e o jornal na mesa "Vou acordar a avó" 

"Então? Pronta para cozinhar com um verdadeiro chefe?"  

"Onde está ele" disse olhando a volta na cozinha ele riu-se. 

Ele tinha mesmo um avental a dizer chefe, quando o vi revirei os olhos. No final de contas ele fez tudo, apenas me sentei numa cadeira, a observá-lo, ele cozinhava com rapidez e eficácia, estava muito concentrado, via-se pela cara dele.  Por vezes levantava a cabeça e sorria-me. Estávamos ali á 15 minutos em silencio quando a avó entrou na sala 

"Oh James, cheira tão bem. Sempre cozinhaste bem." ele riu-se para o tabuleiro. 

"Mãe, lembra-se da Sofia?" ambas olharam para mim. 

"Oh, a pequena Sofia." ela deu-me um abraço e pouco depois foi para o jardim com a minha mãe. 

"Porque é que ela te chamou James?" 

"Ela chama-me sempre James" ele disse muito serio "Ao principio não percebia porque, pensava que apenas confundia o meu nome, mas a algumas semanas atras a tua mãe apareceu, e disse-me que ela esta doente, qualquer coisa a ver com a memoria. 

"Alzheimer" 

"Isso" ele suspirou "Depois vi as fotos" 

"Que fotos?" 

"As do teu avô" ele olhou para mim "Somos muito parecidos" 

Comecei a observá-lo intensamente, eu já tinha visto fotos do avô quando era mais novo, eles tinham o mesmo sorriso, o mesmo queixo, os olhos do Harry brilhavam tao intensamente como os do avô, no entanto o cabelo do avô era mais claro. Parei de respirar, eles são mesmo parecidos, não fui capaz de dizer nada por isso abanei apenas a cabeça. Ele continuou a cozinhar. 

Quando o almoço estava pronto, eu tive que me sentar em frente ao Harry, eu sei que a minha mãe fez de propósito, ela quer ver-me embaraçada só pode, ainda protestei um pouco e disse que queria ficar em outro lugar, mas ela não me ouviu. 

"Isto está delicioso, parabéns mais uma vez" disse a minha mãe depois de devorar a comida do Harry, ele corou. 

A minha mãe tinha razão, ele cozinhava muito bem. Eu repeti 2 vezes, e eu acho que ele se apercebeu disso, não queria aumentar o ego dele por isso não comi mais. 

"Estas a pensar ser chefe de cozinha?" a minha mãe falou outra vez. 

"Não, isto é apenas para agradar a Mrs Roberts" a minha avó riu-se. 

"Sempre galanteador." 

*     *     * 

"Eu gosto de olhar para as estrelas, elas brilham tanto." disse-lhe, eu senti os olhos dele em mim "Fazem-me sorrir" 

Já não sabia á quanto tempo eu e o Harry estávamos ali deitados na relva, mas não me importava. 

"Porque?" ele perguntou confuso 

"Com elas já não me sinto triste, alem disso estão num lugar bem melhor." disse tristemente. 

"Não gostas de estar aqui?" ele perguntou surpreendido. 

"Onde eu vivia antigamente, sentia-me sempre triste." fechei os olhos "aqui apenas me sinto sozinha" 

"Agora já não estás" abri os olhos rapidamente "Agora tens me a mim" ambos sorrimos um para o outro. 

Made of iceOnde histórias criam vida. Descubra agora