UMA PARÁBOLA SOBRE O AMOR

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Havia um mercador de camelos. Não era um homem rico, mas era um homem idôneo. O mercador era viúvo, e tudo o que restou das lembranças de sua amada mulher era uma filha. A jovem chegara à idade de se casar, e como era muito bonita, sempre que o mercador viajava a levava com ele para que não ficasse à mercê de homens oportunistas e sem honra. A menina amava o pai sobre todas as coisas e aceitava de bom grado as pequenas privações experimentadas nas longas viagens em troca de ficar mais tempo ao lado daquele homem que ela mais amava.

Aconteceu que, em uma de suas viagens, o mercador de camelos levava trinta animais para vender a um poderoso sultão que vivia em um palácio cerca de um pequeno oásis. Sua ideia era que ao ver sua filha, o sultão certamente seria tocado por sua beleza, e assim, desposando-a, ela teria uma vida plena, sendo todos seus desejos satisfeitos no conforto de um palácio. A menina, por sua vez, não conhecia os planos do pai.

Após muitos dias de jornada, pai e filha pararam para descansar no pequeno oásis que ficava próximo ao palácio. Como os animais estavam cansados, famintos e sedentos, o mercador achou por bem tratá-los alguns dias antes de apresentar a tropa. Assim, conseguiria um preço melhor e poderia cair nas graças do sultão como um bom homem de negócios. Tudo isso fazia parte do plano de casar sua filha, tendo a simpatia do sultão, seria mais fácil que ele a quisesse como esposa.

Quem tomava conta do oásis era um jovem aparentemente da mesma idade da filha do mercador de camelos. Ele tratava os animais, limpava suas feridas e curava seus cascos cansados de longas viagens. O rapaz também era responsável por manter as tendas limpas, atender os viajantes e cozinhar. Era um trabalho árduo que começava ao amanhecer e somente terminava após o sol se por.

Logo na primeira noite, o jovem conheceu a filha do mercador. Ela era a mulher mais linda que ele já vira! Sua pele parecia feita de seda, e seus olhos tinham a cor e o formato de tâmaras. A boca era desenhada como em uma iluminura do mais sagrado dos livros, e os cabelos desciam como cachos de vinhas espalhados sobre os ombros. Ele sentiu suas pernas cambaleantes ao ver aquela jovem – tão linda – entrar pela tenda na hora da ceia. Esforçou-se para parecer o mais natural possível, ainda que seus olhos não conseguissem abandonar o rosto dela.

Por outro lado, quando a filha do mercador entrou na tenda teve uma surpresa deliciosa. O jovem que cuidava do pequeno oásis era encantador. Seu tronco definido equilibrava-se de maneira perfeita sobre as pernas bem torneadas que ela só podia ver parcialmente sob os calções de linho. Tinha olhos grandes e escuros, e suas mãos eram fortes como deveriam ser as mãos de um homem. Ela se encantou com seus movimentos precisos durante a ceia, servindo ela e o pai com presteza e generosidade. Percebeu que o jovem olhava quase o tempo todo para ela, apenas desviando o olhar em alguns momentos, quando o pai percebia a atração que surgia entre os dois. Da parte dela, não conseguia conter os pequenos risinhos que tentava esconder por detrás do véu que o pai insistira que usasse. O desejo podia ser sentido no ar, e o mercador, percebendo o que se passava, viu-se contrariado naquela primeira noite. Não disse nada, mas pensou em ir embora o quanto antes, partir dali com sua filha. Mas seus camelos precisavam de cuidados e não seria bom chegar ao palácio com os animais desgastados como estavam.

Os dias se passaram. A atração entre a jovem e o cuidador do oásis aumentou consideravelmente, e depois que o pai dormia, toda noite, os dois se encontravam sob o testemunho das estrelas e passavam muito tempo juntos. Falavam de seus planos e desejos, imaginavam uma vida juntos. Sonhos que envolviam crianças, um lugar para viver, felicidade, fortuna e amor eterno. Os dois sabiam que seu futuro dependia de uma benção do mercador, mas nenhum dos dois imaginava que ele tinha outros planos para a própria filha.

A menina e o djinnOnde histórias criam vida. Descubra agora