A R I A
Logo de cara eu percebo que se eu abrisse a minha boca seria taxada de doída.
Eu, de alguma forma que eu nunca saberia explicar como, tinha voltado no tempo e estava no lugar de uma mulher que tinha a minha aparência e nome. E, oh, eu tinha um marido.
Eles achavam que eu tinha perdido a memória e se eu não quisesse ser internada num hospício, teria que aceitar essa história. Pelo menos, até descobrir o que diabos tinha acontecido. Como eu saberia, também, era outro caso.
Deixo o carinha da carreira solo me guiar para seja lá onde eu passaria a noite e realmente considero a ideia de fugir. Mas para onde?
- Aqui é o seu quarto. - Quase bato nele quando ele para do nada. - Você arrumou tudo, Julie? - Malik pergunta para uma senhora que estava no meu, até então, quarto.
Julie concorda e me olha com uma felicidade que me dá um peso no coração. Eu não era quem eles pensavam que eu era.
- Eu fico extremamente feliz em saber que a senhora está viva e bem, minha senhora. - Oh, meu deus, eu era a senhora de alguém? Era de se esperar que numa casa desse tamanho tivessem empregados, mas eu não espera que eles respondessem a mim.
- Eu também, Julie. - Ela sorri para mim e o brilho nos olhos dela me deixa ainda mais culpada. Ela sai e deixa eu e o Malik no mesmo lugar.
- Julie arrumou o seu banho. - Ele entra no quarto e eu fico preocupada. Eu lembrava de como tomar banho, obrigada. - Ali é o banheiro. - Zayn, se eu lembrava certo do nome dele, me indicou e eu concordei. - E aquela porta ali dá no noss... no meu, quarto. Se você precisar de qualquer coisa, basta apenas me acordar.
Eu concordo com a cabeça e ficamos uns cinco segundos num silêncio constrangedor.
- Hã, certo. Eu me lembrarei disso, obrigada. - Quase rio com o "eu me lembraria disso", mas disfarço com uma tosse.
- Tudo bem, então. Boa noite. - Ele era doce, isso eu não negaria.
- Boa noite. - Saúdo de volta e ele passa pela porta que eu julguei ser o quarto dele e o da sua esposa. O meu clone. Ou eu era o clone dela, já que ela nasceu primeiro. Que seja.
Esse aqui realmente deveria ser o quarto dela. Se eu não me engano, antigamente tinha dessas da esposa ter um quarto só para ela. Eu não reclamaria. Olho para a camisola, que parecia ter muito pano, como todas as coisas aqui, e suspiro. Teria que tomar banho antes que ficasse gripada ou pegasse algo mais sério. E pelo que eu me lembre, a medicina desse tempo não era das melhores.
Assim que chego no banheiro percebo um pequeno detalhe. Como era suposto eu conseguir tirar esse vestido?
Automaticamente meus olhos vagam na direção do outro quarto. Oh, Deus, facilitar a vida da sua filha para quê, não é mesmo?
Vamos lá, eu conseguiria fazer isso. Era só tirar um vestido.
Minutos depois, eu descubro que não conseguiria não.
Acho que era proposital, para o menino brochar antes que a menina ficasse nua e eles pudessem cometar o pecado antes do casamento. Oh, eu me arrependo tanto de não ter prestado mais atenção nas aulas de história. Eu não sabia nem que época do que eu estava...
1850... 1850... era do que? Era Vitoriana? Era isso? Eu acho que sim. Ninguém poderia me falar, no entanto, já que só ganharia esse nome daqui a muitos anos.
Bato na porta e espero por uma resposta. Deus, que vergonha. Em menos de dois minutos eu escuto um barulho, do tipo quando você se arrasta e tenta por o chinelo ao mesmo tempo, e logo em seguida a porta se abre.
Oh, ele estava sem camisa... Mas faltava alguma coisa...
O que?
Faço a imagem visual do Zayn do século XXI e logo descubro. Tatuagens. Era isso o que "faltava", porque na minha opinião não faltava nada nesse corpo.
- Como eu posso te ajudar? - Caralho, tomara que ele não tenha reparado que eu faltei lamber seu peito.
- Eu não.. eu, hã... - Respiro fundo e tento falar de uma vez. - Eu não consigo abrir o meu vestido.
Pelo sorrisinho no rosto que ele teve que conter, definitivamente ele tinha reparado. Era só o que me faltava, eu ser pega cobiçando meu marido. Ou no caso, o marido da Outra.
- Vire-se. - Se ele me pedir para fazer qualquer coisa agora eu faria.
Eu tinha que controlar meus pensamentos, meu deus do céu, pelo meu próprio bem. Concordo e faço o que ele pediu, logo em seguida sentindo suas mãos desfazerem os laços do corpete com a maior habilidade do mundo.
Se eu fosse um homem nessa época, seria quase um curso que eu faria.
Quando eu sinto um frio no começo da minha espinha, descubro que ele terminou seu trabalho.
- Hã, obrigada. - Murmuro para ele depois de me virar e segurar a parte da frente para não me expor demais.
- Por nada. - Oh, meu Deus, a voz dele estava rouca.
A última coisa que precisava era de um tensão sexual entre gente agora.
- Eu vou... - Indico tomar banho e ele concorda, também parecendo acordar do transe. Afinal, eu era a sua esposa sem memória.
- Certo, eu vou... - Concordo quando ele indica o quarto e sorrio uma última vez antes de arrastar os quilos de panos comigo para o banheiro.
Escuto a porta ser fechada e solto o ar de alívio.
Eu não podia fazer isso com a mulher dele que eu não sabia onde estava. Mas se bem que, fazer o que? Eu não tinha feito nada e nem pretendia. Eu só precisava continuar arrastando essa farsa o máximo que eu conseguisse.
Eu precisava descobrir o que tinha acontecido e como voltar para casa. Mas deixaria isso para mais para frente, agora a única coisa que eu precisava era de um banho.
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Beyond Time - Zayn Malik
AcakCom uma das piores tragédias do ano de 2025, muitas pessoas ficaram desaparecidas e raramente foram encontradas. Uma dessas pessoas foi Aria Moroe, uma estudante de medicina de 22 anos, que foi arrastada pela água como muitos outros. Naquela manhã...