o sumiço

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Por Gabriela Duarte
 

Estávamos gravando as cenas da reta final da novela Orgulho & Paixão  em Minas Gerais. O mês era setembro e antes de viajarmos, havia acontecido uma besteira entre mim e o Celo Faria, algo que pretendíamos  esquecer. Os dias em Minas estavam frios demais e não fomos junto com a família Benedito para a cachoeira, além disso, precisávamos gravar algumas cenas na locação das fazendas. Logo, estávamos eu, Celo, Ary e a equipe de filmagem conversando quando fomos surpreendidos por uma chuva inesperada. Corremos para a mansão, mas ainda fomos pegos pela chuva devida distância que estávamos da casa dos Bittencourt na trama. Ao entrar...

Marcelo: Gabi, você está bem? - ele falou ofegante, ajudando o câmera com os equipamentos. - Gabi! - Marcelo precisou me chamar mais uma vez, pois eu me encontrava distraída, procurando uma pessoa entre a multidão que se abrigava na sala de Julieta.

Gabriela: Desculpa, celo... - enxuguei meu rosto molhado com a echarpe colorida de Julieta. - é... é que estou sentindo falta de alguém, mais ainda não tenho certeza... - fui até o outro cômodo, perguntei a algumas pessoas e voltei correndo para meu colega de cena. - o Ary sumiu!
 
 
 

Vi os olhos de Marcelo quase saltarem do rosto, ele o adorava tanto quanto eu, eram amigos desde a infância. Muito mais do que o Barão era para Julieta e Aurélio, Ary estava em nossas vidas e na vidas de nossos pais, presente em todos os momentos mais importantes e nos ensinando cada detalhe essencial da arte de atuar.

M: pelo amor de Deus, Gabriela, vamos procurá-lo! - ele colocava os cabelos molhados para trás nervoso. - na correria nem notamos que ele estava preso àquela cadeira no meio da lama!

Ele se desesperou em minha frente e eu senti uma pontada em meu peito. Não sabia se era apenas pelo Ary ou por ver Celo assim...
Logo, reunimos a equipe e informamos o acontecido. A chuva insistia em ficar mais forte e nos dividimos em equipes para sair.

M: Gabriela fica aqui com as meninas da make para caso ele vol...

G: De forma alguma! - eu o cortei. - Conheço esta locação como a palma da minha mão, não esqueça que esta é a minha mansão. - bati em meu peito e ele sorriu cabisbaixo. - eu vou com você.

M: Tudo bem, D. Julieta! - brincou me estendendo a mão. - vamos logo, antes que a chuva castigue ainda mais!

Conforme foi dividido, alguns câmeras foram para o fundo da fazenda, produtores e diretores foram para os estábulos, e eu e Celo fomos para os cafezais. Apesar de parecerem quilômetros de plantações na televisão, eram apenas algumas centenas de metros e nossa hipótese é que ele não estaria mais lá, estaria mais próximo da mansão ou de outro local que desse para se proteger da chuva. Acho que foi por isso que nos mandaram para lá, nunca colocam muita fé no potencial investigativo ou de resistência de um ator... não sei o porquê. Isso era um absurdo!

G: está vendo alguma coisa? - coloquei a mão sobre a testa, tentando barrar a  chuva que batia em meus olhos. - não vejo nem um metro em minha frente.

M: realmente, está difícil demais. - ele pegou minha mão e continuou andando em frente. - ARY! Ary, cadê você? - apelou para os ouvidos do amigo mais velho.

Em alguns minutos, nos encontramos dentro dos cafezais e a visão ficou ainda pior. Tentamos dar meia-volta, mas não encontramos mais a saída certa.

M: Caralho! - Celo empurrava apressadamente os pés de café, procurando saída. - nós perdemos, Gabi! - ele bufou e eu ri, deixando-o com uma expressão interrogativa.

Eu não esperava que minha reação fosse aquela, mas eu estava nervosa, com medo e ao mesmo tempo feliz de estar a sós com ele depois da cena que vivemos dias atrás.

G: desculpa... - falei envergonhada. - mas é que... - o olhei com desejo, Marcelo não estava mais com as mechas grisalhas que a equipe da maquiagem coloca para gravarmos, parecia mais jovem. A chuva tinha feito com que a camisa branca se prendesse ao seu corpo, transparente e amarrotada. Alguns botões estavam abertos devido o esforço que fizemos na caminho. Por que diabos não estava mais com o paletó do Aurélio? Assim não ficaria tão exposto para mim... Eu podia ver as gotas de chuva descerem pelo pescoço, se arrastarem para o peito e eu me arrepiava imaginando até onde aquela safada gota chegaria... Que inveja dela!

Quando dei por mim, estava rindo e me abanando no meio da chuva, mas acho que ele nem percebeu, pois parecia distante e preocupado, então tentei disfarçar.
 

G: é que nós  saímos para resgatar alguém... - me virei de costas para me controlar, estava suando por estar desejando-o naquela situação tão nada a ver. - e agora quem precisa de resgate somos nós! - ri novamente e desta vez senti ele sorrir atrás de mim.

Um trovão se ouviu e eu dei um pequeno saltito para trás, chocando meu corpo pequeno ao corpo quente dele. "Porra!" Suas mãos me abraçaram e eu fechei os olhos, suspirando…
 

M: tá tudo bem, Gabi. Eu to aqui... - engoli seco ao sentir a ficha cair, aquilo não iria acabar bem. Ou pior... Iria acabar muuuuuuuito gostoso!
 

 
 


 
 
 

Gripadinho & XaropinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora