prima

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Ponto de vista de Marcelo Faria

 
Acordo com o som de umas batidas vindas da porta e a campainha uivando.
 
Porra, adormeci no sofá!
 
Esfrego os olhos, tentando afastar o efeito do álcool ingerido algumas horas atrás, dos sonhos estranhos, da mijada/pseudogozada na cama e da dormida sem jeito.

 
M: Já vou! - grito, procurando o outro pé do chinelo. - já vou!

 
Ah! Dane-se, vou descalço mesmo.
 
Abro a porta e me deparo com Ingrid Guimarães, minha prima favorita.
 
A loira vestia um shorts jeans despojado, camisa branca simples e chinelos de dedos. Ah, como eu queria os meus chinelos… Em suas mãos, um vinho verde português dos melhores e o sorriso que o Brasil inteiro já conhece.

 
I: que demora, achei que a dita cuja estava aqui num sexo selvagem com você - diz, entrando e me entregando o vinho - mas, vem essa sua cara de quem morreu e não avisou, sei que a noite não está sendo nada sexy por aqui… - procura por algo na casa.

 
M: Você já conhece o lugar - a observei checar atentamente os cômodos, atrás de portas, embaixo de mesas, atrás de cortinas… - o que tá querendo exatamente, louquinha? - sorri.

 
I: saber se não escondeu ela em algum lugar e tá atuando comigo essa cara de cachorro molhado. - desfilou até mim e me deu dois tapinhas no rosto. - afinal, precisamos conversar sério e não quero testemunhas.

 
Eu gargalhava levemente, estava com saudades da companhia da amiga/prima. Porém precisava ter muito cuidado, pois sabia que Ingrid também era muito próxima de outra mulher que eu estava a gostar, Gabriela Duarte.
 
Fui até a cozinha e peguei duas taças, o abridor de vinhos e uns petiscos.

 
I: Celo, a gente já pode começar a conversa séria? - se jogou no sofá.

 
M: estamos conversando, não? - ri nervoso. - pode falar…

 
I: se quer assim… - Ingrid uniu as duas mãos, entrelaçando os dedos e fazendo um semblante austero, criando uma tensão silenciosa no ar.

 
Alguns segundos de silêncio…
 
O olhar fuzilador me atingiu em cheio.
 
Eu prendi o riso, indo em sua direção e lhe estendendo a taça de vinho.

 
I: quem é ela? - começou.

 
M: isso eu não posso dizer.

 
I: ok… então eu irei tentar de outra forma - tive medo daquilo, mas a deixei continuar. - eu a conheço?

 
M: certamente… - me sentei ao seu lado.

 
I: hm… ela é atriz?

 
M: certamente…

 
I: pode ir parando com essa merda de “certamente” e me respondendo direito! - me bateu no braço, roubando-me uma gargalhada. - palhaço!

 
M: ta certo, ta certo… Você a conhece e ela é atriz! - me rendi de mãos para cima.

 
Ingrid pensou por alguns instantes, sabia o gosto para mulheres que eu tinha. Geralmente eram morenas, estatura média ou baixa como ele, leves e engraçadas…

 
I: figurinha repetida? - pegou um petisco - porque eu vi a Fernandinha Vasconcelos no PROJAC um dia desses e estranhei. Ela nem tá no ar e…

 
M: não, não é a Fernanda. - a cortei. - E, apesar de já termos nos esbarrado, é a primeira vez que ficamos.

 
I: você podia deixar de ser babaca e me dizer logo quem é, né?

 
M: desiste, loira, eu não vou dizer e você não vai adivinhar. - beberiquei o vinho a olhando.

 
I: eu não desisto fácil, meu bem… - apertou minhas bochechas- e, se for pra te ajudar a resolver logo essa empreitada com essa mulher que tá sugando suas forças, eu vou pedir ajuda até ao universo - gesticou - Vamos, me ajudem!!!

 
Gargalhei e ela me acompanhou.
 
O celular de Ingrid vibrou e na tela ascendeu o nome de Gabriela Duarte.
 
Ambos olharam o aparelho sobre a mesa de centro. Ingrid sorriu ao ler o nome da velha amiga e eu arregalei os olhos, pensei Puta que pariu, eu tenho uma bruxa na minha casa!!!
 
Ela pegou o aparelho e, por estar ao meu lado, eu pude ler a mensagem também, fazendo meu coração acelerar.

 
Gabidu [00:45h]: Preciso do seu colo, Jairo acaba de ir embora. Brigamos ��

 
M: Quer dizer que eles vão se divorciar, então? - não consegui me conter.

 
Ingrid percebeu minha inquietação e me repreendeu, eu não podia deixar aquilo vazar para a equipe, tínhamos apenas mais um ou dois dias de gravação e a protagonista tinha que ser preservada.
 
Ela voltou-se para o celular e eu colei em seu ombro.

 
Ingrid [00:47h]: Amiga, chego ai em 30 minutos, não faz nada! Te amo ❤

 
I: preciso ir até lá, primo, você enten…

 
Eu não compreendi o porquê da pausa dela. Apenas estava mirando fixadamente o celular, a espera de uma resposta da Gabi, afinal, uma hora aquele “digitando…” iria sumir e ela poderia dizer algo sobre mim.
 
Acho que dei bandeira demais no meu gesto…

 
I: Marcelo - Porra ela me chamou pelo nome inteiro - você tem algo pra me contar?

 
Tinha que criar algo, mas algo muito mirabolante. Qual é? Eu sou ator…
 
Me levantei, preparando um personagem. Fui até a cozinha pegar mais petiscos.

 
M: eu tô louco pela atriz, ela também está por mim, nós nos damos muito bem na cama, como nunca foi com ninguém…  - Ela fez uma cara sexy zombateira - já gozei muito hoje com ela aqui, mas ela foi embora cedo, é meio enrolada...

 
Pronto. Agora o que Gabriela dissesse, não ia bater com minha história.
 
Ingrid se aproximou de mim, bem devagar, como quem queria seduzir. Pousou as mãos sobre o balcão da cozinha, me vendo retirar a rolha da garrafa, lambeu os lábios, se aproximou do meu ouvido e sussurrou:

 
I: me deixa olhar lá em cima?

 
Eu gargalhei e assenti com a cabeça, sabia que ela não desistiria sem cumprir a missão.

 
M: você é pior que namorada ciumenta, prima… - a vi subir as escadas de madeira.

 
Ingrid subiu as escadas, olhou os banheiros, a varanda e os quartos, deixando por último o meu. Puta que pariu! Esqueci do colchã

 
I: Que isso…?

 
Uma gargalhada alta é ouvida por toda vizinhança, enquanto procuro um buraco para enfiar a cabeça.
 
Ouço os passos dela correndo para o andar de baixo e sei que está vindo correndo, provavelmente com uma piada na ponta da língua ou até o colchão para esfregar na minha cara vermelha de vergonha.
 
Ter uma comediante na família é pedir para ser zoado, mas deixar a mijada a amostra é implorar por isso.

 
I: Mijão! Pica solta! - ela grita, me assustando.  - Essa aqui é a sua gozada master? - gargalhou até ficar vermelha. - então acho melhor procurar um médico, primo. - você deve tá maluco assim porque a mulher é coisa da sua cabeça, ou melhor, dos seus sonhos! Que loucu…

 
M: É A GABI! - A interrompi, fazendo parar com as gargalhadas. - Gabriela Duarte é a mulher que tá me deixando louco assim. - o semblante dela enrijeceu - e o motivo da briga provavelmente deve ter sido o nosso caso. - Ingrid engoliu seco a informação - você venceu, prima, eu te contei. - abaixei a cabeça, esfregando os olhos e quando levantei o olhar, vi apenas a porta bater.

 
 
 
Ingrid se foi.

Gripadinho & XaropinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora