Adrian Miller
Saio do salão de jogos a procura da Verônica, pois se ficar mais um segundo ao lado
dessas duas, eu cometo uma loucura.
Caminho pelo jardim e de longe vejo Jason segurando Verônica. Meu sangue ferve o vejo
tudo vermelho em minha frente. Alargo os passos e sigo em sua direção como um touro. Agora
eu mato esse desgraçado.
Sem perder tempo, paro atrás dele. O agarro por trás virando-o para mim e olho bem em
seus olhos antes de desferir um soco em sua cara.
Ele cambaleia com a mão em seu maxilar.
— Adrian, não! – Verônica grita quando vê que me aproximo outra vez para atacá-lo.
— Qual é o seu problema, cara? – ele pergunta.
— Meu problema é você, seu idiota – digo e avanço para cima dele. Ele me acerta dessa
vez com um soco na boca do estômago e eu revido.
— Mas que porra é isso aqui? Querem me envergonhar? Estão loucos? – meu pai grita e
fica entre nós. Jonas também se aproxima, mas fica apenas observando.
— O senhor vai me desculpar, Rômulo. Mas seu filho é totalmente desequilibrado – Jason
diz e meu ódio aumenta.
Verônica me olha chateada e percebo que ela não está bem.
Jason dá as costas e vai até ela.
— Está melhor?
— Sim. Por favor, desculpe por isso – ela diz para ele.
— Saia! Tire suas mãos dela – digo e o empurro.
— Você é um idiota, sabia? Sua mulher estava passando mal, estava vomitando e eu apenas
a ajudei. Se estivesse ao lado dela, saberia disso – ele se enfurece.
— Da próxima vez que eu te ver ao lado dela, não vou pegar tão leve.
— Babaca – ele diz entredentes e se afasta nos deixando a sós.
— Você precisa se acalmar, filho. Esse tipo de atitude é imperdoável – meu pai me olha
decepcionado.
Verônica me dá as costas e começa a caminhar em direção a sala, mas, no meio do
caminho, vejo-a parar e levar a mão até a barriga se contorcendo.
Corro até ela e quando a tenho em meus braços ela grita:
— Não encoste em mim.
Ela solta um grunhido de dor e meu corpo paralisa.
— Você não está bem. Preciso levá-la para o quarto e chamar um médico – digo e ela
começa a mudar de cor. Toco em sua pele e está trêmula.
— Está tudo bem? – Jonas pergunta preocupado.
Ela olha para Jonas e diz com dificuldade.
— Jonas, pode me ajudar a ir até o quarto?
— Nada disso. Vou levá-la – digo e ela me olha.
— Não quero que toque em mim – ela diz com raiva.
— Pode levá-la Jonas. Vou procurar o Ronald. Ele é médico e pode examiná-la – digo sem deixar transparecer o quanto ela me afetou com suas palavras. Ela está chateada? Ótimo. Eu
também estou.
Deixo os dois a sós e saio sem olhar para trás. Olho ao redor a procura de Ronald para que
ele a examine. Não posso deixar que nada aconteça com ela.
Dou mais alguns passos entre os convidados e vejo meu pai.
— Pai. O senhor viu o Dr. Ronald? O procurei por todos os cantos e não encontrei.
— Ele está examinando sua esposa – responde.
— Ah! Ótimo. Obrigado. Já estava ficando preocupado – digo aliviado.
Meu pai me olha e diz com meio sorriso:
— Pode agradecer ao Jason, foi ele quem o avisou. Disse que ela estava se sentindo tonta e
que havia vomitado.
— A preocupação que esse cara tem com minha mulher me irrita – me enfureço.
— É filho. É melhor começar a controlar esse ciúme. Lembro em nossas festas de família o
escândalo que a Sara fazia por ciúmes de você. Agora, te vejo pior do que ela por essa garota.
— Não fala besteira, pai – resmungo. — Eu amo a Verônica.
— Hum... Mas amava Sara também, não? – ele pergunta intrigado.
— Claro que a amava. Mas é diferente – digo soltando o ar dos pulmões num suspiro
pesado. O silêncio se instala entre nós e então, acho que é o momento perfeito para dizer
sobre meu filho. — Ela está grávida.
— Quem? Verônica? Quando soube?
— Olha pai, me desculpe não ter contado antes e pelo lance do casamento. É que depois do
que aconteceu no Brasil, naquela festa da exposição, a mãe e a Alana estragaram tudo pra
mim.
— Sabe o que eu penso sobre Alana, não é Adrian? – ele toca meu ombro e me olha
diretamente nos olhos. — Enquanto você estiver perto dela, você não vai conseguir ser feliz
com nenhuma mulher.
— Somos amigos, pai. Alana é uma boa profissional. Mas sei que ela tem dificultado as
coisas. Hoje mesmo, acabo de descobrir que, talvez, Sara não fosse tão louca como pensava.
— Como assim?
— Verônica encontrou um exame de gravidez da Alana nas coisas da Sara. E, eu duvido de
que Sara tenha forjado aquele exame.
Ele me olha com cautela, me analisa e diz:
— Como se sente?
Olho para ele sem entender.
— Me sinto enganado, claro. Eu sempre defendia Alana dos ataques da Sara, e, agora,
descubro que Alana é uma falsa e manipuladora.
— Não perguntei como se sente em relação a isso – ele ri. — Digo sobre sua esposa estar
grávida.
— Ah!... Eu estou feliz, pai. Nunca estive tão feliz em toda minha vida – digo e sorrio para
ele.
— Então viva sua vida, Adrian. Não interessa o que as pessoas pensam sobre seu
relacionamento. A única coisa que me interessa, é saber que está feliz. Isso me deixa feliz
também – ele diz e me dá um abraço.
— Eu te amo, pai – digo.
— Também amo você. Agora vá ver como sua mulher está – ele diz se afastando.
— Eu tive uma briga feia com a mãe agora pouco. Foi por isso que Verônica passou mal.
Ela claramente não gosta da minha mulher.
— É. Eu sei. Pra falar a verdade, também não acho que ela seja a mulher certa pra você. Só
que isso não cabe a mim. Não sou eu quem irá passar o resto da vida com ela. Se ela te faz
feliz, fico feliz por vocês.
— Sabe que não posso ficar aqui depois da briga que tive com a mãe.
— Eu sei. Não se preocupe.
— Vou ver como ela está – digo e caminho para longe dele passando pelos poucos
convidados que ainda restam na festa.
Subo as escadas e entro no quarto iluminado apenas pela luz amarelada do abajur. Verônica
está deitada na cama e Terry está sentada ao seu lado.
— Como ela está? – pergunto aproximando-me delas e noto que Verônica dorme.
— O Ronald disse que ela está bem. Precisa evitar ficar “nervosa” e descansar – minha
irmã diz e enfatiza suas últimas palavras, como se eu fosse o culpado por ela passar mal.
— Pode cair fora. Eu fico com ela – digo.
— Você é um grosso, sabia? – ela sussurra, mas sua voz tem um tom hostil.
— E você, ainda vai ter que me explicar porque não me contou sobre aquela merda toda –
digo entredentes, chateado.
— Vá à merda – ela diz e sai fechando a porta do quarto.
Me aproximo de Verônica e me sento ao seu lado. Levo minha mão até seu rosto e acaricio
de leve. Não quero acordá-la. Dou um leve beijo em seus lábios e me levanto para tomar um
banho.
Tiro minha roupa e ando até o banheiro apenas com uma toalha na mão. Ligo o chuveiro e
quando a água está morna, entro.
Flashbacks da noite em que eu e Sara brigamos antes dela viajar, vêm em minha mente.
Eu havia chegado da Miller´s por volta das sete da noite. Estava cansado depois de um dia
exaustivo fechando um dos maiores contratos da empresa com os japoneses. Quando entrei no
quarto, Sara estava inquieta.
— Você tem alguma coisa pra me dizer? – ela me olhava intrigada segurando um
pequeno envelope nas mãos. Estava linda como sempre, de vestido azul salientando sua
barriga de seis meses.
— Boa noite pra você também – disse tirando o paletó.
— Liguei há horas na empresa e você não estava, Adrian. Era com ela que estava, não
era? É com ela que anda me traindo, confesse! – ela gritava descontrolada.
— Mas que inferno, Sara. Todo dia é a mesma coisa. Pare com essa obsessão, droga! –
disse cheio de fúria jogando minha camisa na cama.
— Vai me fazer acreditar que ela não estava com você? Não sou obcecada. Ela é uma
vadia que está tentando nos separar.
— Você está louca!
— Não me chame de louca – ela grita cada vez mais descontrolada me tirando do sério.
— Pode esquecer, Sara. Não vou mais nessa viagem com você. Aliás, não aguento mais
ficar perto de você nesse estado. Você está descontrolada, não percebe?
— Ah, mas é claro. Vai ficar com sua amante. Seu filho da puta! Pensa que eu não sei? – ela grita jogando o pequeno vaso de porcelana que havia no aparador em minha direção.
Minha sorte, é que sempre tive bons reflexos.
— Se eu descobrir que está me traindo, Adrian, eu desapareço e você nunca mais verá
nem a mim e nem ao seu filho – ela grita.
— Escuta, Sara... Não tenho amante nenhuma. E se um dia viermos a nos separar, saiba
que você será a única responsável por isso – disse olhando para ela que chorava sem parar.
— Vou dormir no quarto da Terry. Tenha uma boa viagem amanhã.
Ela estava fora de si naquele dia. O mesmo dia da data do exame da Alana. Eu não posso
acreditar que Sara tenha forjado isso. É ridículo. E descobrir isso agora, o porquê dela ter
agido de forma violenta aquele dia, só me deixa ainda mais culpado. Eu devia saber o que
Alana estava fazendo pelas minhas costas. Depois de hoje, de tudo que ouvi naquela sala de
jogos e a forma com que ela falou comigo em meu quarto, agora eu sei... Ela sempre esteve
por perto para minar meu relacionamento com Sara e agora, está fazendo a mesma coisa com a
Verônica.
Então era isso, Sara queria apenas que eu confirmasse o que ela achava que era verdade.
Mas porque ela não me mostrou o maldito exame? Tudo teria sido diferente. Na hora não
entendia sua reação, mas agora... Vendo tudo com mais clareza, ela só estava se sentindo
traída. E eu a abandonei, quando na verdade, a culpa disso tudo sempre foi minha. Minha por
ter sido tão cego e manipulado por aquela vadia. Mas não vou cometer o mesmo erro dessa
vez. Não mesmo.
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Somente Seu
ChickLitHoje faz uma semana que Adrian e eu nos separamos. Desde que saiu do meu apartamento, não voltou a me procurar. Acho que ele realmente desistiu de mim. Fiquei trancada em casa todos esses dias, procurando uma forma de resolver minha vida. Eu precisa...