capítulo 17

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Verônica S. Miller
Entro no banheiro e ligo o chuveiro. A noite de ontem foi perfeita. Adrian não poderia ter
sido mais romântico. Estou toda dolorida da nossa noite de sexo selvagem e quente. Sorrio ao
lembrar como nosso sexo foi intitulado por Terry.
A água morna escorre pelo meu corpo. Fecho os olhos e ainda posso senti-lo em mim. Sinto
suas mãos em meu corpo, seus lábios tocando os meus beijando-me suavemente...
A campainha toca despertando-me.
“Uau! Esse serviço de quarto é realmente excelente! Estou faminta”.
Termino meu banho e faço minha higiene. Me seco de qualquer jeito, pois a fome é maior
do que tudo nesse momento.
Enrolo-me na toalha e saio do quarto indo em direção à sala de estar à procura dele.
— A situação não está nada boa, Adrian – ouço uma voz masculina e de imediato,
reconheço. Jonas.
Entro na sala segurando a toalha em meu corpo e olho para eles.
— O que é que não está nada bom? Do que estão falando? – pergunto e eles trocam olhares
cúmplices. Aí tem!
— Bom dia, Verônica – Jonas me cumprimenta.
— O que foi? Por que estão com essas caras?
Encaro os dois que se sentem desconfortável com algo.
— Querida, vá se trocar, por favor. Precisamos ir – Adrian diz.
— Onde está o café? Estou com fome – digo olhando para ele.
— Precisa contar pra ela, Adrian – Jonas diz e Adrian fica tenso. Ele anda de um lado para
o outro passando a mão pelo cabelo nervosamente.
— Pode ir Jonas. Pegue Terry e Maria e vão direto para o aeroporto. Eu e Verônica
sairemos daqui a pouco – ele diz empurrando Jonas porta a fora.
— Não vou a lugar nenhum, Adrian. Ainda sou seu advogado – ele diz entredentes.
— Que seja. Nos espere no lobby então. Preciso conversar a sós com ela – diz e isso me
deixa tensa.
Jonas concorda e vai embora. Adrian fecha a porta e fica paralisado alguns segundos de
costas para mim.
— Adrian... – sussurro.
Ele se vira e me olha nos olhos.
— Querida, vá se trocar, por favor. Depois precisamos ter uma conversa.
— Nada disso. Pode falar porque não vou sair daqui enquanto não me disser o que está
acontecendo – digo assustada. — O que foi, Adrian? Desembucha logo! – digo sem paciência.
Ele reluta. Seja o que for, acho que não vou gostar nenhum pouco e ele sabe disso.
Ele caminha até mim, me abraça e dá um beijo em minha têmpora.
— Alguns dias atrás as investigações sobre o acidente que matou a Sara e mais seis
pessoas recomeçaram – ele me olha e sinto um nó no peito.
— Então era por isso que andava tão nervoso esses dias? – pergunto lembrando de que
antes da viagem, Jonas e ele conversaram por um longo tempo e depois, Adrian ficou
descontrolado.
— Mais ou menos - diz e solta um longo suspiro. — Na segunda-feira, foi encontrada a
caixa preta do avião, a polícia já havia dado o caso por encerrado, mas com o aparecimento
da caixa agora eles podem ter certeza do que aconteceu de verdade naquele acidente – ele diz
e ainda não sei aonde ele quer chegar com essa conversa toda.
— E o que Jonas veio fazer aqui? Porque não me disse isso antes? – olhei para ele
chateada.
— É complicado, Verônica. Tem um monte de jornalistas lá fora esperando eu sair daqui –
ele diz com cautela analisando minha reação.
— Como eles sabem que está aqui?
— Fui reconhecido ontem no cassino, porque... Jonas me disse que saiu uma matéria sobre
nós dois nos divertindo como um casal apaixonado – escuto e tento processar tudo isso.
— Não estão achando que eu possa ser ela, estão? – pergunto com medo de ouvir a
resposta.
— Não. Descobriram sua identidade. Já haviam fotos nossas no evento em Nova Iorque.
Mas não estão aqui por você.
— E por que estão?
— Porque quando o laudo sair e se for constatado que foi sabotagem, sou um prato cheio
pra imprensa – ele sussurra quase inaudível. — Como as investigações foram reabertas, agora
viro alvo fácil de jornalistas.
— E quem teria motivos para matar aquelas sete pessoas? – digo e solto um riso nervoso.
— Não sei. Mas, a partir de hoje, estou na lista de suspeitos.
— Isso é ridículo – digo. — Por que não me contou isso antes?
— Não queria que se preocupasse comigo. Você está grávida e não queria que isso afetasse
você nem nosso filho – ele diz e se aproxima para me abraçar. Me afasto e ele me olha.
— Espere! Tem mais coisa nessa história, não tem? É, porque se fosse apenas isso, você
me contaria. E quanto a provar sua inocência, Jonas pode fazer isso perfeitamente. Então
Adrian, o que é que realmente te incomoda? O que é que está escondendo de mim? – minha
voz se eleva, mostrando meu descontrole.
Ele dá as costas para mim, visivelmente nervoso.
— Diga logo, Adrian!
Ele vem até mim e para bem perto do meu corpo.
— Havia sete pessoas naquele avião. Sara estava indo para Etiópia ajudar as crianças.
Houve um surto de doença e ela se prontificou a ir. Eles levavam comida e medicamentos. Em
algum momento eles pousaram nas Ilhas Canárias e quando o avião levantou voo, ele caiu. O
resgate na época encontrou cinco corpos. Nem o corpo do piloto e nem o da Sara foram
encontrados até hoje – ele diz com a expressão de dor. — Então, a polícia pode trabalhar com
duas hipóteses: a primeira é de que alguém tenha sabotado o avião para matar todos os que
estavam a bordo e a outra, é que o piloto e Sara, forjaram a própria morte, já que foram os
únicos que os corpos não foram encontrados. Com tudo isso, poderá ter uma pequena chance,
eu diria quase que remota, de Sara estar viva.
Adrian termina de falar, mas meu cérebro ainda processa as últimas palavras, “Sara viva,
Sara Viva, Sara viva” martela em minha cabeça.
— Isso é ridículo, Adrian! O laudo ainda nem saiu e estamos aqui falando sobre hipóteses
e suposições. Não deve ser fácil encontrar corpos no mar. Por isso ela não foi encontrada ainda. O que te faz pensar que o laudo dará que o avião foi sabotado? – sussurro e o nó em
minha garganta me sufoca.
— Jonas tem contatos. Ainda não é oficial, mas ele disse que a polícia internacional foi
acionada. Estão procurando alguma coisa ou alguém – ele diz e percebo que está inquieto.
— Eu não posso acreditar nisso – digo assustada.
— Querida, eu não acredito que ela possa estar viva – ele sussurra e me abraça.
— Me solta! – grito descontrolada e o empurro para longe. — E se ela estiver? E se
acharem ela? Meu Deus, Adrian! – começo a chorar. Se essa mulher resolve aparecer, eu
perco Adrian para sempre.
— Hei! Amor! – ele me abraça apertado e enxuga minhas lágrimas. — Sara está morta,
querida. E, mesmo que não esteja, mesmo que ela apareça amanhã ou depois... – ele diz e pega
minha mão colocando-a sobre seu peito. — Ela já está morta aqui, dentro de mim. Só tem
você agora em meu coração, Verônica. Não importa o que aconteça. Eu amo você e não vou
deixá-la nunca – ele diz e me beija.
— Porque você não viajou com ela no dia do acidente? Ela estava grávida e a deixou
sozinha, por quê? – me afasto enquanto o questiono. Não quero ter essas ideias sobre ele, mas
e se...
— Brigamos um dia antes. Aliás, brigávamos quase todos os dias pelos mesmos motivos.
Sara era ciumenta demais. Então, após a briga, eu disse a ela que não iria.
— E porque vocês brigaram? Ela te disse alguma coisa? Falou alguma coisa? – pergunto
lembrando sobre o atestado de gravidez da Alana.
— Isso já faz tanto tempo, Verônica. Porque quer saber? – ele pergunta desconfiado.
— Por nada, Adrian. Só quero que não minta e nem me esconda nada. Nunca mais. Se tem
algo a me dizer ainda, que diga, eu vou entender – digo e o abraço.
— Não tenho mais nada a dizer, meu amor. Nunca vou mentir pra você. Nunca.
A campainha toca.
— Agora é o nosso café – ele sorri.
Com toda essa conversa, meu estômago está tão embrulhado, que não sei se serei capaz de
comer alguma coisa.
***
Termino de arrumar as malas, mas meus pensamentos estão embaralhados. Não consegui
comer nada. Não sei se consigo lidar com a exposição da mídia e todos esses novos
acontecimentos. Estou nervosa e isso me assusta. Quando penso que minha vida está
engatinhando para frente, sempre aparece algo para atrapalhar.
— Vamos querida, senão nos atrasaremos – Adrian diz e deixa as malas alinhadas próximo
à porta. Olho tudo ao redor para ver se estou esquecendo de algo e pronto.
— Vamos – digo e saímos da suíte.
Adrian aperta o botão do elevador, e me e diz:
— Não responda a nenhuma pergunta caso os jornalistas se dirijam a você. Passa reto e
não diga nada. Tudo bem? – ele alisa meus cabelos tocando suavemente em meu rosto.
— Está bem – sussurro trêmula, o elevador chega e entramos.
O silêncio insuportável se instalou entre nós. O elevador apita e para no lobby.
Caminhamos lado a lado até a saída. Vejo Jonas ao lado de Terry com uma expressão
preocupada.
— Vocês demoraram – Terry diz e logo vejo Maria.
— Vamos, se é para enfrentar tudo isso, que seja logo – Adrian diz e todos nós o seguimos.
Ao sair pela porta principal do Hotel, me assusto com o alvoroço e a quantidade de
fotógrafos e jornalistas que nos assediam. Falam em várias línguas. Tento me concentrar
enquanto passo sendo fotografada e interrogada por alguns. Adrian aperta forte minha mão
puxando-me para ele e Jonas vai a nossa frente abrindo caminho.
— Sr. Miller, como andam as investigações sobre a morte da sua esposa? A perícia já
concluiu o laudo? - Uma mulher do jornal local pergunta e passamos sem nos importar em
responder.
— Sr. Miller, é verdade que há uma chance de que sua esposa esteja viva? – outro
pergunta e sinto Adrian se retrair. Começo a ficar tonta com tantos flashes, vozes e perguntas
vindas de todos os lados.
— Incrível a semelhança entre vocês duas. Como se sente sendo parecida com ela? –
ouço alguém se dirigir a mim, mas nesse momento, um zumbido invade meus ouvidos e minha
visão fica turva impedindo-me de responder. Sinto algo errado. Minhas mãos suam frio e sinto
Adrian me pagar no colo antes de apagar completamente.

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