Adrian Miller
Assim que Verônica entrou no quarto, me espantei. É incrível como ela ficou ainda mais
parecida. Idêntica, diria. Meu coração começou a bater descompassado e devo ter ficado com
uma expressão horrorizada, pois consegui ver o medo nos olhos dela.
Com todos esses acontecimentos, a abertura da investigação sobre o acidente, Charles, a
gravidez dela, eu tenho ficado tenso. Estou tentando lidar com esses problemas de forma que
não afete nosso relacionamento. Acontece que se Sara realmente estiver viva, eu não sei o que
farei. Não acredito que ela possa estar viva todo esse tempo e não ter me procurado, voltado
para casa... Não quero acreditar que todos esses anos, eu fui enganado pela mulher que amava.
Prefiro acreditar que ela está morta.
“A não ser que... Não... Não seria possível... Será que ela pode estar sem memória
perdida em algum lugar? Mas e meu filho? E se ele sobreviveu?”
Não é justo depois de tanto tempo, eu acordar e ver que meu mundo está desmoronando
mais uma vez. De uma coisa eu tenho certeza, eu amo Verônica incondicionalmente, sou louco
por ela, e, não deixarei que nada atrapalhe nosso amor.
***
Olho ao meu lado. Verônica ainda dorme como um anjo. Seus cabelos loiros esparramados
no travesseiro dão-me uma sensação de Déjà vu. Fecho os olhos não querendo lembrar do
meu passado. Tento afastar as lembranças, mas é quase impossível. Ela se mexe e vira seu
lindo rosto para mim. Abre os olhos e dá um belo sorriso.
— Bom dia – ela diz.
— Bom dia – respondo ainda observando-a atentamente.
— Dormi demais. Precisamos nos levantar – ela diz, colocando o lençol envolta de seu
corpo nu e sai da cama em direção ao closet.
— Ainda é cedo – digo. — Temos muito tempo. Só precisamos estar no aeroporto às oito e
meia – concluo olhando para o relógio que marcam sete da manhã. — Chegaremos a Las
Vegas as nove da noite.
— Achei que chegaríamos mais tarde – diz pegando sua roupa.
— Teoricamente sim. Mas se esqueceu do fuso-horário? – levanto-me e sigo em sua
direção.
— Porque não podemos fazer isso outro dia? Tem que ser mesmo lá? – ela me olha
confusa.
— Achei que quisesse ser minha esposa. Não quero esperar para ter que me casar com
você. A não ser que faça questão de festa e convidados em nosso casamento – olho para ela
que parece estar ponderando a possibilidade.
— Sabe que não tenho ninguém – diz tristemente.
Envolvo-a num abraço e a beijo.
— Você tem sim. Tem a mim, nosso filho, Terry que te adora, Maria e sua mãe.
— Mas minha mãe não poderia comparecer ao nosso casamento. Não vejo motivos para
fazermos uma festa – sussurra derrotada.
— Se você quiser, podemos esquecer o casamento em Vegas e providenciar aqui, do jeito
que preferir.
— Não. Eu quero me casar com você. Não importa o lugar, apenas quero ser sua, para
sempre – diz e meu peito fica em chamas. Ela me beija e se afasta. Sigo minha futura esposa e
entro no banheiro fechando a porta.
Após nosso banho, já estou pronto para sair.
— Querida você precisa comer alguma coisa antes de ir. Precisa se alimentar.
— Não estou com fome, Adrian.
— Você pode não estar, mas nosso filho sim – digo puxando-a para mim e a beijo. Acaricio
sua barriga e ela ri. — Não vejo a hora de sua barriga estar enorme.
— Espero que demore um pouco até eu chegar ao estágio “enorme”.
— Vai ficar linda! – exclamo. — Vou descendo para preparar seu café. Nos vemos lá
embaixo – dou um beijo em sua testa e saio do quarto deixando-a a vontade para terminar de
se arrumar.
Desço as escadas e noto Terry paralisada em frente à TV, enquanto Jonas, alheio a tudo,
carrega as malas para fora.
Paro no mesmo instante que ouço sobre o acidente no noticiário.
" A equipe de resgate encontrou na manhã de segunda-feira, a caixa preta do avião do
grupo Miller´s. O avião que decolou das Ilhas Canárias a pouco mais de um ano atrás, caiu
matando sete pessoas, incluindo a esposa do publicitário Adrian Miller. Sara Bawer Miller,
estava grávida de seis meses. O corpo dela e do Piloto Michel Reis, nunca foram
encontrados. Ainda não há maiores informações. A equipe irá trabalhar agora nas
informações baseadas na caixa preta do avião."
— Você já sabia disso? – Terry pergunta aflita.
— Sim – respondo apertando o botão do controle remoto desligando a televisão.
Sento-me no sofá e minha irmã me olha com uma cara nada boa.
— Até quando irá esconder isso da Verônica? Ela precisa saber que você está enfrentando
problemas, Adrian – diz e senta ao meu lado.
— Jonas te disse?
— O que? Que estão trabalhando com a hipótese de que o avião foi sabotado? – ela me
olha.
— É.
— Ele me contou. E sinceramente, não vejo o porquê de você esconder isso dela.
— Jonas me alertou sobre uma coisa. E... Isso me deixou muito confuso. Se for constatado,
a sabotagem, eu vou me tornar um suspeito. Você sabe disso – digo preocupado.
— Mas você não é, Adrian. E poderá provar isso caso aconteça.
— Tem mais uma coisa... Você acha que Sara pode estar viva? Acha que ela pode ter
ficado num estado inconsciente e que amanhã ou depois ela apareça? – pergunto mesmo
sabendo o quão idiota isso soa. Sara viva. Estava sonhando demais.
— Não, Adrian. Sara morreu e não tem nenhuma possibilidade dela voltar dos mortos –
Terry diz com um sorriso. — Acho que deveria contar para Verônica.
— Contar o que? – Verônica pergunta ao descer a escada. Enrijeço-me levantando do sofá
indo até ela.
— Que estamos atrasados e que você ainda não tomou seu café – digo mudando de assunto.
— As malas já estão no carro – Jonas diz passando pela porta.
— Ótimo – puxo Verônica em direção à mesa para que ela tome seu café.
— E Maria? Onde está? – ela pergunta dando um gole em seu suco.
— Foi dar algumas instruções aos empregados e ver como Max está.
— Adrian... Estava aqui pensando... Como iremos nos casar sem que eu tenha um vestido
de noiva? Não temos nem as alianças! – ela diz.
— Não se preocupe com isso. Lá teremos tempo para providenciarmos tudo – digo
afastando uma mecha de cabelo dela colocando atrás de sua orelha.
— Como assim não me preocupar? – pergunta espantada. — Mulheres se preocupam com
isso – e sorri.
— Mulheres que não tem um cara como eu, se preocupam – digo rindo.
— E a modéstia passou longe aí, não foi? – ironiza rindo.
— Só estou dizendo a verdade – digo levantando-me da cadeira. Olho em meu relógio de
pulso e estamos atrasados.
— Precisamos ir querida. E quanto ao vestido e as alianças, comparemos em Las Vegas.
***
Chegamos a Las Vegas às nove da noite. O voo foi tranquilo e Verônica dormiu quase a
viagem inteira. Triste mesmo foi aguentar Maria rezando quinze horas de viagem para que o
avião não caísse. Terry não conseguia parar de rir da coitada. Graças a Deus, tudo foi
tranquilo.
Agora estou aqui, deitado na cama de um dos melhores hotéis de Las vegas, ao lado dela,
olhando-a dormir. Não sei de onde ela tirou tanto sono. Estou tão cansado, mas ao mesmo
tempo eufórico e ansioso com o dia de amanhã. Não consigo pensar em mais nada, a não ser
no momento em que ela será oficialmente minha, para sempre.
Enquanto ela dorme, decido ligar para meu pai. Preciso saber o dia certo da festa da Miller
´s. Pelo que Terry falou, amanhã será um almoço de confraternização, mas a festa, não será
comemorada amanhã.
Pego meu telefone e ligo.
— Alô - digo.
— Adrian? Filho! - minha mãe atende. — Já está em Los Angeles?
— Pode passar o telefone pro meu pai?
— Onde está? Estávamos esperando você…
— Quero falar com meu pai, agora, por favor - digo já sem paciência.
A ligação fica muda e após alguns segundos…
— Adrian, filho!
— Oi pai. Como está?
— Estamos bem. Onde estão? Terry está com você? Achei que estariam aqui para o almoço
de amanhã - ele diz não me dando chances de falar.
— Estamos em Las Vegas, pai. Terry está comigo, assim como minha noiva, Jonas e Maria
- fico aguardando sua reação.
— Noiva? Que noiva? Desde quando tem uma noiva, Adrian? - ele diz elevando a voz.
— Pai, só liguei para avisar que chegaremos na quinta. Quando será a festa?
— No sábado.
— Está bem. Até logo - e desligo.
Volto para a cama decidido a descansar. Amanhã será um longo dia.
****
— Adrian! Adrian! Acorde! - uma voz bem lá no fundo me despertava do sono. Abri os
olhos lentamente e congelei ao ver Terry me chacoalhando desesperada.
Sento-me rapidamente e olho ao meu lado, Verônica não está.
— Pra quê esse escândalo todo? - digo enfurecido.
— Hoje é o dia do seu casamento idiota. Vai ficar aí dormindo o dia todo? - ela ri.
— Meu Deus, Terry! Quer me matar de susto? Onde está a Verônica?
— Ela saiu com a Maria atrás de um vestido - ela diz sorrindo.
— E porque ela não me esperou? Droga! - me levanto para tomar um banho.
— Porque o noivo não pode ver a noiva antes da hora do casamento? - ela diz com ironia.
— Que papo antigo, Terry. Vai me dizer que acredita em Papai Noel também? - pergunto e
ela joga o travesseiro na minha cara.
— Está perdendo tempo. Jonas já arrumou toda a documentação necessária. O casamento
foi marcado para as seis da noite. Agora só falta você comprar as alianças - ela diz se jogando
em minha cama.
— Vá cuidar do seu namorado e me deixe - rio e fecho a porta do banheiro.
Quando termino encontro Terry ainda deitada em minha cama.
— Sua suíte é melhor do que a minha. Isso não vale - ela diz e faz beicinho.
Realmente, a minha suíte era uma das melhores e a mais cara também. Não que eu fizesse
questão, mas quero que nossa noite de núpcias seja inesquecível.
— Olha pra isso - ela diz contemplando a beleza do lugar. — Tudo aqui é lindo. Sem
contar a cama. Os móveis são fantásticos. E aquela sala de cinema? Céus o que é aquilo?
Amei as cortinas de controle remoto, a iluminação, aquele salão privado com piscina… É tão
romântico… - diz entre suspiros.
— Estou esperando você cair fora para poder me trocar – a encaro, divertido.
— Não vou sair daqui. Sua suíte é o paraíso! Vou te ajudar hoje.
— Ah não vai mesmo - tiro a toalha e a jogo na cama.
— Adrian! Não quero ver meu irmão pelado - ela cobre os olhos.
— Então saia do meu quarto.
— Nem morta. Estou até pensando em chamar o Jonas e vir para cá.
— Não exagere. Vocês estão na suíte presidencial - digo colocando minha boxer e calça.
— E você numa Chairman. É a melhor… - ela ri.
— Vai ficar aqui discutindo sobre isso ou vai me ajudar?
— O que quer que eu faça?
— Preciso comprar minha roupa e as alianças. Como a Verônica irá comprar o que precisa
se os cartões estão comigo? - pergunto confuso.
— Eu dei o meu a ela. Não se preocupe.
— É maninha. Às vezes até que você não é tão má.
— Nunca fui má com ela. Talvez… um pouco chata. Mas eu percebi que ela é bem melhor
do que realmente aparenta. Ela te ama e te faz feliz, gosta de mim, é isso que importa.
— Nossa! - digo colocando minha camisa e gravata.
— Vai sair desse jeito? Estamos em Vegas, Adrian. Será que não pode relaxar ao menos
hoje e colocar uma roupa “menos” formal? - ela pergunta dando ênfase no menos. — Está
parecendo muito sério com esse terno, credo.
— Sou um executivo, irmãzinha. Vou entrar numa loja de joias caríssima de bermuda e chinelo havaianas para comprar as alianças? - a olho e tenho até medo do que ela vai
responder.
— Não precisa ser tão radical. Poderia usar um jeans e camisa. Não vai deixar de estar
elegante - ela ri.
— Igual você pensa que está de shorts rasgado, mini blusa e salto alto? Acho que não. Você
está parecendo uma garota rebelde de quinze anos.
— Tá legal, vovozinho. E fique sabendo que meu short é customizado, está na moda - diz
finalmente levantando da minha cama e seguindo em minha direção. Arruma minha gravata
cuidadosamente e dá um beijo em meu rosto, dizendo:
— Vamos. Só estamos perdendo tempo.
— Ok. Vamos!
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Somente Seu
ChickLitHoje faz uma semana que Adrian e eu nos separamos. Desde que saiu do meu apartamento, não voltou a me procurar. Acho que ele realmente desistiu de mim. Fiquei trancada em casa todos esses dias, procurando uma forma de resolver minha vida. Eu precisa...