capítulo 25

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Verônica S. Miller
Acordo com uma dor de cabeça enorme. A claridade transpassa pelas cortinas claras
cegando-me por um momento. Adrian está dormindo ao meu lado de bruços com os braços
debaixo do travesseiro.
Levanto-me da cama devagar e noto que ainda estou com o vestido que usei na festa. Levo
a mão à cabeça e tento me lembrar como foi que vim parar no quarto depois de toda aquela
confusão.
Caminho até o closet e pego uma roupa. Preciso urgente de um bom banho.
Quando termino, saio do banheiro enrolada somente numa toalha e me troco. Começo a
fazer minhas malas enquanto Adrian segue dormindo feito pedra. Não ouço nada. A casa está
em completo silêncio. Quando olho no relógio de cabeceira, ele marca sete e meia da manhã.
Acho que todos ainda estão dormindo.
Arrumo minhas coisas e a de Adrian. Assim que acabo, ouço batidas na porta e em seguida,
alguém abre a porta.
— Oi! – Terry sorri. — Desculpe entrar assim, só queria saber se estava bem.
— Oi – caminho até ela. — Terminei de arrumar as malas. Quero ir embora assim que
Adrian acordar.
— Nossas malas estão prontas. Alana foi embora bem cedo – ela diz cautelosa.
— Ainda bem que ela já foi. Não sei qual seria minha reação se olhasse na cara dela mais
uma vez – digo irritada.
— Acha que meu irmão acreditou nela?
— Creio que ele não tenha acreditado nela. Acho que ele está chateado por eu não ter dito
a ele – sussurro para não acordá-lo.
— Meu irmão é um idiota. Deu vontade de quebrar a cara dele. É isso que sempre faz.
Sempre defende aquela vaca. Parece até que ela exerce algum tipo de poder sobre ele – ela
diz me deixando pensativa.
— Se ele não se livrar dela, Terry, eu me separo dele. Não quero viver na sombra de
ninguém. Detesto todas às vezes que ele me compara com a Sara. Ele só faz isso, quando ela
está por perto – digo e ouço Adrian balbuciar algumas palavras. Olhamos para ele, mas ele
ainda dorme.
— Acorde ele e vamos embora. Já falei com meu pai e ele disse que minha mãe não irá
mais incomodá-la – ela diz pegando em minhas mãos abrindo um sorriso.
— Tudo bem – respondo e ela se vai.
Fecho a porta e assim que me viro, Adrian se senta na cama e me olha.
— O que minha irmã queria? – pergunta com a voz rouca, ainda sonolento.
— O mesmo que eu, ir para casa – respondo sem olhá-lo indo em direção ao closet para
pegar minha bolsa.
— Faz tempo que está acordada?
— Tempo suficiente para ter arrumado todas as nossas coisas – respondo impaciente. — Se
puder se apressar, não quero ficar aqui nem mais um segundo – digo, agora olhando-o firme.
— Certo – ele diz me encarando. — Vai ser assim agora?
— Assim como, Adrian?
— Fria – sussurra. — Ainda está chateada por ontem, posso ver.
Vou até a poltrona onde coloquei sua roupa, junto tudo e pego colocando em meus braços.
Caminho até ele e jogo tudo ao seu lado.
— Aqui está sua roupa. Não demore no banho – digo e saio do quarto.
No corredor, esbarro com Terry levando sua mala.
— Maria preparou seu café. Quer que peça a ela para trazer pra vocês?
— Não. Vou tomar lá na cozinha mesmo. Estou tentando dar um gelo no seu irmão –
resmungo.
— Hunf! É merecido – ela ri.
— Bom, vamos descer e tomar nosso café então – ela diz e descemos as escadas sorrindo.
****
Chegamos ao aeroporto internacional de Los Angeles. Adrian fez nosso check-in enquanto
fiquei sentada ao lado de Maria mais preocupada em chegar logo ao Brasil. Nossa saída da
casa dos pais dele foi mais difícil do que pensei. Nora não perdeu a oportunidade de me
atacar verbalmente e iniciou outra discussão com Adrian. Já seu pai, eu não tenho do que
reclamar, apesar de saber que não sou a nora dos sonhos, até que ele foi cortês.
Não dirigi a palavra a ele até agora. Preferi dormir quase todo o voo. Pelas minhas contas,
mais uns dez minutos e estaremos desembarcando em Guarulhos.
— Já estamos chegando – Terry diz para Jonas a nossa frente.
Maria ainda dorme. Ela precisou tomar um remédio para dormir. Acho que ela não se
acostumou com a primeira viagem, mas desta vez pelo menos não ficou rezando igual doida.
Assim que estamos prestes a aterrissar, ouço a aeromoça dar as instruções de segurança e
algumas baboseiras.
Ao piscar de olhos, já estamos saindo do avião e logo pegando um táxi de volta para casa.
***
Lar doce lar. Não há nada melhor do que estar em sua casa. Assim que abrimos a porta de
casa, Max corre até mim, pula em meu colo e quase me derruba.
— Hei, Max! Sentiu falta da mamãe? – pergunto abraçando-o e alisando seus pelos. Ele
lambe meu rosto de forma carinhosa, feliz ao me ver.
— E aí, amigão! – Adrian o chama e ele corre para ele abanando o rabo. — Não esqueci a
promessa de encontrar uma namorada pra você – ele ri.
Deixo Adrian e entro em casa. Peço aos empregados que levem as malas até nosso quarto.
Terry foi direto para casa de Jonas. Disse que dormiria lá hoje. Olho no relógio que marcam
quase sete da noite. Assim que Adrian entra na sala, digo:
— Pode me emprestar seu carro?
— Por quê? Aonde vai? – ele pergunta intrigado.
— Vou visitar minha mãe.
— Agora? Verônica, você não vai. Já está tarde e...
— Não estou te pedindo permissão, Adrian – digo me sentindo insultada. Não sou uma
criança.
— Acabamos de chegar de uma viagem de mais de doze horas. Você precisa descansar.
Porque não liga pra clínica? Amanhã você faz uma visita – ele diz enquanto caminha até o bar
e se serve de uísque.
— Quero saber se ela está bem.
— Pode fazer isso por telefone – ele insiste. — Quero que marque também uma consulta.
Precisa começar a fazer o pré-natal. Quanto ao carro – ele me olha fazendo uma pausa. — Na
semana iremos comprar um pra você. Não quero você com o Porche. É perigoso – ele conclui.
— Vou para o quarto – digo e subo as escadas deixando-o na sala.
Entro em meu quarto e vou direto ao telefone. Pego o cartão do médico dela e ligo direto
para ele.
— Carlos – ele atende.
— Boa noite, Dr. Carlos. Quem fala é Verônica Sandler, tudo bem?
— Boa noite, Srta. Sandler. Aconteceu alguma coisa?
— Ah não! Desculpe ligar a essa hora é que só queria informações sobre o quadro de
saúde da minha mãe.
— Ela teve uma melhora significativa. Porém, ainda permanece da Unidade de Terapia
Intensiva.
— Uma melhora! – exclamo.
— Sim. Ela está respondendo bem ao tratamento. Acredito que dentro de mais algumas
semanas, se tudo ocorrer bem, ela volte para o quarto – ele diz e me sinto aliviada. — Pode
vir visitá-la amanhã.
— Irei. Obrigada, doutor. Nos vemos amanhã então – digo e desligo. Adrian está parado,
encostado no batente da porta. Ele me olha e sorri. Seu sorriso me desarma por um instante,
mas quando lembro dele defendendo aquela sonsa, volto a fechar a cara.
— Está tudo bem? – ele pergunta.
— Sim – dou as costas para ele. Pego as malas, coloco em cima da cama e começo a
desfazê-la.
— Eu peço pra Maria fazer isso amanhã. Porque não toma um banho e descansa? – ele
pergunta e logo sinto suas mãos invadirem meu corpo.
— Eu posso fazer isso – digo me desvencilhando de suas mãos hábeis.
— Qual é o seu problema? – ele diz irritado elevando a voz deixando-me com mais raiva
ainda.
— Eu é que pergunto. Qual é o seu problema, Adrian? Acha que eu esqueci de tudo que me
disse ontem? Não! Não esqueci e está tudo entalado aqui, na minha garganta – olho para ele
furiosa.
— Não vou discutir com você. Não fui eu quem mentiu. Foi você – ele aponta para mim
esbravejando.
— Não menti pra você. Apenas não contei, é diferente.
— Pra mim é a mesma merda – ele diz furioso.
— Você defendeu aquela vaca, na minha frente, Adrian. E agora acha que eu deveria estar
sorrindo pra você? – elevo a voz. — Às vezes penso que faz isso só para me irritar.
— Não seja ridícula – ele zomba. — Você é que quis me irritar se esfregando naquele
babaca do Jason.
— Não o coloque no meio. Não é dele que estamos falando – me irrito. Como ele pode ser
tão cínico?
— Como não? – ele pergunta se aproximando de mim e me segura pelos braços. — Pensa
que não vi a forma como ele tocava em você? Que não vi os sussurros um do outro ao pé do
ouvido? As mãos dele em sua bunda? – ele pergunta entredentes me olhando com seus olhos flamejando.
— Como você mesmo diz você está vendo coisas demais. Sabe o que é isso né? Ci-ú-mes.
– digo soletrando pausadamente deixando-o com raiva. — Ah! Como é mesmo que você fala
pra mim? – zombo. — Detesto cenas de ciúmes, lembrei – ironizo. — Eu também detesto –
digo e puxo meus braços de seu aperto.
— Vou tomar meu banho – ele se irrita.
— Isso. Vá mesmo. Pois não vou falar com você até que se livre daquela vaca. Entendeu? –
digo e ele me ignora entrando no banheiro.
Nem morta vou deixá-lo me fazer de idiota.

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