Hoje completa três dias que Adrian viajou. Estou animada por saber que daqui a pouco, ele
estará em casa. Já passa das sete da noite. Meu dia foi tranquilo. Quase não saí de casa nesses
dias. Terry foi para casa de Jonas e fiquei sozinha aqui, com Maria.
Adrian me ligou ontem pela manhã logo depois que recebi suas flores. Sempre tão
romântico e gentil. Já estou mal acostumada em ser tão mimada por ele.
Saio da varanda e caminho pelo quarto, descalça. Meu telefone toca e vibra como um louco
em cima do aparador. Quando pego o celular, vejo a foto sorridente de Adrian. Sorrio.
— Oi amor – digo cheia de entusiasmo.
— Oi minha linda – ele diz parecendo chateado.
— O que foi? – pergunto ao ouvir sua voz.
— Amor, eu estou ligando pra avisar que só irei para casa amanhã de manhã – ele suspira
pesado.
— Por quê? Como assim? Você disse que estaria aqui hoje – resmungo. — O que
aconteceu?
— Não sei. Deu problema no carro. Acionei o seguro e pedi um carro reserva, mas sem
chance. Vão demorar uma vida.
— Não acredito – digo com a voz desanimada.
— Vou dormir por aqui. Já até fiz reserva numa pousada aqui na estrada. Amanhã estarei aí
ao seu lado sem falta – ele diz e me entristeço.
— Tudo bem. Estou sentindo sua falta. Promete que se eles te mandarem outro carro logo,
você volta ainda hoje?
— Eu prometo. Estou morrendo de saudades de você – ele diz de um jeito carinhoso. —
Quando chegar aí, não vou te largar nem por um minuto.
— Se cuida amor. Qualquer coisa me ligue. Vou deixar o celular ligado – digo e me
despeço.
Mais uma noite sozinha.
Desço as escadas e encontro Maria na cozinha.
— Maria, Adrian ligou e disse que só voltará amanhã. Se quiser servir o jantar, fique à
vontade. Só seremos nós duas – ela me olha e assente.
— Aconteceu alguma coisa? – ela pergunta me encarando.
— Nada. Apenas o carro que quebrou no caminho.
— Adrian é tão teimoso. Não sei por que ele insistiu em ir dirigindo. Poderia ter ido de
avião – ela diz e concordo mentalmente.
— Posso servi-la agora?
— Pode sim.
Termino meu jantar e recolho as louças sujas de cima da mesa, depositando-as na pia.
— Pode deixar que eu faço isso – Maria intervém.
— Eu posso ajudar Maria. Já estou começando a me sentir uma inútil sem ter nada para
fazer.
— Vá descansar querida. Amanhã ele estará em casa – ela sorri vendo minha aflição.
— Vou ler um pouco. Não vou conseguir dormir sabendo que ele está por aí – digo
inquieta.
— Ele é bem grandinho, Verônica – ela ri. — Pode ir, eu termino aqui. Vou descansar
também. Se precisar de algo, é só me chamar – diz acariciando meu ombro e me abraça.
— Boa noite – digo e saio.
Entro em meu quarto e vou até a pequena estante onde guardo meus livros. Pego um livro
qualquer e me jogo na cama. O tempo passa enquanto leio os capítulos tensos de No Escuro.
As horas voam e quando dou por mim, já estou na metade do livro. Olho no relógio que
marcam dez da noite. Fecho o livro e devolvo-o para seu devido lugar. Preciso de um bom
banho para relaxar e cair na cama.
Após o banho, agora totalmente relaxada, pego o celular para ver se há alguma mensagem
dele. Me decepciono. Ele não ligou e nem enviou uma mensagem sequer. Deve estar cansado
e acabou adormecendo. Penso comigo mesma. A única coisa que resta, é fazer o mesmo.
Dormir para ver se hora passa mais rápido.
Acordo assustada. Meu telefone toca desesperadamente. Olho no relógio e já é de
madrugada. Acendo o abajur ao meu lado e atendo rapidamente sem olhar no visor. Deve ser
ele.
— Adrian – digo com a voz sonolenta.
— Verônica, por favor, me ajude – uma voz assustada e embargada pelo choro toca meus
ouvidos.
— Alô? Quem está falando? – pergunto confusa.
— Sou eu, Sônia.
— Sônia? – me espanto. — O que foi?
— Eu preciso da sua ajuda. Por favor – ela chora.
— Sônia, o que aconteceu?
— Eu estou com medo – diz descontrolada. — Não estou me sentindo bem, preciso ir pro
hospital.
— Oh Merda! Onde você está? – pergunto pulando rapidamente da cama e procuro uma
roupa.
— Em casa. Por favor, Verônica. Eu não tenho mais ninguém pra pedir ajuda. Só você – ela
implorava aos prantos.
— Não saia daí. Já estou indo – digo e desligo.
Merda! Quando ela irá parar de usar essas merdas? Aposto que deve estar drogada outra
vez.
Coloco meu jeans, sapatilha e uma mini blusa azul. Pego um casaco e as chaves do carro.
Desço correndo as escadas. Droga! Droga! Droga! Eu prometi a ele que não sairia de casa,
merda!
Olho no relógio de parede, uma da manhã.
Abro a porta da sala e saio.
Merda! Não posso deixá-la assim.
Pego o telefone e ligo para Terry.
— Vamos Terry, atenda!
Nada.
Ligo outra vez. Caixa postal.
Droga!
Logo estarei de volta. Ninguém nem irá sentir minha falta.
***
As ruas estão completamente vazias. O escurecer da noite deixa o lugar ainda mais
sombrio. Estaciono um pouco antes de seu prédio. Saio do carro e ligo o alarme. A noite está
ainda mais fria. Passo rapidamente por alguns carros estacionados na calçada e caminho em
direção ao prédio onde ela mora. Dou alguns passos e sinto alguém atrás de mim. Quando me
viro, o pânico toma conta do meu corpo me deixando estática.
— Charles! – sussurro com um fio de voz.
Tento correr, mas sou impedida por alguém enorme que me agarra e tapa minha boca para
que não grite. Me debato tentando me desvencilhar dos braços do homem de jaqueta de couro
preta e óculos escuros que aterroriza minha mente. Eu apenas ouço meus próprios gritos
contidos e abafados por sua mão enorme. O homem me arrasta sem muita dificuldade e me
joga no banco traseiro de uma Blazer preta. Bato com a cabeça contra o banco e logo sinto
alguém sendo jogado em cima de mim.
Sônia!
Olho para ela com horror. Minha vontade é de esganar essa filha de uma puta. Mas o
pânico que sinto no momento me impede de raciocinar. Estou apavorada.
Num movimento rápido, o carro arranca do local e pega a estrada.
Charles está sentado no banco da frente ao lado do homem assustador. Um louco. Olho para
ele pelo retrovisor e quando ele me olha, desvio o olhar. O silêncio é quebrado e a voz dela
se espalha pelo carro.
— Me desculpe! – sua voz sai como súplica. — Ele me obrigou Verônica. Não tive
escolha.
A olho com nojo. A cada minuto que passo dentro do carro, me sinto ainda mais
desesperada.
— Isso não tem graça, Charles. Pare o carro. Quero ir pra casa – digo com autoridade. Ele
apenas me olha com seus olhos frios e sua expressão gélida. Inabalável.
— Está surdo? Pare essa merda ou eu vou começar a gritar – digo num tom mais alto e ele
ri. Seu riso diabólico me assusta. Me deixa desnorteada.
— Pode parar Paschoal. Encoste – ele dá a ordem para o troglodita.
Quando o carro para, tento abrir as portas, mas elas estão travadas.
Charles sai de seu assento sem a menor pressa. Abre a porta do lado em que Sônia está e a
puxa pelos cabelos fazendo-a grunhir.
— Sente-se aqui – ele diz friamente colocando-a no banco da frente. Engulo seco. Ele abre
a porta e se senta ao meu lado. Quando se ajeita, ordena:
— Pode seguir – conclui e pede para que o homem suba o vibro. Olho para ele confusa até
que vejo o vidro preto subir separando-nos deles. Ele me olha e sorri. Seria até um sorriso
lindo, se eu não soubesse o que havia escondido por detrás dele. Charles é um sádico. E
certamente está excitado ao sentir o cheiro do medo em mim.
— Senti sua falta – ele diz ajeitando seu terno preto que certamente, lhe custou uma fortuna.
Sua aparência continua a mesma. Fria e assustadora.
— Não posso dizer o mesmo – rebato ainda assustada.
Ele retira de dentro do paletó um pequeno pano branco. Um lenço. E do bolso, um pequeno
frasco transparente com um líquido incolor.
— Você sabe o que vai acontecer com você se não me obedecer, não sabe? – ele me olha.
— Por favor, Charles. Me deixe ir para casa – imploro. Meu corpo começa a tremer com a
possibilidade de ele me matar e me jogar em alguma vala qualquer. A imagem do dia em que
Adrian contou o que ele fez com uma de suas submissas me veio à cabeça. — Por favor! Me
deixe ir – implorei mais uma vez.
— Nunca, Verônica. Nunca! – ele diz olhando em meus olhos e vejo em seu olhar que o que
ele diz, não pode ser mudado. Ele realmente, não tem a intenção de me deixar partir.
— Isso não vai doer. Apenas lhe fazer dormir – diz calmamente enquanto joga o conteúdo
do frasco no lenço branco. — Será rápido e indolor.
— Não Charles, por favor, não – digo desesperada tentando me manter o mais longe
enquanto ele se aproxima. Começo a gritar e a me debater. Ele me puxa pelos cabelos e eu
consigo acertá-lo com um chute. Ele trava minhas pernas e me puxa. Minhas costas se chocam
contra o assento e ele me bloqueia com seu corpo pesado, prensando-o em cima do meu.
— É assim que tem que ser querida – diz.
As minhas lágrimas caem no momento em que ele coloca o pano em minhas narinas e então,
após alguns segundos, tudo vira um borrão.
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Somente Seu
ChickLitHoje faz uma semana que Adrian e eu nos separamos. Desde que saiu do meu apartamento, não voltou a me procurar. Acho que ele realmente desistiu de mim. Fiquei trancada em casa todos esses dias, procurando uma forma de resolver minha vida. Eu precisa...