Vínculos

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Murilo rolou para o lado, ofegando, estendeu o braço e a trouxe para perto, passando a mão com carinho em sua cintura, depositando um beijo em seus lábios.
Martina mal conseguia respirar, devido as emoções que tomavam conta de sua alma. Fechou os olhos como se quisesse guardar dentro de si aqueles momentos mágicos. Murilo a tinha tratado com muito carinho e paciência, diferente do homem com quem estava acostumada a implicar. Ele era simplesmente maravilhoso na cama.
Os pensamentos dela foram interrompidos por sua voz calma. Ela abriu os olhos se deparando com o sorriso lânguido dele. Retribuiu levantando o canto dos lábios preguiçosamente.
__ Está com uma cara de quem comeu doce e se lambuzou. - descontraiu Murilo.
Diante da brincadeira, ela podia jurar que ele estava mais feliz do que ela.
__ Depois de toda a ansiedade que passei, agora estou bem.
__ Sexo é a melhor terapia para desestressar. Não te condeno por ficar ansiosa. Foi sua primeira vez e eu também estava ansioso porque tive que superar medos.
__ Teve? - ela franziu a testa, se erguendo no cotovelo, analisando seu rosto em busca de respostas.
__ Sim. Pela primeira vez, em minha vida, fiquei com medo de não superar as expectativas de uma mulher.
Martina riu, totalmente relaxada, ouvindo aquela confissão e foi como se naquele instante, um vínculo se criasse entre eles.
__ Jamais pensei que pudesse ser tão bom, Murilo. - confessou, seu olhar em análise de seu rosto.
Murilo se aproximou trazendo seus lábios para se juntar aos dele, a beijando levemente, desceu a mão pelo trançado de seu cabelo, desamarrando o elástico, quase que invisível, que se confundia com a cor de seus cabelos.
__ Prefiro eles soltos. Na minha ansiedade de te ter, esqueci de soltá-los. - sorriu, desmanchando a trança e passeando com a ponta dos dedos por seu pescoço, brincando sensualmente, contornando seu seio, parando em sua cintura.
Martina fechou os olhos de leve para apreciar aquele carinho. Seu coração transbordava com a descoberta de estar o amando e cada toque dele na sua pele, era como se fosse, uma declaração de amor, entretanto, realidade bateu em sua mente, a lembrando que para Murilo era apenas cama, mas para ela dali para frente, seria ter a chance de viverem um tempo juntos, na esperança que ele viesse a lhe amar.
A voz dele interrompeu seus pensamentos:
__ Acho que precisamos de um banho. - levantou subitamente, indo em direção ao banheiro.
Ela também levantou, um pouco dolorida e o seguiu, pegando alguns objetos de uso pessoal na valise. Não entendia muito bem, Murilo, que passava de um semblante carinhoso, a contrariado em questão de minutos.
Sua insegurança voltou e a dúvida de ter dito ou ter feito algo que não o agradou, assolou seus pensamentos.
Entrou no box, ligando a ducha, prendendo os cabelos com uma piranha e deixou que a água morna caísse sobre seu corpo, deslizando as mãos ensaboadas com o sabonete líquido por ele. Murilo demorou um pouco, para se juntar a ela e a segurando pelos ombros, fez virar de costas e seus olhos pousaram na mancha roxa.
__ O que aconteceu, Martina? Porque está com este hematoma?
Martina sem jeito, tentou inventar uma desculpa qualquer, que foi refutada por ele.
__ Gostaria que não mentisse. Não suporto mentiras! Como isso aconteceu? - deslizou os dedos sobre a pele arroxeada.
Ela suspirou, se virando, lavando o rosto, para não que não visse sua mágoa.
__ Não vou te enganar. Só que tenho vergonha, Murilo! Estou com 22 anos e não sei como me defender do meu pai.
Murilo trancou o maxilar.
__ Sabia que só poderia ter sido ele! - bufou. __ Será a última vez, que ele faz isso com você! Vou ter uma conversa com ele!
__ Será em vão, Murilo, apanhei porque não mantenho minha boca fechada e me recuso a ser submissa a ele. Infelizmente, não consigo! Sempre foi assim, não vai mudar, a não ser que eu dê um basta nisso, fazendo algo contra ele.
Otto quer levar sua amante para morar na nossa casa. Minha mãe não merece isso! Não aceito este tipo de comportamento! - ao mesmo tempo, veio a sua mente, a lembrança de Paula. Praticamente, com ela seria a mesma coisa. A ex amante de Murilo e ela morariam sob o mesmo teto.
Enfim, suspirou, admitindo que no fundo, os homens eram todos iguais!
__ Talvez, se ofenda do que vou te falar... seu pai não gosta de você! - acariciou sua bochecha com o polegar, para amenizar o efeito de suas palavras.
__ Não me ofendo. Ele nunca me amou, eu sei. Só devo respeito e consideração a minha mãe; nem Diego merece nada da minha parte, ele concorda com tudo o que meu pai faz ou diz. Na vida do Sr. Otto Montesinos, sou o potinho de ouro em substituição de mamãe. Já estou preparada, porque quando ela se for, ficarei sozinha. - sua voz soava carregada de mágoa.
__ Em breve, não estará mais sozinha, vamos casar.
__ Acho que não entendeu. Ficaremos juntos dois anos... mesmo que tenha um filho seu, não poderei ficar com ele, faz parte do contrato. Não se preocupe, se isso acontecer, vou pagar minha dívida, mesmo que custe minha sanidade mental.
Murilo a puxou para perto e a abraçou.
__ Em dois anos, muita coisa pode acontecer, Martina, ninguém sabe o dia de amanhã.
__ Pra mudar minha sina, só se eu morrer neste meio tempo. Sabe, há quase um ano que tomei conhecimento da gravidade da doença de minha mãe e que sua sobrevida não passa do ano que vem, por isso concordei com esta loucura toda. O bem estar dela, pra mim, no momento, é o mais importante! Aos 12 anos, comecei a duvidar do caráter de Otto e a certeza veio agora, quando me vendeu a você! Nada será como antes e depois que nos separarmos, não pretendo voltar a morar com ele. Vou superar tudo isso de um jeito ou de outro, pode apostar! - tentou se convencer segurando as lágrimas, não ousaria chorar e ser repreendida novamente por ele.
Estendeu o braço e pegou o roupão, saindo do box.
Soltou os cabelos e os escovou em frente aos espelhos; Murilo passava a toalha no corpo molhado, enquanto a observava, logo a enrolando na cintura.
A magia do momentos anteriores, na cama, tinham se esvanecido como a fumaça da água quente. Ambos agiam em silêncio, cada um com seus pensamentos.
Martina passou por ele e indo em direção a cama, puxou o cobre leito, jogando em um canto qualquer. Murilo se aproximou e ela indagou:
__ Onde posso arranjar uma coberta? Esta está suada e com algumas manchas de sangue. - tentava se manter fria e objetiva. As lágrimas beiravam as pálpebras.
__ Martina... - ele a agarrou pelo braço, a fazendo se virar. __ Está sofrendo por antecipação! Vamos dar tempo ao tempo. Hoje, foi uma noite especial pra você, não vamos estragar isso, por favor! Esquece seu pai por enquanto! Vou me entender com ele, pode ter certeza. Nunca mais encostará um dedo em você, eu prometo! - a puxou de encontro ao seu peito e abraçou.
Martina continha as lágrimas.
__ Tem razão, quando diz que foi especial. Tenho agora, só que me preocupar com minha mãe, com você acho que as coisas darão certo e como mesmo disse, não será tão difícil assim, ficarmos dois anos juntos. - concordou.
Ele beijou o alto de sua cabeça.
__ Pode deitar, vou pegar um edredom pra gente. - saiu em direção ao closet; voltando, estendeu sobre ela, ligando o ar condicionado no máximo.
__ Espero que não se importe. Durmo sempre assim.
__ Não, tudo bem. - disse tirando o roupão, embaixo do edredom, ficando nua novamente.
Murilo fez a volta na cama, arrancando a toalha da cintura e por mais que ocultasse, os olhos de Martina insistiam em percorrer o corpo bem feito, a musculatura dos braços, os gominhos na barriga...Ele percebeu seu olhar de cobiça e sorriu, se enfiando na cama, para ficar junto dela.
__ Vem cá! - ordenou, mas em tom de carinho, passando o braço, a trazendo para que se deitasse em seu ombro. __ Vamos dormir um pouco, acho que não aguenta um segundo round. -relaxou em tom de brincadeira.
Martina se aconchegou mais, sentindo o calor que emanava dele, passando o braço por cima de sua barriga. Em minutos, ouviu-o ressonar, o que era compreensível, pois havia chegado de viagem naquele dia.
Ficou um tempo, esperando o sono chegar, pensando em tudo o que tinha acontecido e o quanto tinha sido bom.
Adormeceu sentindo uma sensação de estar sendo protegida, apesar de estar dormindo com seu inimigo íntimo.

Quando ela acordou, sentiu o peso do braço de Murilo por cima de seu corpo, a mão em seu seio esquerdo.Tentou se desvencilhar sem acordá-lo, o que foi impossível.
__ Aonde vai? - a voz sonolenta indagou.
__ Acho que deve ser tarde, Murilo. - tentou alcançar seu iPhone.
__ Não importa. O dia é nosso! Como passou a noite? - indagou se virando, ficando escorado no cotovelo a encarando.
__ Dormi bem. - a cena deles fazendo amor veio a sua cabeça.
__ Achei que ao menos me daria um beijo de bom dia, antes de sair da cama.
Martina sorriu e se inclinou para alcançar sua boca, depositando um selinho.
__ Não assim. - reclamou. __ Sabe o que eu quero.
__ Sei? - arqueou a sobrancelha.
__ Sim, quero que me beije, me acaricie sem sentir vergonha nenhuma, Martina. - pegou sua mão a guiando por seu peito, descendo até os gomos da musculatura da barriga, parando em seu membro, já duro. __ Sexo é isso, troca de prazer, Martina.
Ela afastou a coberta e correu os olhos pelo corpo dele, o desejo tomando conta, apertou seu membro, o sentindo pulsar sob seu toque; massageou calmamente. Murilo gemeu de prazer. Sentindo-se poderosa, guiou seus lábios a procurarem os dele e o beijou com volúpia, introduzindo a língua, brincando com seu desejo, o excitando ainda mais.
Murilo subitamente, a trouxe para cima dele e Martina, agora, sentada, sentia o membro avantajado, roçando em sua entrada. Ele estendeu as duas mãos, agarrando seus seios, brincando e apertando de leve, os bicos. Martina mordeu o lábio inferior, gemendo baixinho e uma das mãos dele subiu, parando em sua nuca, forçando para que seus lábios se juntassem novamente. Ela num gesto instintivo, rebolou em cima dele e Murilo entendeu o que aquilo significava; ajeitou para lhe penetrar, bem devagar, com cuidado, para não lhe machucar.
Martina sentiu deslizar-se e ser preenchida em totalidade por seu membro e tê-lo assim, era algo maravilhosamente, prazeroso. Se mexeu, primeiro, devagar, subindo e descendo, enquanto era acariciada nos seios e aos poucos foi aumentando, conforme sua urgência em sentir prazer. Murilo estocava cada vez mais fundo, mantendo controle para para lhe dar um orgasmo, o que não demorou muito e a fez estremecer em ondas, que sacudiram seu corpo todo, lhe deixando alucinada de prazer. Ela gemeu alto sem nenhum pudor, perdendo o total controle sobre seus atos. Murilo veio em seguida, esguichando todo seu líquido dentro dela, ofegando com o orgasmo intenso que sentia.

Assim que as sensações de prazer se acalmaram, Martina deixou-se cair por cima do peito dele, seus corações batendo fora do compasso, seus cabelos se emaranhado por todo o rosto e corpo de Murilo.
O torpor do orgasmo, os fazendo apreciar aquele momento só deles.
Murilo procurou seus lábios para um beijo, agora de agradecimento, afastando os cabelos dela.
Martina rolou para o colchão, ficando deitada de barriga para baixo, enquanto recobrava os sentidos, que o prazer tinha lhe tirado.
Ele ficando de lado, correu os dedos por sua coluna e esse simples toque a fez se arrepiar. Seus dedos pararam no hematoma.
__ Dói? - indagou.
__ Um pouco. Com a violência do tapa, perdi o equilíbrio e caí, batendo na ponta da mesa do escritório de papai. Na hora enxerguei estrelas.
__ Martina, eu sei que as atitudes dele te magoam. Um pai jamais poderia agir assim. - disse em compreensão.
__ Tem coisas que você não sabe, aliás, sociedade de San Martin nem sonha.
__ Tipo? Alguma vez, ele abusou de você? - indagou com raiva, sendo apressado na conclusão.
___ Não. Isso nunca! Minha mãe... Não foi um casamento por amor, entende? Foi mais ou menos, assim como o nosso, uma conveniência. Ela aceitou porque estava grávida de mim. Me contou que casou por amor, mas ele não. Meu pai a seduziu e a engravidou para poder por a mão na fortuna do meu avô. Minha mãe é filha única.
___ Há tempos, que sei que seu pai não vale nada! - desabafou contrariado. __ Martina, nosso casamento é uma conveniência, como você disse, mas jamais a faria sofrer assim! Às vezes, me descontrolo...e convenhamos, você colabora para isso! Enfim, comigo estará segura, ninguém vai te magoar. Presumo que nosso caso seja diferente, você não me ama e eu também não, então, não vamos nos preocupar. Acabamos de provar que nos damos bem melhor na cama, do que fora dela.
Martina fechou os olhos, fisicamente ele não a machucaria, mas emocionalmente, talvez, já estivesse se machucando.
Um filho poderia ter sido gerado e isso ela sabia que não suportaria perder, mas por hora, preferiu não sofrer por antecipação. Sorriu espantando a insegurança, queria aproveitar aqueles momentos com ele, estava apaixonada e por um instante lembrou da mãe, que casou, com só ela amando.
Estou repetindo a sina de minha mãe! - concluiu com tristeza.

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