Martina acordou na manhã seguinte e o ícone de uma mensagem surgiu em seu celular. Olhou as horas e viu que já era tarde, perto das dez e meia.
Como pude dormir tanto? - pensou se levantado rapidamente da cama. Tinha algumas coisas para organizar. Seu aniversário seria no dia seguinte, sábado, e como tinha prometido a mãe, faria um almoço, para que ela pudesse participar.
Suzana não poderia usufruir da mesma refeição, mas a presença dela seria reconfortante, tanto para Martina quanto para a mãe, que se sentiria mais animada.
Abriu a mensagem enquanto se dirigia ao chuveiro. Revirou os olhos ao notar de quem se tratava. Abriu.
" Bom dia, gostaria de comunicar que sábado, iremos almoçar fora, já que é seu aniversário. O convite se estende também aos membros de sua família e a amigos, caso, tenha interesse em convidar. A propósito, este é o meu número pessoal. Se tiver alguma dúvida a respeito, me ligue. Segue o endereço do restaurante. Antes que pense em recusar, já aviso que faz parte do contrato. Precisamos mostrar a todos que estamos felizes."
Para o inferno! - resmungou baixinho com raiva. Mas era só o que faltava, ter que passar seu aniversário de vinte e dois anos, com a presença insuportável dele ao seu lado!
Adicionou o número e ligou .
__ Alô?- a voz firme de Murilo se fez ouvir. __ Achei que iria me ligar, só não pensei que fosse tão rápido.- debochou do outro lado da linha.
__ Murilo, ainda não estamos casados! Por enquanto, quem decide minha vida sou eu!
__ Martina Montesinos, qual a parte que não entendeu que você agora, terá que fazer tudo o que eu mandar? Eu estou pagando! Eu mando, você obedece! Vou desligar porque tenho mais o que fazer do que ficar discutindo bobagens com uma garotinha mimada feito você. Não tenho tempo para discussões sem sentido! - ele desligou na sua cara.
Martina sentiu seu sangue subir.
Ah, mas isto não vai ficar assim! Casar tudo bem, cumprir o contrato que assinei, ok. Mas mandar até no que devo ou não fazer, envolvendo pessoas íntimas, não mesmo!! - comentou consigo, enquanto tirava sua roupa.
Tomou um banho rápido, se maquiou levemente e vestiu uma calça jeans desfiada e uma blusinha solta de alcinhas, na cor branca. Uma sandália salto médio de tirinhas completaram o look casual.
Desceu as escadas, apressada. A casa estava no mais absoluto silêncio. De relance, viu Diego que ressonava tranquilo, recostado nas almofadas macias do sofá na sala íntima. Revirou os olhos em desagrado. Atravessou o gramado, indo em direção às garagens, entrando no seu carro e saindo.
A cada metro de asfalto, seu rancor de tudo e de todos os que estavam envolvidos naquele circo, aumentava.
Parou em frente a empresa Márquez Muniz Exportações, estacionou na primeira vaga que enxergou e desceu apressada, entrando no enorme saguão de porcelanato branco. O barulho do salto de sua sandália quebrava o silêncio dali. Se dirigiu ao balcão de informações.
__ Qual andar fica presidência?
__ No oitavo, mas só será recebida se tiver horário marcado. - avisou a recepcionista, lhe olhando de alto a baixo com desdém.
Certamente, as mulheres que circulam por ali, não se vestem tão informais. - pensou.
Martina nem deu resposta, seguiu para os elevadores.
A porta abriu e antes que tivesse o trabalho de procurar, seus olhos se depararam com a placa na porta de vidro.MURILO M. MUNIZ
PRESIDENTEAo ver aquele nome, sua ira aumentou. Entrou na sala luxuosamente decorada, se aproximando a passos largos de uma moça, muito bonita, que lhe recepcionou com um sorriso perfeito.
__ Bom dia, no que posso ajudá-la? - indagou solícita.
__ Murilo se encontra? - procurou manter a calma. A linda secretária não tinha culpa de ter um chefe tão desagradável.
__ Você tem hora marcada? Qual o seu nome para poder anunciar?
__ Sou a noiva dele. Martina Montesinos. - mostrou o dedo com o anel.
__ Ah, sim, desculpa, é que não te conhecia.
__ E então posso ou não entrar?
__ Claro. Vou avisar que está aqui.
__ Não precisa. É uma surpresa!
__ Tudo bem, se é assim pode me acompanhar. - levantou, indicando a porta.
A secretária abriu a porta, dando passagem à Martina, que entrou sem cerimônia nenhuma. Murilo levantou os olhos do computador e sorriu de canto, se recostando na cadeira de couro cinza, atirando a caneta em cima de alguns papéis na mesa.
__Escolhi a profissão errada!
Martina se aproximou, franzindo a testa.
__ Não entendi o porquê de me falar isso, se bem que tenho que concordar... Talvez, devesse retomar a sua profissão da outra encarnação. Provavelmente, tenha sido um feitor de escravos!
Ele riu com sarcasmo da sua colocação. Os olhos negros a analisando dos pés a cabeça.
__ Estou dizendo que escolhi errado, porque deveria ter me tornado um desses videntes que leem o futuro. Apostei comigo mesmo, que não demoraria a vir aqui tirar satisfação.
Ela espalmou as mãos sobre o vidro gelado da mesa dele.
__Gosta de me ver assim, né? Gosta de se sentir por cima, de ser o dono da situação! É meu aniversário e eu deveria escolher com quem quero passar. Ao menos, a escolha de passar ele com minha mãe eu gostaria de ter! Mas você não pensa nisto, né? Talvez, este seja o último que passarei com ela. Sabe bem que minha mãe não aguenta sair de casa para nenhum tipo de evento!
O sorriso sarcástico dele foi morrendo aos poucos. Ele agora a encarava, escutando seu desabafo. Martina continuou:
__O que te faz pensar que eu tenha que sacrificar o prazer de ficar com minha mãe neste dia, para que você possa mostrar a sociedade de San Martin que estamos felizes?
Poderia ao menos ter me perguntado e eu teria lhe dito com calma, que talvez, pudéssemos almoçar na minha casa, para que ela estivesse junto. - se virou para sair e Murilo a surpreendeu sendo mais rápido, levantando da cadeira e a agarrando pelo braço, fazendo virar-se novamente para ele.
Os olhos negros encaravam a raiva que existia dentro do olhar dela.
__ Não pensei em sua mãe! - confessou.
__ Claro que não. Isto ficou bem claro!Só pensa em você e em como multiplicar o seu dinheiro!
Ele suspirou alto.
__ Esquece o almoço de aniversário! Não espere que vá pedir desculpas por querer me aproveitar da situação para que essa farsa pareça como um casamento de verdade! Está livre para fazer o que quiser no seu aniversário.
Ele foi interrompido pelo som das palavras dela.
__ Livre?!Por acaso sou algum tipo de prisioneira? Ou será que quando casar irá me manter sob o seu domínio? Eu cumprirei o contrato à risca, mas não vai me dizer o que tenho ou não o que fazer! Sou livre e continuarei sendo!
__ Enquanto estiver casada comigo, eu mando! E vamos começar a treinar a obediência desde agora! É bom ir se adaptando. Não costumo ser contrariado em minhas decisões. Amanhã, poderá almoçar com sua família, mas à noite iremos sair para jantar. Afinal de contas, é seu aniversário e meia cidade sabe disso! - se inclinou mostrando uma nota no jornal local. ___ Está decidido! Pego você às oito!
Martina bufou e o encarou em desafio.
__ E se eu não quiser ir? O que vai fazer? Me arrastar cidade à fora?
Murilo trancou o maxilar, sua feição calma, mudou para a raivosa. Estava irritado com a petulância daquela garota! A puxou mais para perto e agora, seus olhos se digladiavam. Ele esbravejou:
__ Experimente me desobedecer para ver do que sou capaz de fazer! Só um aviso: melhor baixando a crista porque você não me conhece!
__ Ah, que maravilha!! "Arranjei" - fez o sinal de aspas com os dedos. ___ um marido igualzinho ao meu pai! Só Freud explica isso! Vai me bater também? Fique sabendo que não me importo. Já acostumei.
Murilo a soltou e correu os olhos pelas marcas avermelhadas dos seus dedos em seu braço.Tinha usado demasiada força com ela.
__ Nunca bati em mulher. Minha tática para domar línguas ferinas como a sua, é outra!
Martina não desviava o olhar nem por um segundo dele.
Num gesto súbito, a puxou pela cintura, fazendo seu corpo colar ao dele. Martina podia sentir sua respiração acelerada e riu por dentro. Ele estava furioso e isso lhe dava um certo prazer. Só provava que a vida com ela, não seria fácil.
Murilo aproximou a boca e a beijou com força, forçando seus lábios a se abrirem para dar passagem a sua língua atrevida. Seus corpos estavam tão unidos, que Martina sentiu a protuberância em sua calça, roçando perto de seu ventre.
Ela trancou a respiração quando uma mão subiu da sua cintura indo até um dos seios, acariciando por cima do tecido fino da blusa. Seu corpo reagiu imediatamente, o bico enrijeceu sob o toque delicado.
Suas pernas bambearam e Murilo a segurou mais firme, emitindo um sorriso de canto, satisfeito.
__ Viu como é fácil domar uma língua? - debochou.
Martina como se saindo de um transe, o empurrou se desvencilhando, quase sem ar.
Murilo gargalhou e ela deu as costas, saindo para abrir a porta. Ele impediu a saída com o corpo a sua frente.
__Esteja pronta às 20 horas e linda! - Abriu a porta dando passagem .
__ Vá para o inferno! - falou baixinho entredentes para a secretária não ouvir. Passou por ele caminhando duro. Uma mistura de sentimentos se fez presente nela. Algo que não conseguia entender muito bem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
UM TEMPO PARA AMAR 1° Lugar na Categoria, Cena Dramática #CDouradosnaliteratura
RomantizmMartina Montesinos é uma garota rica, de língua afiada, na qual destila todo seu ressentimento em relação as atitudes do pai, um homem violento e machista. Ela entra em desespero quando o pai e o irmão boa vida, a usam como moeda de troca para sana...