Bernardo e Lorenzo

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O tempo passou devagar, a dor não aumentou e já eram quase 8 horas da noite daquele final de domingo.
Suzana, apareceu na porta, acompanhada de Ana, sua fiel escudeira.
___ Mãe, que que bom que não demorou!
Para Martina, enxergar Suzana, foi um alívio. Além de Murilo ali, ela precisava da companhia da mãe para se sentir mais segura.
Suzana reclamou:
___ Deveria ter me avisado na hora que saíram de casa. - abraçou demoradamente a filha, secando com ternura uma lágrima do rosto dela.
___ Eu nem queria vir, Murilo que insistiu, ligando para a Dra Paloma.
___ A senhora acredita que está com dor desse sexta-feira e não falou nada? - Murilo contou. Estava sentado na cama ao lado da esposa, com o braço por cima de seus ombros, enrolando as pontas dos cabelos em seus dedos.
Suzana fez uma cara de espanto.
__ Poderia ter me falado! A casa é cheia de mulheres e depois, Ana é enfermeira, Martina! E se fosse algo mais grave?- a mãe disse com um tom de reprovação na voz.
Ana sorriu dando um beijo no rosto da amiga.
___ Sei que está nervosa e que não tem experiência nenhuma com gravidez, portanto está perdoada!- ela brincou, amenizando as repreensões de Murilo e Suzana. Se virou para o agora, seu patrão. __ Trouxe o que me pediu, seu Murilo. Aqui, tem todas as coisas que acho que Martina e os bebês irão precisar! - depositou duas maletas em cima de um dos sofás.
Martina sorriu de volta, agradecendo.
___ A maleta dos meninos está a arrumada há 15 dias... Aí, com toda certeza, não falta nada! Mamãe e Carmem me ajudaram a fazer.
Ouviram a porta se abrindo e as figuras de Hugo e Carmem, se fizeram presentes.
Murilo levantou indo ao encontro dos dois. Carmem beijou o rosto do filho, seguindo apressada até a cama.
__ Nem acredito que eles vão vir antes! Como está, querida? Está sentindo muita dor? - perguntou a sogra, num misto de alegria, aflição e preocupação.
__ Só uma dor nas costas e em baixo do ventre, mas são suportáveis. Logo irei para a sala de parto. 
Hugo cumprimentou a nora e se afastou para ficar perto do filho.
Martina procurou o marido com olhos, que conversava com o sogro, em pé ao lado da janela. Os observando assim, mais de longe, pode notar que eles eram muito parecidos no porte, no modo de sorrirem...e até em alguns gestos. Sorriu ao imaginar, que talvez, seus dois meninos também herdassem aquelas características genéticas dos Márquez Muniz, porque, infelizmente, detestaria que eles se parecessem com seu o pai.
Estava tão ansiosa, com a perspectiva de que dentro de algumas horas, conheceria os rostinhos de seus dois amores, que seus pensamentos se dispersaram no tempo passado, relembrando o quanto foram angustiantes os momentos, em que achou que seria separada deles.
Uma hora depois, a enfermeira entrou no quarto, comunicando que iriam prepará-la para o parto.
Murilo sentiu sua mão ser apertada com mais força. Estavam sozinhos; Suzana, Ana e os pais de Murilo tinha ido à cantina fazer um lanche com a promessa que, se Martina entrasse para a sala de parto, seriam avisados imediatamente.
Ela o olhou, os grandes olhos castanhos traziam receio refletidos neles. Murilo, por mais que estivesse nervoso, tentou se manter firme.
___ Vai dar tudo certo, eu prometo a você! - beijou sua boca com carinho.__ Sei que está nervosa, mas assim que entrar na sala de parto, eu já estarei a sua espera.
Martina assentiu com a cabeça e o beijou mais uma vez.
A enfermeira sorriu, era uma senhora de uns 50 anos, mais ou menos, cabelos escuros , contrastando com o uniforme branco.
___ O senhor pode me acompanhar também, minha colega vai lhe mostrar quais os procedimentos para assistir ao parto da sua esposa.
Martina sentou na cadeira de rodas e a enfermeira a levou. Ele ficou parado, angustiado, a vendo sumir pelo corredor. Ligou para os pais avisando e logo, foi levado a uma sala para higienizar as mãos e vestir a roupa esterilizada, indo imediatamente, à sala de cirurgia ficar a espera dela.
Quando Martina, após tomar a anestesia, deitou na cama cirúrgica, Murilo ficou ao seu lado e ela agarrava tão forte sua mão, que parecia querer quebrar os seus ossos.
A Dra Paloma começou os procedimentos e Murilo conversava com Martina baixinho, dizendo que a amava demais e que formariam uma família linda, que não precisava temer nada.
Em meio a isso, se ouviu um chorinho estridente e a voz de Paloma.
___ Nasceu o primeiro!- Martina e Murilo se entreolharam.
Ele, embasbacado, viu seu primeiro filho ser erguido e mostrado. E antes mesmo, que pudesse dizer alguma coisa, ouviram novamente Paloma falar, em tom de brincadeira.
___ Agora o segundo e espero sinceramente, que não tenha mais nenhuma surpresa, porque são chorões e enormes! Escutem só a força desses pulmõezinhos! Um minuto e 20 segundos de diferença!
Murilo teve que desviar o olhar do seu segundo filho, porque Martina caiu num choro convulsivo, virando o rosto para o lado dele.
Um filme daqueles últimos meses passou em sua cabeça, tantos sofrimentos que, agora, tinham se transformado só em felicidade. Murilo a beijou, sorrindo em meio as lágrimas, encostando a testa na dela.
Viram quando a enfermeira, se aproximou, entregando a ela o primeiro. Martina o beijou entre lágrimas.
___ Este é Bernardo. - ela disse.
Murilo ajudou o pequeno a achar o seio da mãe.
Logo em seguida, foi entregue o segundo, Lorenzo, e a enfermeira ajudou Murilo, também, para ajeitá-lo no outro seio de Martina, que inclinou a cabeça para beijar o pequeno.
A dor das primeiras sugadas foram substituídas pelo prazer de alimentar seus dois bebês ao mesmo tempo. Murilo, não continha as lágrimas, ele também tinha sofrido e agora, estava sendo recompensado.
Aquela, simplesmente, era a cena mais linda, que presenciou em toda sua vida: a mulher amada alimentando seus dois filhos.
Martina o encarou sorrindo, o queixo tremendo de emoção.
___ Eles são lindos! Os cabelos são escurinhos...iguais aos seus!- Martina observou.
___ E são idênticos! Obrigado, por estar me fazendo ser o homem mais feliz do mundo neste instante. Eu te amo tanto! Obrigado por ter entendido tudo o que fiz... Eu fiz por amor a você, fiz por amor a eles!
Ele beijou seus lábios com delicadeza e secou as lágrimas que insistiam em cair dos olhos dela, só que agora eram de felicidade, que de tão grande, não cabia toda dentro do coração de Martina.

Murilo e a família toda curtiam os gêmeos, acomodados no berço do quarto do hospital. Martina ainda se encontrava na sala de recuperação.
As avós vestiram cada um com cores diferentes. Bernardo de azul bebê e Lorenzo de verde bem clarinho e ficavam procurando alguma marca ou pinta que os diferenciassem.
Murilo não continha em si de felicidade e de amor por eles.
Martina voltou para o leito no meio da madrugada, quando os meninos já começavam a resmungar de fome.
Com dificuldade, mas com a ajuda do marido, ela conseguiu se ajeitar na cama, pegando o mais esfomeado, Lorenzo, para  dar de mamar. Murilo segurou o outro com cuidado no colo para acalmá-lo até que o irmãozinho ficasse satisfeito
Ele sentou na beira da cama, não conseguia tirar os olhos do pequeno que trazia aconchegado ao seu peito.
___ Eles são gordinhos e saudáveis. Tinha tanto medo que algo desse errado... - Martina confessou, passando os dedos pelos cabelinhos do filho que sugava seu leite com gosto.
___ Bernardo, tem uma pintinha na orelha direita.- ele mostrou a ela.
Martina sorriu encantada.
___Mesmo que não tivesse nada para diferenciá-los, eu sei quem é um e quem é o outro.
Murilo franziu a testa em interrogação.
___ Como consegue?
___ Saíram de dentro de mim... Eu simplesmente sei!
Bernardo resmungou no colo do pai, se contorcendo, era hora de amamentá-lo.
Suzana e Carmem que tinham acabado de voltar da capela do hospital, entraram.
___ Onde as vovós estavam?- Martina brincou.
___ Fomos agradecer que tudo correu bem no seu parto. - Carmem se apressou em dizer. __ Como está?
___ Não poderia estar melhor! Nada no mundo é melhor do que ter meus dois pequenos nos braços. - disse ajeitando Bernardo no outro seio.
Murilo segurou, agora, Lorenzo para que arrotasse e até já estava pegando o jeito, seguindo os conselhos de Suzana de como deveria proceder após cada mamada.
___ Meus netos são os mais lindos do mundo! - Carmem sorria.__ Murilo era assim, mamava sem parar, por isso cresceu forte! - se aproximou do filho passando a mão em seus cabelos.
Ele sorriu com carinho.
___ D. Carmem é mãe coruja, não se deixem levar pelas histórias dela!
___ Sempre me chamando assim! Sou sua mãe! Me chama de mãe! - ela reclamou.
___ Eu chamo de D.Carmem, mas o que importa é o que sinto. Acostumei desde pequeno, as babás lhe chamavam assim e eu acostumei!
Ela riu.
___ Verdade! Seu pai sempre insistiu que tivéssemos, ao menos, uma pessoa pra ficar com você. Sempre o acompanhei nos eventos, em que éramos convidados, mas a maioria do tempo, você era só meu!
Suzana sentou ao lado da filha, emocionada.
___ Lembra que você prometeu que eu seguraria meu neto nos braços? Fui agradecer a Deus por ter me dado está oportunidade dobrada!
Martina encarou a mãe com lágrimas nos olhos.
___ A senhora sempre foi minha melhor amiga, seria muito injusto se Deus não permitisse isso!
A mãe lhe deu um beijo na cabeça e Martina fechou os olhos, apreciando o carinho.
Amava demais a mãe e só estava sendo feliz agora, por que aceitou assinar aquele contrato pensando em seu bem estar.
Carmem e Murilo observavam a cena, era impossível não ficarem tocados. Ele encheu os olhos e para disfarçar, perguntou:
__ E Hugo, onde está? Ana também não voltou!
Carmem esboçou um sorriso, limpando os olhos.
___ Seu pai foi dormir num hotel aqui perto, e Ana, Ramon veio buscá-la. Pela manhã eles voltarão!
Algum tempo depois, Martina se acomodou para descansar, estava exausta. Tinha sido muito emoção para uma noite só.
Murilo de tão excitado com a chegada dos gêmeos, até tentou se recostar em um dos confortáveis sofás, para tirar uma soneca, mas não conseguiu. Ficou ouvindo as histórias das duas mães, ali junto dele, que conversavam baixinho. De vez em quando, sorria, ao ouvir algum fato de sua infância ou de Martina que elas relembravam com muita saudade.
Tinha a certeza, que esse prazer de estar em família se tornaria uma constante dali pra frente. 

Um capítulo pequeno. Desculpem, mas estou muito atribulada. O próximo será maior! 

UM TEMPO PARA AMAR 1° Lugar na Categoria, Cena Dramática #CDouradosnaliteraturaOnde histórias criam vida. Descubra agora