Os dois dias, que se seguiram foram inquietantes para Martina. Murilo tinha viajado a negócios. Quando acordou na segunda-feira, havia uma mensagem, um tanto fria para quem dizia que ela não saía de seu pensamento, avisando que ele voltaria somente, no final de semana. Também a avisou que mandaria um segurança e que deveria evitar de sair sozinha. Na verdade, era uma ordem disfarçada.
O segurança a acompanharia sempre que precisasse, o que Martina achou estranho e não gostou muito, porém decidiu relevar.
Aquele sentimento que a invadia cada vez que pensava nele, se tornava mais forte. Os momentos dos dois no iate e no carro passeavam pela mente dela, ansiando o momento reencontrá-lo.
Ficou um pouco decepcionada quando leu a mensagem sobre a viagem e uma ponta de saudades a dominou naquela quarta-feira, mas ao mesmo tempo se recriminou, pois sabia que ficaria apenas dois anos com ele. Estava começando a dar a ele um lugar em seu coração e isso não era bom. Seu medo era ficar prisioneira dos seus sentimentos, que ainda se confundiam dentro dela.
Martina olhou no relógio, enquanto esperava a sogra numa casa de chá. Lá fora, à espera, parado na porta, o segurança aguardava sua saída.
Detestava essa vigilância toda, quando Murilo chegasse pediria explicações.
Avistou Carmem entrando na porta, logo atrás, Paula.
Martina a observou enquanto se dirigia à mesa perto da janela envidraçada.
Os cabelos castanho escuro bem escovados e a maquiagem discreta lhe conferiam ainda mais beleza. Vestia uma saia longa preta, trespassada com uma blusa de alças na cor creme, destacando os seios firmes e sensualizados pela seda do tecido. A elegância no caminhar demonstrava segurança. Era uma mulher que parava o trânsito. Certamente, não ficava imune aos olhares masculinos, o que incluía Murilo, que como um bom sedutor, logo a levou para cama, sem se importar com o grau de parentesco que tinham.
Morar com ela, na mesma casa, nesses dois anos, não seria uma convivência tão tranquila assim. - refletiu observando o olhar nada gentil que Paula lançava a ela.
Martina chegou a se perguntar, ao se deparar com tanta sensualidade, se depois do que tinham vivido naquele final de semana, Murilo, não teria terminado com Paula o que tinha começado com ela.
Murilo não era um adolescente, para viver de amassos dentro de um carro. Era um homem e como tal não ficava na vontade de fazer sexo. Uma sensação estranha de perda se apossou de Martina.
Uma ponta de ciúmes a cutucou lá no fundo do coração. O fato dos dois morarem na mesma casa a deixava insegura. Conhecia muito pouco Murilo e depois da tal conversa com Paula, seria bom por os sentidos em alerta. Não confiava na fidelidade masculina, ainda mais quando envolvia interesses financeiros. A mãe tinha levado uma vida amarga com seu pai, que nunca a amou de verdade.
Se aproximaram mais e Carmem sorriu, como sempre sendo simpática, cumprimentando Martina, com beijos no rosto.
Paula imitou o gesto, no entanto não sentiu na prima de Murilo o mesmo entusiasmo.
__ Martina, desculpa o atraso. Pegamos um engarrafamento. Um acidente.
__ Imagina, Carmem, não há porquê da pressa. Ainda teremos tempo para fazermos um lanche antes de irmos até ao local da festa. E ademais, a prova do vestido será só no final da tarde.
Ambas sentaram e Paula sorriu.
__ Sei que não fui convidada, mas quando minha tia disse que ela poderia dar algumas opiniões, eu achei ótimo, fiquei curiosa e afinal, também é o casamento do meu primo e filho dela. Espero que não fique chateada. Me convidei! - disse Paula, com um sorriso que mais pareceu a Martina, falso.
__ Seja bem vinda, Paula! Não quero ser aquelas noras, que só falam mal das sogras. Já que minha mãe está impossibilitada de me acompanhar, achei que deveria convidar Carmem e também como você mesma disse, é uma questão de justiça, o filho que está casando é o dela.
Carmem sorria enquanto olhava o cardápio e acrescentou:
__ Eu amei o convite! Prevejo que terei em Martina a filha que tanto sonhei e não pude ter. - suspirou fazendo uma revelação.
__Quando Murilo nasceu, tive uma hemorragia muito forte, os médicos tiraram meu útero e o sonho de ter uma menina, como eu e Hugo tínhamos planejado não pode ser concretizado.
__ Sinto muito, Carmem! A relação entre mãe e filha é muito forte, com minha mãe sempre foi assim. Uma pena mesmo que Murilo não pode ter irmãos!
Paula interrompeu:
__ Ah, tia, achei que tivesse preenchido essa lacuna no seu coração quando vim morar com a senhora. - queixou-se.
__ Claro que aprecio sua companhia Paula, é filha da minha irmã! Perdão, vou corrigir, então agora, terei duas filhas.Viram como Deus dá em dobro? - brincou amenizando o mal entendido.
__ Paula, tenho certeza que Carmem a tem como uma filha, mas acho que ela se refere a sensação de poder gerar filhos, que deve ser maravilhosa! - Martina remendou, ficando um pouco sem jeito, quando a sogra preferiu ela a sobrinha.
Paula se manteve fria.
__ Sobre essa sensação nunca saberei, Martina. Não posso ter filhos, meu útero é infantil. É tão pequeno que não cabe um feto, portanto, se por milagre eu engravidasse, com certeza teria um aborto.
Martina não notou em sua voz nenhuma tristeza por isso, algo que estranhou.
__ Sinto muito, Paula. - se solidarizou.
__ Não sinta. Ainda existe a possibilidade da adoção ou até mesmo de me casar com alguém que já tenha um filho. Eu o criaria como se fosse meu, com todo amor, afinal, seria um pedaço de quem amasse. Quem sabe o dia de amanhã, não é mesmo?
Martina percebeu o tom por trás daquelas palavras e gelou. Ela enxergava algo ruim em Paula diante daquela declaração, mas disfarçou. Paula não era nada gentil, apenas representava na frente da tia.
__ Claro. Tenho certeza que encontrará um jeito de ser mãe, se este for o seu sonho, Paula.
Carmem acrescentou:
__ Eu não vejo a a hora de ser avó. Espero que Martina não tenha objeção em engravidar. E torço muito para que você, Paula, arranje um namorado. Imagina só, Martina, que Murilo, vive saindo com ela e a apresentando aos amigos, porém Paula, não se interessa por ninguém!
Paula sorriu, desdenhosa para Martina, que virou o rosto dando atenção a sogra.
__ Gosto muito de crianças. -afirmou. __ Engravidarei na hora certa, com certeza. - disse tranquilizando Carmem.
Paula as observava e de repente Martina começou a temer por ter que conviver com a prima de Murilo. Mesmo ele garantindo que já não tinham mais nada, parecia que Paula ainda nutria algum sentimento em relação a Murilo.
Enquanto tomavam o chá, a conversa não saiu de seu pensamento. A cláusula de engravidar em seis meses, levantou dúvidas no coração de Martina.
Será que Murilo, depois que se separassem, assumiria sua relação com a prima e criaria o bebê com a amante?
Se ele fez o contrato pensando nisso, era porque ainda tinham algo ou que a amava.
Uma sensação estranha tomou conta da alma de Martina. Uma espécie de premonição. Será que Murilo seria capaz disso? De lhe enganar desta forma, para realizar o desejo da amante?
Pelo contrato, ela teria o direito de visitar o filho poucas vezes.
Chegaria a um ponto que, talvez, a criança nem a reconhecesse como mãe e seria em vão as visitas. Paula conviveria com a criança 24 horas por dia. - concluiu.
Agora tudo começava a fazer sentido, Murilo, manteria Paula morando com eles na mansão, justamente para isso!
Mais do que nunca a decisão de não cumprir aquela cláusula seria o mais certo a fazer.
Duas hora mais tarde, saíram do clube com Carmem, empolgada com a decoração.
A cerimonialista explicou tudo e claro, Carmen deu algumas sugestões.
__ Tudo vai ficar maravilhoso. Onde conseguiu essa profissional, Martina?
__ Veio de Barcelona. A equipe e ela estão hospedada num hotel aqui perto. Uma amiga da faculdade que casou que me indicou. Foi um casamento lindo, de muito bom gosto. Para falar a verdade, Carmem, é a primeira vez que converso com ela. Deleguei todos os preparativos e confio no seu trabalho.
Carmem a olhou surpresa, logo entendendo o lado de Martina.
__ Martina, acho que fez bem. A profissional é de primeira e sei que está muito preocupada com sua mãe. Quando se lida com doença, a gente não tem cabeça para mais nada.
Martina sorriu sem jeito, não era bem a história, mas se Carmem tinha entendido assim, seria melhor concordar.
__ Sabia que teria a sensibilidade de entender, Carmem. Começo a pensar também que vou ter duas mães! Minha mãe faz de 2 a 3 quimioterapias por semana. Fica muito mal, sempre me disponho a ajudar, apesar de termos duas enfermeiras, um para a noite e Ana que fica de dia, porém eu a acompanho sempre nas aplicações do medicamento no hospital e Ana também precisa de momentos de descanso. Passo um bom tempo, com minha mãe. Sei que o tempo dela que resta é pouco.
O elogio era sincero da parte dela. Simpatizava com Carmem, era carinhosa e não era fútil, como muitas da sociedade de San Martin. Trabalhava numa associação para crianças órfãs duas vezes na semana.
Lembrou do comentário da sogra sobre Paula, imaginando o quanto Carmem era ingênua ou os dois amantes disfarçavam muito bem o caso que tinham ou tiveram, ao menos foi o que o noivo afirmou a ela, quando disse que há uma ano tudo tinha acabado.
Sem namorados... Pois sim! - pensou com ciúmes da morena.
Sentia só o fato de ter que estar escondendo o verdadeiro motivo daquele casamento a mãe e a Carmem e alguma coisa lhe dizia que não estava errada sobre a descoberta de Paula não poder gerar filhos.
A sobrinha de Carmem caminhava um pouco a frente delas, ouvindo a conversa. Não era de muitas palavras e isso não era de um todo bom, Martina sentia que teria alguns problemas com a prima de Murilo.Martina saiu da cabine, sob os olhos extasiados da sogra.
___ Que vestido lindo! Olha só Paula! - Carmem chamou a atenção da sobrinha que sorriu, correndo os olhos sobre a renda fina que cobria a seda do vestido.
Enquanto a costureira, fazia alguns ajustes, Carmem conversava sem parar. Martina até que se divertia com a situação, não fosse a sensação que Paula lhe causava. Era como se uma energia negativa rondasse o ambiente.
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UM TEMPO PARA AMAR 1° Lugar na Categoria, Cena Dramática #CDouradosnaliteratura
Storie d'amoreMartina Montesinos é uma garota rica, de língua afiada, na qual destila todo seu ressentimento em relação as atitudes do pai, um homem violento e machista. Ela entra em desespero quando o pai e o irmão boa vida, a usam como moeda de troca para sana...