A noite

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No término da escada enxergou o relógio antigo na parede da sala íntima. Ainda não eram sete horas. Foi à cozinha, avisar que só voltaria no domingo. Encontrou Ramon lanchando.
Ao vê-la, imediatamente, se levantou, meio sem jeito. Martina o tranquilizou com um sinal de mão pedindo para que se sentasse novamente.
__ Ramon, não precisa se levantar. Vou sair com Murilo. Sei que por ordens dele, deverá ficar a noite aqui, mas não será necessário, não precisarei que faça minha segurança, nem hoje e nem amanhã. Se quiser ir para casa, por mim tudo bem.
Ele sorriu simpático.
__ O senhor Murilo já me avisou, mas para falar a verdade há algum tempo que não tenho mais minha casa. Moro num alojamento na empresa do Sr. Murilo. Meu tio conseguiu esse emprego quando vim para cá há um ano.
__ Você não tem esposa...namorada...?
__ Perdi minha esposa num acidente. Ela estava grávida de quatro meses. - confessou com o olhar triste.
Martina se solidarizou e sentou em frente a ele.
__ Sinto muito, Ramon. Nem sei o que falar.
__ Tínhamos casados há pouco, estávamos felizes, apesar da gravidez não ter sido planejada. Ela ainda estava na faculdade, faltava dois semestres para se formar em direito. Estou superando aos poucos. A vida não é fácil pra ninguém. Meu tio, também está com problemas... minha tia não está bem. Pablo não voltará a trabalhar enquanto tudo não se resolver.
Martina o observou, o olhar dele carregava uma nuvem.
__ Concordo, às vezes me pergunto, porque pessoas boas passam por tantas provações. Já conversou com Murilo, sobre o fato de ter que morar num alojamento? Não acho justo. Já que vai ser meu segurança, vou conversar para que ele permita que vá morar na propriedade, quando me casar com ele. Tem muito espaço. Ao menos lá, tem cara de lar, alimentação em horários certos... Acho que facilitará sua vida e a minha.
__ Seria muito bom. Dormir num pavilhão frio não é nada agradável.
__ Vou falar com ele, pode deixar. - disse se levantando ao ouvir a campainha tocar .
Saiu da cozinha, indo em direção a porta, abrindo.
Seus olhos pousaram na figura de Murilo e por alguns segundos seus pulmões desaprenderam como se respirava. A presença dele na sua frente fez com que seu coração desse um salto dentro do peito.
O sorriso sedutor de canto de boca, fizeram suas pernas tremer. Estava irresistível numa camisa branca, mangas dobradas até a metade dos braços, fazendo contraste com os cabelos e os olhos negros como a noite e exalando masculinidade por todos os poros.
Os hormônios de Martina imediatamente reagiram e um calor subiu por seu corpo, apertando suas entranhas e sua voz saiu fraca.
__ Olá! - sorriu, Martina.
Murilo se aproximou, os olhos cintilavam percorrendo toda sua silhueta, a examinando minuciosamente. Estendeu a mão, tocando sua cintura e num gesto hábil e brusco, a puxou para ficar colada ao seu corpo, a beijando com intensidade, os lábios se movendo com sensualidade sobre os dela, a língua audaciosa abrindo passagem, a deixando praticamente sem ar. O beijo foi demorado, ali mesmo na porta da casa e quando ele a soltou, Martina quase não conseguia pensar direito.
__ Está pronta? - ele indagou sem soltar sua cintura, afastando alguns centímetros o rosto, Martina sentiu sua ereção pressionar seu corpo.
Por alguns instantes, tentou recuperar a sua capacidade de pensar sem se perder em meio àquele olhar penetrante.
__ Estou. Só preciso pegar minha valise com algumas coisas que levarei. Quer entrar ou tem pressa? - indagou, a voz baixa.
Murilo emitiu um pequeno sorriso e se inclinando, maliciosamente, passou a língua pelos lábios dela, mordendo seu lábio inferior e a barba macia, cheirosa, roçando seu rosto.
__ Tenho pressa. Acho que você também... o modo como correspondeu ao meu beijo me provou que sentiu sim, saudades e que tem tanta pressa quanto eu.
__ Só um minuto. - pediu se afastando.
A presença de Murilo a fez esquecer das mazelas da mãe e uma pequena alegria surgia aos poucos dentro dela.
Foi até o sofá, pegando suas coisas, saiu em direção ao carro, onde Murilo já a esperava com a porta aberta, a ajudando a embarcar.
Fechou a porta, fez a volta e sentou ao volante, ligando o carro, partindo. Enquanto saiam ele virou a cabeça comunicando:
__ Vamos a minha casa, estaremos sozinhos. Meus pais e Paula foram pra fazenda. A noite será só nossa!
O modo como pronunciou essas palavras, fez com que se arrepiasse toda. Seria praticamente, quase impossível resistir aos encantos de Murilo. O desejava muito e a espera desses últimos dias, só serviu para que, ao revê-lo, se desse conta que já era uma prisioneira dos sentimentos avassaladores que ele causava.
Martina o contemplou por uns instantes, enquanto dirigia, criando coragem para indagar. Era incrível que, acostumada a enfrentar de cabeça erguida o machismo de seu pai, agora, se sentisse amedrontada, diante de uma possível reação que a pergunta causaria.
__ Murilo... posso te perguntar algo?- indagou com cuidado.
__ Claro que pode. Alguma coisa que te incomoda?
__ Não...quero dizer... sim! Hã... Porque preciso de um segurança?
Ele a olhou de lado sem tirar os olhos da estradinha que levava a mansão. Sua expressão não tinha mudado e ela relaxou no banco ao seu lado.
__ Porque é minha noiva!
Martina, todos sabem que antes de assumir os negócios do meu pai, nada era legalizado. Tem muita gente que pode querer se vingar de mim, usando você. Sei muito sobre negócios escusos, apesar de não fazer mais parte deles. Melhor prevenir, mesmo tendo a certeza que nunca farão nada à você. Me respeitam demais no submundo. Não tenho inimigos, mas o seguro morreu de velho. Assim como eu, que assumi os negócios do meu pai, outros estão assumindo os negócios de suas famílias...Nesses, eu não posso confiar, não conheço seus pensamentos, suas atitudes em relação a mim e a meus familiares. Mas não quero que se preocupe com isso. É só praxe. Não tem ninguém ameaçando. Me sinto mais tranquilo quando você está resguardada. Não se preocupe.
__ Fiquei assustada. - confessou.
__ Tenho muito dinheiro. Lhe dar segurança é uma obrigação minha.
__ Ok, entendi. - concordou.
Alguns minutos mais tarde, o carro adentrou a propriedade seguindo pela calçada até ao estacionamento.
Caminharam em silêncio até a porta de entrada.
O anseio do que poderia acontecer não era só da parte dela. Murilo, apesar de mostrar extrema segurança, sentia o coração bater forte.
Os dias longe dela, o deixaram ainda mais desejoso de possuí-la, porém precisava ir com calma. Martina era sensível, não podia assustá-la com sua volúpia.
Só de pensar em tocar naquele corpo, o qual sonhara todas as noites e se acabar em meio as suas pernas, lhe provocando gemidos insanos, e se deliciar em sua intimidade macia, úmida e apertada por ainda ser virgem, o alucinava.
Nunca em toda a sua vida esteve louco desta maneira por mulher nenhuma.
Abriu a porta dando passagem a ela, passou a mão por seus ombros nus, subindo em direção ao pescoço, onde seus dedos, deliciosamente, lhe acariciaram provocando arrepios no fio da espinha.
Murilo se afastou ligando a iluminação. O corredor se abriu na sala de estar, bem decorada, o que na ocasião do seu noivado, não havia notado, devido ao estresse que estava passando.
Correu os olhos pelo ambiente, os sofás macios, os objetos de decoração, a maioria obras de artes de artistas famosos.
Ela sorriu sem jeito, o nervosismo fazia suas mãos umedecer, segurando a valise em frente ao corpo.
__Martina! - ouviu a voz dele a chamando .
Ela virou o rosto em busca do som da voz.
__ Relaxa, meu amor! Está tensa... não sei bem o porquê, mas talvez seja porque não está conseguindo dominar o que está sentindo. - ele se aproximou, retirando a pequena mala de suas mãos. __ Vamos subir. Não ficaremos aqui embaixo.
Martina estranhou, achou que iriam jantar.
Ficou um pouco apreensiva, pois não estava se prevenindo e parecia que Murilo tinha mudado de ideia quanto a sua primeira vez.
Ele a puxou pela mão, a levando, subindo as escadas, percorrendo o corredor, num silêncio mortal, apenas se ouvia, o barulho do salto de sua sandália nas tábuas brilhantes do assoalho, de tom escuro.
Pararam na terceira porta, quase no final do corredor.
Murilo abriu, largando no chão a maleta que carregava e subitamente a levantou do chão com seus braços fortes. Ela arregalou os olhos castanhos, piscando os longos cílios, surpresa e um sorriso obsceno surgiu nos lábios dele.
Entrou e fechou a porta com o pé, andando até a cama.
Martina tremeu, o calor do corpo de Murilo atravessava o tecido do vestido. Ele a largou na beirada da cama, o sorriso ainda no rosto.
__ Volto em menos de 10 minutos. Fique à vontade, se quiser.
__ Murilo, não estou entendendo... Achei que iríamos jantar.
__ E vamos. Só aguarde.
Esticou a mão e deslizou os dedos sobre a trançado de seu cabelo, se afastando, saindo e fechando a porta.

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