Ventos da Mudança

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Murilo passou o resto da tarde trabalhando no escritório e Martina desceu para caminhar um pouco, não queria atrapalhar, achou melhor conhecer a propriedade, que era enorme. Trocou o vestido por uma legging, camiseta e tênis, amarrando os cabelos num rabo de cavalo.
Quando desceu, a casa estava no mais absoluto silêncio. Correu os olhos pela sala ampla e não viu Paula.
Provavelmente, dever estar no quarto, remoendo a raiva que estava nitidamente estampada no seu semblante na hora do almoço - pensou.
Saindo para o jardim, desceu uma escadaria na ala oposta da piscina e Martina se deparou com um magnífico pomar.
Aquele lugar seria um verdadeiro paraíso para ela, se não fosse a presença da rival. Tudo ali, do lado de fora, transmitia paz.
Caminhou por ele, admirando as videiras, carregadas de cachos de seus frutos, as macieiras, onde os pássaros disputavam as maçãs já muito maduras, até que enxergou as edículas, que alguns empregados ocupavam.
Uma menininha de seus 6 anos, de tez morena e olhos expressivos, brincava por ali. Martina parou por um instante para apreciar o que fazia e então, se aproximou.
__ Oi! - se abaixou para ficar na altura de seus olhos que eram tão verdes quanto o gramado onde estava.
A garotinha sorriu, enquanto acomodava uma boneca, num carrinho.
__ É a moça que vai morar aqui, casada com o tio Murilo?
__ Sou sim. Eu me chamo Martina e você?
__ Meu nome é Beatriz, minha mãe e meu pai trabalham lá na mansão e a gente mora ali. - apontou uma das edículas.
__ E qual o nome de seus pais?
__ Suelen e Henrique.
__ Já conheci sua mãe hoje. Foi ela que preparou um almoço maravilhoso para nós. Sua mãe cozinha muito bem. Por acaso, você pode me dizer qual dessas edículas não mora ninguém?
__ Posso sim. Aquelas duas lá atrás, estão vazias. Quer ir lá? Eu vou com você! - apontou com o dedinho.
__ Se quiser me mostrar eu gostaria muito!
Beatriz ajeitou melhor, " sua filha", no carrinho e cobriu com um paninho.
__ Vamos? - chamou saindo na frente de Martina.
Martina a seguiu e logo, as duas estavam lado a lado.
Pararam em frente a uma delas, que tinha uma pequena varanda, cercada por madeiras pintadas de branco.
A garota empurrou o portão e entraram.
A casa pequena era mobiliada com o básico.
Nas paredes pintadas também de branco, destacavam -se as janelas de madeiras envernizadas, com vidraças quadriculadas. A sala era grande e Martina sorriu, notando que poderia fazer um ótimo atelier ali.
__ Essa aqui, só tem um quarto. - a pequena informou.
__ Não tem problema. Sabe eu gosto de pintar, desenhar... - Martina abriu a porta que levava ao dormitório.
Ali, tinha uma cama de casal e uma cômoda de madeira. Tudo muito simples. Na pequena cozinha, um fogão, geladeira e uma mesa com 4 banquinhos. A pia era de pedra.
__ Você sabe desenhar? - Beatriz a encarou com curiosidade no olhar.
__ Sim e muito bem! Qual o horário você vai para escola?
__ Pela manhã.
__ Que bom! Assim que arrumar tudo por aqui, vou fazer um desenho pra você.
Os olhinhos reluziram.
__ Sério?
__ Huhum. E se quiser me visitar está convidada desde agora.
__ Minha mãe contou que a senhora era bem bonita e simpática. Ela não mentiu.
__ Mães nunca mentem, algumas vezes omitem algo para não nos magoar. A sua mãe é muito gentil! Obrigada pelos elogios.
__ Ela disse também que, ainda bem que ele não casou com a megera!
Martina franziu a testa.
__ Ah, a megera! - riu do comentário abrindo a porta do banheiro para dar uma olhada.
__ A Paula é chata. Implica com minha mãe por tudo e porque às vezes, quando não tenho aula, tenho que ir para a mansão e ela não gosta. Faz cara feia. Eu nem incomodo! - se queixou a pequena.
__ Ah, é? Pois então, eu e você agora, somos amigas e poderá ir até lá a hora que quiser. Vou conversar com sua mãe!
__ Às vezes, eu via o tio Murilo beijando ela. Minha mãe vai ficar brava comigo se descobrir que eu falei isso!
Martina ouvia atenta, de todo, o que era certo, é que os empregados sabiam do envolvimento dos dois.
__ E tia Carmem não falava nada?- indagou tentando arrancar informações.
__ Tia Carmem não sabia que ele beijava a megera. Minha mãe disse que ela ameaçou os empregados, que se contassem daria um jeito. Não sei qual? - deu de ombros, o olhar verde esmeralda exprimindo a sinceridade típica das crianças. __ Eu não gosto dela, mas gostei de você!
__ Eu também gostei de você! - passou a mão pelos cabelinhos dourados de Beatriz. __ E no próximo sábado, vou pedir permissão para sua mãe pra gente se divertir naquela piscina. O que acha?
O sorriso alegrou o rosto da pequena.
___ Oba! - exclamou dando uns pulinhos.
___ Pois bem, então vamos voltar, está ficando tarde. Depois a gente se fala, tá bem?
___ Tá.
Voltaram pelo mesmo caminho em direção onde ela tinha deixado a boneca.
Martina se despediu da menina e tomou o caminho de volta. O sol já começava a se por.
Entrou pela porta dos fundos, tirando o tênis e deixando na lavanderia. Seguiu de pés descalços, passando pela cozinha e ao atravessar a sala de jantar, cruzando pela porta entreaberta do escritório, parou para espiar o marido, concentrado em frente a tela do computador. Queria um pouco de atenção, estava com saudades.
Ele sentindo sua presença, levantou os olhos e ela sorriu docemente.
___ Oi!
___ Algum problema? - perguntou seco.
___Desculpa, só ia passando, vou subir. - saiu apressada em direção as escadas, subindo de dois em dois degraus.
__ Ele ainda estava chateado. - exprimiu o pensamento em voz baixa, suspirando. __ Meu primeiro dia na casa e Murilo já não é mais o mesmo!
Foi ao banheiro, passou uma água no rosto, fechou as janelas, deitou e levando o seu iPhone, discou o número de Ana.
__ Alô, Ana?
__ Olá, como está? Já está na sua casa nova?
__ Tudo bem. Estou, chegamos hoje pela manhã.
__ Acontece alguma coisa, sua voz parece diferente!
__ Não, está tudo bem! Como tem passado a mamãe?
__ Está acordada.Você quer falar com ela?
__ Por favor.
__ Só um minutinho, vou passar para ela.
Martina ouviu a voz amorosa do outro lado. Sentiu ainda mais vontade de chorar, mas se controlou. Jamais deixaria sua mãe preocupada com seus problemas.
__ Oh, Martina, estou com tantas saudades suas! - a mãe confessou.
__ Como vai, mamãe? Eu também, sinto a sua falta.
__ Como está a vida de casada?
___ Está tudo bem. - mordeu o lábio para não desabar. __ Murilo é gentil, minha sogra é maravilhosa... - ela espichou a conversa contando como Carmem os havia recebido e que já tinha até arranjado um lugar para pintar.
__ Que bom, minha filha, que bom!
A mãe contou detalhes do tratamento, de como Ana a cuidava bem, que Diego quase não aparecia no hospital e que o seu pai tinha ligado apenas uma vez, para informar da transferência de um dinheiro.
Por fim, Martina desligou.
Ela notou o quanto a indiferença deles dois magoava a mãe. Se encolheu, fechando os olhos, a caminhada tinha lhe cansado.
Algum tempo depois, acordou assustada; alguém tinha acendido a luz.
Semicerrou os olhos por causa da caridade. A sua frente parado a figura de Murilo a encarava.
__ Esqueceu que agora, você dá as ordens aqui, Martina? O jantar vai ser servido daqui a pouco.
Ela estendeu a mão para olhar as horas. Já eram quase 20 horas. Num salto se pôs de pé.
__ Eu dormi, fui dar uma caminhada e cansei. Depois também a viagem ...
__ Tudo bem. - ele interrompeu. __ Paula já mandou providenciar o jantar. Percebeu que você tinha esquecido.
Martina mordeu o lábio inferior.
__ Desculpa, simplesmente, esqueci!
__ Vim te chamar para descer.
__ Tenho tempo de tomar um banho antes?
___ Como quiser. Espero você lá embaixo.
Se virou, fazendo menção em ir na direção da saída do quarto.
Ela o chamou baixinho, ele virou o pescoço.
__ Ainda está chateado comigo?
__ Não, nunca estive.- afirmou.
__ É que está estranho...
Ele voltou, levantando seu queixo com o dedo indicador depositou um leve beijo em seus lábios.
__ Vou te esperar lá embaixo. - reafirmando o que tinha dito anteriormente e saiu.
Martina ficou parada o vendo fechar a porta. Respirou fundo e foi tomar um banho.
Quando desceu Murilo e Paula, sentados, confortavelmente, no sofá, conversavam animados. O riso deles podia ser ouvido do corredor. Tão diferente de como tinha agido com ela no quarto.
Martina engoliu em seco, antes de entrar na sala.
Murilo virou a cabeça quando ouviu seus passos se aproximando do sofá.
Esticou a mão e a puxou para que sentasse com ele.
Ela afundou na maciez das almofadas ao seu lado e cruzou as pernas. Tinha escolhido uma calça preta, de tecido mole e uma regatinha verde escura, decote V, também de um tecido mole e fininho. Nos pés, uma sandália rasteirinha. Os cabelos foram trançados displicentemente.
Percebeu o olhar da outra lhe escrutinando de alto abaixo.
Murilo sorriu.
__ Está linda! - sussurrou no seu ouvido.
Aquele contato a arrepiou inteira. Ele a tinha em suas mãos, bastava um pequeno gesto, um toque de leve para ganhá-la sem nenhuma resistência.
__ Obrigada! - o mirou em busca de um resquício da zanga de algumas horas atrás, mas o que se seguiu a deixou ainda mais magoada e desconfiada.
___ Você também está maravilhosa, Paula. - elogiou a prima, cujas curvas perfeitas estavam modeladas por uma calça jeans apertada, sandálias de salto e uma blusa branca, muito sensual, de um ombro só. O tecido retratava seu corpo, destacando os seios sem o sutiã.
Qual o problema que ela tem com sutiã? Raramente usa! - pensou exasperada.
Ele continuou:
__ Gosto do seu cabelo assim, curtos, Paula!
Ela levou à boca o copo, olhando atenta as reações de Martina, como se a bebida tivesse o sabor de uma pequena vitória sobre a mulher do primo.
Martina queria demonstrar indiferença àquele comentário, no entanto foi impossível. Levantou, pedindo licença e seguiu para a cozinha
Suelen, a mãe de Bia estava acabando de arrumar a salada de alface, numa travessa, sorriu ao vê-la entrando.
__ Deseja alguma coisa, senhora? Já está quase tudo pronto.
__ Só um copo d'água, por gentileza. Não se preocupe, não precisa ficar nervosa, disponha do tempo que precisar para acabar o jantar. Quem tiver pressa que coma um sanduíche! - sorriu sendo simpática.
Não tinha o costume de ser arrogante com ninguém, muito menos com os empregados .
A moça, uns 5 anos, mais velha do que Martina lhe alcançou o copo.
Notou que ela estava tremendo.
__ Está bem?
__ Sim. É que tudo é novo. Acabei esquecendo de pedir o que deveria ser preparado no jantar.
__ D.Paula mandou fazer um risoto de camarão e saladas, apenas.
Martina bebeu a água, num gole só.
__ Então acho que quem comerá o sanduíche serei eu. Sou alérgica a frutos do mar, de qualquer espécie.
Suelen pôs a mão na boca em espanto.
__ Deus! Me diga o que quer, eu preparo rapidamente, desde que não seja muito difícil. Um bife quem sabe?
__ Não há necessidade e não se preocupe, um sanduíche está bom. Não estou com fome mesmo. - a tranquilizou. __ Conheci sua filha hoje, um encanto, a Beatriz.
__ Bia me contou.
__ Quero que fique a vontade para trazê-la sempre que precisar. Uma criança não pode ficar sozinha em casa. Prometi a ela que no sábado que vem, ela pode vir para a gente se divertir na piscina. Você deixa?
__ Claro que sim! Mas será que D.Paula irá gostar?
__ A casa é minha agora, Suelen. E sua filha é minha convidada. - largou o copo na pia.
__Eu a trarei então.
__Vou aguardar. Obrigada pela água, Suelen. - saiu em direção a sala.
Murilo, na beira do bar, serviu mais uma dose de sua bebida, voltando a sentar.
__ O jantar já está servido, Martina? - ele indagou.
__ Ainda não. Suelen está um pouco atrasada. Está sozinha e terá que fazer um sanduíche para mim. Não como frutos do mar. Alergia.
Paula a encarou com desdém.
__ Não sabia, pedi para fazer porque é um dos pratos preferidos de Murilo e também, era o mais rápido, dado às circunstâncias. Aqui, jantamos as 20:30 em ponto! E você esqueceu que agora, tem obrigações, afinal minha tia lhe confiou isso.
Martina a olhou de cima. Sua vontade era de fazê-la engolir aquele copo que segurava.
__ Foi só hoje, não se repetirá! E quanto ao horário do jantar, acho muito tarde para uma refeição. Vou mudar este horário. Suelen tem uma filha pequena, não é justo que saia tarde daqui. - se virou para o marido. __ Murilo se não se importa, vou comer meu sanduíche no quarto. Estou com um pouco de dor de cabeça.
Ele se levantou, se achegando.
__ Tem certeza?
__ Sim.
__ Tudo bem. Quer que eu suba?
__ Não será necessário. - o fuzilou com o olhar.
Paula se intrometeu na conversa.
__ Sinto muito, Martina. Melhor ir deitar já que não poderá jantar. Vou pedir a Suelen que leve para você no quarto.
__ Faça isso Paula. - pediu ele.
Paula se afastou saindo para a cozinha.
__ Aconteceu alguma coisa? - Murilo indagou.
Pensou em dizer a ele umas boas verdades, no entanto, se calou mais uma vez. Até quando aguentaria não poderia prever.
__ Não, só quero comer e deitar. Com licença!
Ele a segurou pelo braço, falando firme.
__ Martina, melhor controlar seus acessos de infantilidade! Paula está sendo o mais gentil possível.
__Estou realmente, com dor de cabeça. Também estou preocupada com minha mãe. Só quero me deitar, por favor! - disse virando o rosto, não queria que visse seus olhos cheios.
" Não se atreva a chorar, Martina! Não se atreva! - sua razão se sobressaindo à emoção.
Ele a soltou, suspirando e passando a mão na nuca, num gesto de impaciência.
Martina subiu, entrando, fechou a porta, se encostando, ofegante, nela. Os olhos fechados tentando conter as lágrimas. Procurou respirar fundo, soltando o ar dos pulmões várias vezes .
Tirou a roupa, ficando apenas de calcinha e sutiã, vestiu um robe curto de seda Verde Água.
Sentou na cama com as pernas em posição de yoga, desligou o abajur e acionou o controle remoto da tv, passeando pelos canais para passar o tempo.
As palavras dele e a imagem de Paula, naquela sala, os dois rindo, ainda ecoavam em seus pensamentos.
" Gosto dos seus cabelos soltos..."
As lágrimas voltaram a querer cair, passou os dedos sob os olhos limpando as que escaparam. Ele usava com Paula as mesmas palavras que falava para ela quando se deparava com seus cabelos amarrados.
Minutos depois, ouviu uma batida na porta. Imediatamente, mudou de posição, encolhendo as pernas e as abraçando.
Murilo empurrou a porta, nas mão uma bandeja com alguns sanduíches e dois copos de suco de laranja.
__ Não precisava se incomodar, Murilo. Suelen estava ocupada? - levantou pegando a bandeja e depositando na mesinha de cabeceira.
__ Não, não estava. Eu quis trazer. Vamos comer juntos.
Ela arregalou os olhos castanhos.
__ Mas e o risoto? Paula disse que é seu prato preferido?
__ Posso comer em outra ocasião. Não me sentiria bem saber que está jantando sozinha, no quarto, em seu primeiro dia nesta casa. - ele agarrou sua mão, sentando na beira da cama, a puxando para o seu colo.
__ Porque teima em prendê-los? - passeou os dedos pelo trançado.
__ Porque é mais prático. São longos, incomodam às vezes. Já pensei em cortá-los.
Ele desfez a trança.
__ Se quiser arrumar uma briga comigo, faça isso!
Ela o encarou.
__ Porque falou as mesmas palavras a Paula?
Ele ergueu uma sobrancelha.
__ Não entendi.
__ Entendeu sim, Murilo! Você falou a mesma coisa pra ela. Que gosta dos cabelos dela soltos.
Ele riu.
__Esse é o motivo da dor de cabeça? É alérgica mesmo a camarão?
__ Sou alérgica sim! Preferi vir aqui pra cima. Às vezes, sozinha é melhor do que ficar ouvindo vocês dois conversarem sobre assuntos que só ela tem conhecimento a seu respeito e por mais que seja a sua esposa, quando Paula está junto, parece que sou invisível.
__Martina, você tem 22 anos. Não seja infantil! Estamos casados. Eu e Paula, somos primos, nos conhecemos desde criança, óbvio que ela me conhece muito mais do que você. O que me deixa chateado é que combinamos que confiaríamos um no outro e logo no primeiro dia, você quebrou a promessa.
Ela saiu do colo dele, cruzando os braços.
__ Então, para de agir como se os sentimentos dela fossem mais importantes do que os meus! Para de elogiá-la! Vocês tiveram uma história, é claro que vou me sentir insegura!
Murilo também se levantou e a abraçou.
__ Quero apenas que confie em mim.
__ Confiarei se não me der motivos pra desconfiar. - se desvencilhou dele e pegou uma escova da mesinha de cabeceira, penteou os cabelos.
Cada vez, que o assunto era Paula, ele sempre procurava por panos quentes. Percebeu que uma das táticas de Murilo era usar seus sentimentos por ele para que se acalmasse.
As palavras da outra, na ligação, daquela manhã no hotel, martelaram em sua cabeça.
" Quando voltar, vai conhecer quem realmente ele é."
Murilo lhe pedia confiança desde que se conheceram. Mas como? Qualquer pessoa podia notar pelos gestos e olhares que os dois trocavam, o jeito como a protegia, a voz terna com que falava com ela, as risadas... que ainda havia algo que não tinha sido resolvido entre eles!
Seu coração se apertou e para disfarçar a dor que sentia no momento, pegou o copo de suco tomando um gole, indo até a janela, ficando de costas para ele.
Murilo se aproximou, encostando o corpo másculo no dela, enlaçando sua cintura, afastando os cabelos com as pontas dos dedos. Sabia como agir, conhecia seus pontos fracos. Cada vez, que se aproximava, o corpo de Martina reagia sempre da mesma forma, cheio de desejo.
__ Vamos comer. - ordenou. __ Vou me policiar, está bem? Sinto muito se passei esta impressão. Não queria magoá-la. Vem, a gente come e depois podemos procurar algo pra assistirmos na tv, o que acha?
Martina virou, encarando aqueles olhos negros, iluminados apenas pela luz da televisão ligada.
Sorriu levemente, um pouco triste, se controlando.
Ele não reafirmou seu amor e não disse que a amava, nenhuma vez, depois que tinham chegado.
Precisava ter coragem para enfrentar todas aqueles ataques sem ser tachada de mulher ciumenta, infantil e chorona.
Apertou o copo entre as mãos, para aliviar a dor de seu coração. Era preciso ignorar o ciúme que estava sentindo, senão enlouqueceria. Mas como? Queria ter o poder não se mostrar tão sensível e poder esconder isso por detrás da sua língua, como fazia tão bem, quando o assunto não era Murilo.
__Tá bem. - concordou e sentou recostada nos travesseiros.
Murilo trouxe a sanduíches, ficando ao seu lado.

Duas horas mais tarde, depois de se amarem, ela adormeceu em meio a um filme e na madrugada, abriu os olhos, procurando Murilo para se achegar mais a ele. O travesseiro, estava vazio. Afastou os lençóis para sair a sua procura, quando ouviu a porta se abrindo; fechou os olhos imediatamente e o colchão afundou ao seu lado.
Qual o motivo de ter saído do quarto? Talvez sede? Ou quem sabe, procurar Paula? Quanto tempo estava afastado?
Que inferno! - praguejou em sua mente. Aquela mulher era um verdadeiro encosto!
Perdeu o sono e só voltou a adormecer quando os pássaros, começaram a cantar nos galhos dos Flamboyants Vermelhos, quase em frente a sacada da suíte.

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