Comer, chorar e amar

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Murilo ficou um tempo parado ali, no meio do closet, não suportava a ideia de vê-la sofrer assim, mas não podia abrir o jogo. Paula era muito esperta e qualquer suspeita de que Martina soubesse do que estavam fazendo, ela não pestanejaria em pedir a Luis Alberto que fizesse algo contra ela. Talvez não a matassem de imediato, mas tinham outras formas de fazerem maldades. Não poderia por a vida dos dois em risco.
Faltava pouco, para começarem as operações contra ele, tudo estava sendo armado nos mínimos detalhes e em cerca de alguns meses, Luís Alberto não seria mais nada, quiçá nem existisse mais. E Paula também, não sairia ilesa daquilo. A odiava cada dia mais. O nível de maldade e de loucura dela era em grau máximo. Como pode, algum dia, chegar a dormir com ela!?
Seus pensamentos se voltaram a Martina, quando ouviu ela confessar que ainda o amava.Pra ele era uma confirmação que deveria lutar com mais afinco para se livrar de uma vez, das amarras que prendiam a felicidade dos dois. Ouvi-la dizer que aquela criança tinha sido feita com todo o seu amor por ele e não poder dizer o mesmo, era lhe dilacerar o coração. Ver o sofrimento nos olhos dela era algo abominável.

Voltou ao seu quarto, desanimado, tirando a roupa e entrando debaixo do chuveiro.
Martina o deixava louco, a queria de todas as formas e ficava impossível se manter longe dela, mas também sabia que cada vez, que se aproximava, machucava seus sentimentos; temia que ela perdesse o interesse nele, de tanto sofrer.
Ninguém suporta ser maltratada assim, uma hora tudo o que sente poderá se transformar em aversão. Amor e ódio andam lado a lado. - pensou.
Saiu do banho e enxugando o corpo, vestiu uma bermuda. Se descesse encontraria Martina na cozinha e queria ficar só mais um pouco, ao seu lado, antes de dormir. Talvez, tentar uma conversa calma, que a deixasse mais tranquila. Paloma alertou para que ela se estressasse o menos possível, nos primeiros meses, que sempre são, os mais complicados e tudo pode acontecer.
Quando entrou na cozinha, em silêncio, ela estava de costas, cortando um pedaço de queijo, com dificuldade, pois a mão que forçava a faca era a do pulso machucado.
Ele se aproximou, tirando com cuidado a faca de suas mãos.
__ Deixa que eu corto. - se ofereceu. __Quer fazer o quê com isto? - apontou para os pedaços de queijo mal cortados, já na tábua.
Ela deu de ombros, como se não importasse muito.
__ O que Suelen deixou é muito, só para mim, teria que aquecer todo o prato e como não sou empregada da sua amante, não aquecerei nada. Vou fazer uma omelete... A receita está aqui, no Google.- mostrou o iPhone.
__ Eu, também estou com fome. Sabia que gosto de omeletes? Deixa que eu faço, afinal você está machucada.
Martina deu o lado a ele.
__ Não tenho como dizer não. Meu pulso dói e olha, só consegui cortar estes pedacinhos aqui.
Murilo riu.
__ Vamos lá, então, já que a cozinheira não tem forças para cortar um queijo.- debochou.
__ Isso aí, parece pedra! - sorriu.
Murilo fatiou o queijo, enquanto ela lia receita passo a passo pra ele.
__ Não, seu maluco! - exclamou brincando, ao seu lado na beira do fogão.__ Primeiro o queijo, depois os ovos batidos. - ela riu da sua falta de jeito na cozinha.
__ Mas dá no mesmo, tudo vai ficar dentro da frigideira! - argumentou.
__ Não, mesmo! O queijo tem que derreter, só que agora, tudo vai virar uma papa.
Ele fez uma cara de quem não estava nem aí e que aquilo era mania de mulher, querendo fazer tudo perfeitinho.
__ Agora, é o que mais? - pediu a receita.
__ O sal.
Deu um gritinho quando ele encheu a colher.
__ Não, por favor!
Murilo se divertiu com a cara dela.
__ Te peguei! Achou que eu iria colocar toda esta quantidade, né?
Martina replicou, torcendo o canto da boca.
__ Vindo de você, não posso confiar! - tomou a colher da mão dele, devolvendo o sal para o saleiro.
__ Aqui diz que o queijo já é salgado, então, temos que usar com parcimônia.
Ele soltou uma gargalhada.
__ Tá rindo de quê? -indagou, sendo contagiada pelo riso dele.
__ Imagina quando este bebê nascer?! - se aproximou, passando a mão em sua barriga. __ Terei que fazer um curso de como fazer papinha e...
__ Ninguém vai precisar de curso. Contrataremos uma babá, com todas as qualificações!
Foram interrompidos pela presença insuportável de Paula. Nos olhos, o ódio estampado. Murilo se afastou imediatamente de Martina.
Babaca, morre de medo de desagradar a bruxa!- pensou com raiva.
Martina olhou para ele, a magia e o descontração do momento tinham acabado. Se ergueu na ponta dos pés, para alcançar o lugar dos pratos no aéreo e pegando um, serviu uma porção da omelete.
__ O resto é seu, Murilo.- avisou. __ Vou para a sala de televisão, se ficar aqui, com certeza vou vomitar.
Paula atravessou seu caminho.
__ A sala de televisão, não é lugar para comer, vai sujar tudo por lá!
Martina revirou os olhos em desagrado, atacou irônica.
__ Jura? Ah, falando em sujar, ao menos quando comer lave o seu prato, faz parte da boa educação quando se mora de favor na casa dos outros.
Paula inchou ainda mais de ódio.
__ Você acha mesmo que está por cima, né, garota? Não vejo a hora de me livrar de você! - vociferou.
Martina parou a sua frente a encarando em desafio.
__ Vai fazer o quê? Me matar? Encaro isso como uma ameaça?
Murilo se interpôs no meio das duas.
__ Já chega! Martina, sabe bem que não pode ficar passando raiva por nada. Lembre-se do que Paloma lhe disse.
__ Nem quero. Por isso, já estou saindo. - foi até a porta e se virou, não sairia assim por baixo. Seu gênio, apesar de estar menos aflorado com a gravidez, não deixou por menos.
__ E Paula...- chamou com calma.__ Quanto a comer na sala de TV, só para lembrar, eu ainda sou a dona da casa, viu? Ainda sou casada com ele aí, e basta um pedido meu, dizendo à Carmem, que devido a gravidez enjoei da sua cara e do seu perfume e com toda a certeza do mundo, você será convidada a ir morar bem perto da empresa, em algum imóvel da família Márquez Muniz. Eu sou a nora, a que vai dar um neto a eles, portanto se recolha a sua insignificante vidinha. Aprenda só uma coisa, nunca subestime quem você mal conhece.
Paula fez menção em se aproximar de Martina, o que foi impedido por Murilo.
__ Não se atreva a encostar um dedo nela. Está grávida!
Paula puxou o braço com força e encarou Murilo, enfurecida.
__ Martina carrega algo que será meu em breve, alguém que cuidarei e amarei como se tivesse saído de mim. Quer mais ferida do que essa? A de ter que parir um filho e não poder nem amamentá-lo? Não pretendo encostar um dedo nela, a não ser que seja muito necessário... você entende, né? No entanto, você sabe tão bem quanto eu quem gostaria...
Murilo se exasperou.
__ Chega! Cala a boca! - virou-se para Martina, que tentava entender a conversa dos dois.__ Por favor, Martina, pelo seu bem e pelo bem do nosso filho...- suspirou buscando paciência. __ Sai daqui! - pediu com voz calma, quase num tom suplicante.
Martina bufou e saiu, indo até a sala de televisão. Não queria ficar de picuinha com a rival, mas vê-la com raiva era bom! Queria se manter longe dela, no entanto, não iria aguentar desaforo de como deveria agir dentro de sua casa.

UM TEMPO PARA AMAR 1° Lugar na Categoria, Cena Dramática #CDouradosnaliteraturaOnde histórias criam vida. Descubra agora