Murilo

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"__ Como pode fazer isso comigo? - a voz saiu fraca.__ Como pode me enganar assim? Pra quê?"
A imagem e a voz de Martina transtornada, no quarto de Paula, me atormentou pelas  duas madrugada seguidas e os dias estavam sendo longos demais para suportar! Tinha acabado de saber que seria pai, porém o que estava passando me impedia de sentir alegria. Ela tinha escondido a gravidez e isso me deixou ainda mais transtornado. Martina era o alvo de Paula e do sádico Luís Alberto Rodriguez! Corria perigo e eu precisava lhe proporcionar proteção! Estavam ameaçando Martina e me chantageando e isso me deixava apavorado!
A dor e o sofrimento de Martina, refletidos em seu olhar dilaceravam meu coração.
O fato de feri-la e não poder lhe explicar, era o pior dos castigos! Estar sendo obrigado a desprezá-la e fazê-la pensar que eu e Paula ainda éramos amantes, era uma das condições que  teria que aceitar para que Luis Alberto a mantivesse viva e isso estava tirando minha sanidade mental.
Além da possibilidade de ter a mulher que amo morta da pior forma possível, eu estava lutando para que tal coisa não acontecesse. Temo que jamais ela me perdoe ou que nunca mais possa tê-la de volta.
O que estão exigindo que eu faça a ela, talvez, não tenha perdão. No entanto, estou fazendo por amor e em hipótese alguma, poderei contar à Martina o que está acontecendo, porque se souber só a deixarei em pânico, ainda mais agora, que terá um bebê.
Resolvi, para o bem dos dois seres que amo, calar. Não posso brincar com gente como Luiz Alberto! Essa é a única forma de manter aquele monstro longe deles e salvar suas vidas.
No início, ela sofrerá, mas ao menos, terá a chance de se manter viva com o bebê naquela história toda até que eu consiga reverter a situação.
Estou tomando providências nada convencionais para acabar com aquele sofrimento logo. Já acionei meus homens de confiança e já estamos em fase de negociações, oferecendo subornos a agentes do lado podre da polícia, para que dêem cobertura na operação contra Luís Alberto. A guerra começou e as as consequências serão imprevisíveis. Manter Martina e meu filho seguro é o que importa no momento. Se o que planejo der certo e quando tudo acabar, tentarei explicar  o porquê de ter sido tão cruel e pleitearei o seu perdão.
Pela mulher que amo mais que tudo na vida e pelo filho, que ela carrega no ventre, eu, Murilo Márquez Muniz, que sempre abominei as pessoas daquela estirpe, como Luis Alberto, e o modo como meu pai fez fortuna, me torno agora, um dos tantos daquele submundo de crimes e se preciso for morrerei em confronto para salvá-los.
Passei  3 dias, em Barcelona, esperando ansioso pela notícia de que Martina pudesse estar grávida, pois isso seria a consagração do nosso amor e então, rasgaria aquele contrato, provando ainda mais o meu amor a ela.  Seríamos uma família de verdade. Sem ameaças  ao nosso amor e sem o temor de ter que entregar o bebê assim que não dependesse mais do seu leite para viver.
Naquela manhã, na volta de Barcelona, o que mais queria, assim que pusesse o pé dentro do quarto em casa, era abraçar a mulher da minha vida, lhe beijar e matar a saudade  fazendo amor com ela, mas nada disso pode se concretizar.
Antes de pegar o avião recebi de Paula uma mensagem para que eu fosse direto ao escritório assim que chegasse.Problemas urgentes, segundo ela, me esperavam.
E minha surpresa foi que, ao chegar, dei de cara com Luis Alberto Rodriguez e Paula sentados displicentemente em meu escritório. Senti meu sangue ferver e a pergunta foi:
"O que aquele sujeito fazia ali?"
__ Se bem me recordo, não tenho mais negócios com ninguém do seu mundo, Luis Alberto, e muito menos com você! - falei ríspido. Aquele homem, não merecia respeito nenhum e minha expressão demonstrava isso a ele sem cerimônia. __ O que lhe traz ao meu escritório? 
Vi Luis Alberto sorrir, levantando-se e servindo-se de um pouco mais de meu Whisky, que mantenho no escritório.
__ Como vai, Murilo Márquez Muniz? -  me cumprimentou debochado. __ As regras de boa educação ainda são as mesmas no meu e no seu mundo.
Diante da zombaria, franzi a testa, encarando Paula, em interrogação.
Ela sentada com as pernas cruzadas, retribuiu o meu olhar com desprezo. Repliquei:
__ Não estou fazendo questão nenhuma de ser educado, se é que ainda não notou. Fala logo, o que o traz aqui?
__ Bem, digamos que fiquei sabendo, que algo que queria demais me foi tirado na mão grande por alguém que se achava muito esperto.
__ Não entendi. - franzi a testa, disfarçando, pois já imaginava que ele falava de Martina.
Presencie o sorriso sarcástico no rosto de Paula. Luis Alberto notou e lhe passou a palavra. 
__ Fala para o seu primo o que você quer, querida? Explica que ele tem alguém que muito desejei e quando estava prestes a conseguir eu  perdi por que ele chegou na frente, querendo bancar o espertalhão.
Sentei- me atrás da mesa, minha vontade foi de pegar a arma na gaveta e estourar os miolos daquele pulha, mas preferi ouvir tudo o que ele tinha a dizer.
__ A quem está se referindo exatamente? - indaguei.
Paula se levantou escorando as duas mãos na mesa, ficando cara a cara comigo e então tive a grande surpresa!
__ Sua queridinha esposa, Murilo! - ironizou. __ Você  achou que eu aguentaria aquela garota por muito tempo? Assim como você, eu tenho meus métodos pra conseguir minhas informações e acabei descobrindo, veja só, que comprou a ruiva para proteger de Luis Alberto! Você passou a perna nele, pois quem deu o dinheiro para pagar a dívida a ele foi você e não o pai dela! - jogou as palavras na minha face, sem gaguejar.
Eu simplesmente, fiquei perplexo com Paula! Jamais pensei que ela pudesse me apunhalar pelas costas daquela forma!
__ Vocês estão loucos! O pai de Martina pagou cada centavo que devia a você, Luis Alberto! E quando lhe encontrei, naquele bar, em conversa, você me disse que não pretendia fazer nada contra a família dele, que tudo estava resolvido!
Luis Alberto soltou um riso quase demoníaco.  
__ Só não me disse que a queria também, não é? Me encontrou assim, como por coincidência e puxou o assunto dos Montesinos...e eu caí! - bebeu mais um gole da bebida forte, sem gelo. __ Não posso lhe condenar por a desejar só para si, porque ela é a coisinha mais linda e mais gostosa que um homem poderia desejar.
Me levantei com os punhos cerrados de raiva em direção a Luis Alberto, que não se intimidou e continuou:
__Uma garota novinha e pelo que sei, ainda era virgem, nunca soube que tivesse um namorado... Tão inocente, que várias vezes cheguei a me masturbar querendo meter nela com força até ela desmaiar! 
Soltei um palavrão e num gesto súbito e inflamado, parti pra cima daquele lixo, lhe desferindo vários socos no rosto, enquanto apreciava com prazer o sangue jorrar de seu nariz. Luis Alberto estava um tanto tonto e não conseguiu acertar nenhum em revide. Paula se enfiou no meio de nós dois para que eu  não acabasse fazendo uma besteira e frustrasse seus planos, que para darem certo, precisava  daquele imundo vivo.
Luis limpou o sangue com a manga da camisa e continuou.
__ Eu a comia com os olhos nas reuniões que ia na casa daquele velho nojento, mas ele preferiu entregá-la a você do que a mim! Eu, sim, merecia comer aquela bocetinha apertada, Otto devia Martina a mim, que evitei várias vezes, que fosse morto por causa das dívidas que costumava contrair!
Achou mesmo que eu a deixaria em paz, mesmo seu pai pagando o que me devia? Ela só não foi minha porque você pôs um anel de noivado em seu dedo! Se você não a tivesse desposado, a esta hora ela seria minha! Mas me conformei. Afinal todos respeitam você e comigo não seria diferente. No entanto, você não jogou limpo, Murilo, e agora, atendendo a um pedido da minha amiga, a qual devo obrigação, estou querendo retomar o que é meu! 
Paula lhe interrompeu.
__ Pode deixar que daqui pra frente eu explico, Luis! - disse com raiva na voz.
Me encarou com todo o desprezo do mundo, se não fosse minha prima, teria matado ali mesmo, os dois.
__ Sabe, Murilo, passei toda minha vida esperando que você viesse a me amar, passei por muitas coisas, você é sabedor de tudo e quando achei que finalmente, eu poderia tê-lo só pra mim, você apareceu dizendo que iria casar com aquela garota!
Não bastasse isso, a trouxe para esfregar a sua felicidade na minha cara! No início, pensei que fosse mesmo por dinheiro ou porque realmente, queria um filho e como sempre dizia que não queria amarras, eu acreditei que pudesse criar seu filho junto com você na mansão. Apostei na possibilidade de que com o tempo, pudesse perceber que eu era a pessoa certa para você dividir sua vida. Mas aí, percebi que você a amava e com o passar dos dias, eu que, sempre estive do seu lado, fui desprezada por causa dela. 
A gota d'água foi a história da viagem, você me humilhou demais na frente dela, não querendo a minha companhia. - soltou um suspiro como desabafo. __Posso ter perdido uma ou duas  batalhas, mas não a guerra e ela recomeçará hoje, muito mais agressiva!
Caminhei nervoso pelo escritório, enquanto Luis Alberto, sentado, bebia mais um gole de Whisky para aliviar a dor dos socos, que já começavam a mostrar os hematomas em seu rosto.
__ Você só pode estar louca! - exclamei.
Luis Alberto sorria com gosto e acrescentou:
__ Resumindo: a partir de hoje, Paula será a mulher que dormirá com você!
Não aguentei e começei a rir das loucuras que estava ouvindo.
__ Ah, sim e quem vai me obrigar a aturar você, Paula?
Luis replicou;
__ Eu! Paula o quer demais e tem raiva da sua esposinha.Gostei da ideia dela, de fazer a pequena sofrer. Adoro ver o sofrimento alheio. Vai fazer tudo o que ela quiser, senão...
Lhe encarei em desafio.
__ Senão? - indaguei com o olhar ameaçador, cheio de ódio.
__ A qualquer momento, poderá achar a sua linda por aí, assim, suja de sangue, com aquele rosto lindo desfigurado e aquele corpo gostoso, todo quebrado, queimado...Você não sabe como tenho prazer em fazer uma mulher gritar de dor! - seu tom era ameaçador e temi pela vida de Martina. Sabia bem do que ele era capaz. Martina não seria a primeira, a sofrer o que ele descrevia se caísse em suas mãos
Voltei a sentar, pensando que o melhor no momento era usar de sensatez, diante da ameaça. Paula continuou:
__ E mais, eu quero um filho e será o seu! Vamos criá-lo na mesma casa, eu serei sua mãe e ela não será ninguém! Martina vai sentir na pele a dor de ser rejeitada por você, assim com eu estou sentindo!
Luis Alberto se levantou largando o copo em cima da minha  mesa.
___ A história é esta: minha amiga quer você e quer um filho! Você quer sua esposa viva e saudável. E eu quero ajudar Paula e quero me vingar de você por ter me feito de bobo. Obedeça sua prima, namorada, sei lá o que serão de hoje em diante!  Dê o que ela quer e sua esposa estará a salvo. Se sacrifique por ela, Murilo - desceu o olhar para a bunda, bem feita de Paula, passando a língua nos lábios. __ Se bem que não será nenhum sacrifício... - estalou um tapa em uma das nádegas e ela sorriu. __ As cartas estão na mesa, que comecem os jogos!
Se aproximou mais de Paula lhe dando um beijo no rosto.
___ Seu amor está aí! Ele é todo seu. Da minha parte, o que me pedir para fazer eu estarei a disposição!
Saiu com um sorriso malvado no rosto, um sorriso de vitória.
Tinha nascido com aquela índole e o sofrimento de um inimigo era bálsamo para suas dores!
Saí da cadeira e parei no meio do escritório com as mãos cruzadas atrás da nuca, estava zonzo com tudo aquilo, a princípio não sabia o que fazer.
Paula se aproximou tentando me abraçar pela cintura, gesto que foi rechaçado imediatamente por mim.
___ O que pensa que está tentando fazer, Paula?
Ela sorriu jocosa.
___ Tentando, não. Eu vou fazer! Hoje, mesmo, daremos um jeito dela nos encontrar num ato de amor! 
A olhei surpreso com aquela ideia.
___ Jamais vou dormir com você novamente! Nunca te amei e acha que vai conseguir isso agindo deste jeito?! Nunca me deitarei na cama com você! O máximo que poderá  conseguir será deixar Martina desconfiada! Você nunca vai conseguir nos separar!
___ Nem pense em se rebelar! Ouviu bem o que Luís Alberto disse! Você vai expulsá-la de sua vida assim que tiver um bebê. Isso será feito através de uma inseminação artificial, mas hoje, ela vai pagar o que me fez passar!
Parei em frente a janela com o olhar vazio, não estava acreditando que, ao tentar salvar Martina das mãos de um sádico, lhe atirei num mar de sofrimento sem fim! 
O ditado popular cabia bem ao caso:
"Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come!" 
Tive meus pensamentos interrompidos pela voz de Paula, que agora, me soava insuportável.
___ Sei que parece loucura, mas é uma loucura movida por amor, Murilo!
___ Foi um grande erro, meu e da minha família, termos te buscado naquela clínica! Hoje, vejo que nunca deveria ter saído de lá!
___ Cala a boca, Murilo! Eu estou dando as cartas agora! Assim que chegar em casa vai direto para o meu quarto!
___ Não vou fazer sexo com você!- disse com convicção.
___ Não será necessário agora. Com o tempo, depois, que me livrar dela, você entenderá que foi melhor ter ficado comigo. Eu cuidarei e amarei seu filho como se tivesse saído de mim! Já tenho um plano, basta que ela surpreenda nós dois no quarto nus.

O dia já começava a raiar, me virei na cama, do meu quarto de solteiro, remoendo tudo o que tinha acontecido.
O que mais me surpreendia era que tudo tinha acontecido exatamente, como Paula tinha planejado.  A camisinha não tinha sido usada por mim, mas sim por um dos seguranças, com quem ela conseguiu as informações para passar a Luis. Paula confessou que tinha dormido com ele naquela tarde, antes da minha chegada à mansão e depois, ela mesma exigiu que  eu o demitisse.
Lembro que cheguei a pedir aos céus que fizesse o melhor por Martina. Não me agradava em nada fazê-la passar por tudo aquilo carregando uma criança no ventre, mas também tinha outro lado, se já estivesse grávida, a ira de Paula talvez, se amenizasse um pouco, porque queria a criança. Por fim, soube que o bebê já estava a caminho e que Martina, na sua inocência e tomada pelo sofrimento, quis me esconder. Aquilo me desagradou, pois  precisava protegê-la e tinha que estar a par de tudo.
O que mais me doía era ter que tratá-la mal, como se não se importasse com ela ou com o nosso filho. Assim que soube do bebê, avisei imediatamente à Paula, que sorriu satisfeita, pois teria o que tanto sonhava, um filho dele.
Meus olhos se encheram lembrando do quanto ela tinha chorado, do quanto estava se sentindo sozinha e abandonada. A angústia tinha virado minha companheira naquelas noites mal dormidas.
Por enquanto, o que podia fazer era esperar, até que meus planos para aniquilar Luis Alberto tivessem êxito. Talvez, fosse um pouco demorado, mas estava fazendo os contatos certos. Tudo aquilo era um jogo de estratégias, não poderia ser feito com avidez, pois poderia dar errado e em se tratando da vida  da minha mulher e do meu filho, nada poderia sair errado!

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