Emoções

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A claridade do sol entrando pelo vão da cortina, acima da cabeceira da cama, fez Martina abrir os olhos com uma certa dificuldade. Sentou rapidamente, passando a mão pelos cabelos, lembrando da noite anterior. Suspirou e se atirou de volta no travesseiro macio. Girou a cabeça para o lado e apenas o travesseiro amassado denunciava que Murilo tinha dormido ali.
Levantou o lençol, estava nua e não se lembrava de ter tirado o vestido. A única coisa que veio ao seu pensamento foi de como tinham adormecido; ela deitada no peitoral dele. Olhou para o teto rebaixado, onde os spots iluminaram a cena em que ela o tinha masturbado. Uma sensação estranha a invadiu, como se desejasse tocar novamente nele. A experiência, tinha despertado algo nunca sentido dentro dela.
Levantou procurando seu vestido e não o encontrando, se enrolou no lençol. Abriu um pedaço da cortina e enxergou os raios do sol refletindo nas águas do rio e o céu azul claro sem nuvens. Saiu devagar, a procura de Murilo e de suas roupas.
Desceu parando no último degrau, percorreu o recinto com os olhos, tentando localizar sua bolsa. Precisava do seu iPhone.
A porta se abriu e a figura máscula de Murilo, apareceu vestindo apenas uma sunga.
A visão dele sem camisa e dos gomos da musculatura abdominal que terminavam em V no cós, fizeram seu coração disparar. Sabia bem quanta masculinidade se escondia por baixo da malha fina da sunga de banho. No corpo, com músculos na medida certa, escorriam gotas de água, demonstrando que ele havia acabado de dar um mergulho.
Ele sorriu sedutoramente, de canto, passando a toalha nos cabelos negros para tirar a umidade, ao vê-la parada no pé da escada. Murilo teve a consciência de que estava causando um impacto ao notar o modo como ela correu os olhos por seu corpo.
As cenas da noite anterior vieram em capítulos na mente de Martina, uma quentura subiu pelas suas entranhas e ela corou. Murilo quebrou o clima e se aproximando, segurou seu rosto dando um beijo de leve em seus lábios.
__ Bom dia! O domingo está lindo!
__ Bom dia! - desceu o último degrau apressada.Se continuasse perto dele não responderia por si. __ Estou à procura da minha roupa e meu telefone. Preciso ir embora, devem estar preocupados, Murilo! Não avisei que dormiria fora. Nunca faço esse tipo de coisa!
Ele se abaixou no tapete, perto do sofá e pegou sua calcinha preta, a pendurando na ponta do dedo, sorrindo malicioso.
__ Está à procura dela também?
Marina esticou o braço para tomar de sua mão e ele ergueu no ar o pedacinho de renda preta.
__ Murilo, por favor! Preciso me vestir!
__ Não será necessário. Estamos ancorados em alto rio e não se preocupe, seu pai sabe que está comigo. Avisei ontem, que não voltaria pra casa.
Ela segurava o lençol com uma das mãos e com a outra, tentava alcançar a mão dele dando alguns pulinhos para reaver a calcinha.
__ Com que direito fez isso? Com que cara vou olhar para o meu pai. Vai achar que dormi com você!
Murilo gargalhou com gosto.
___ Mas foi o que aconteceu! Dormiu abraçada em mim a noite toda. Você não é muito forte para bebidas alcoólicas. Só não fomos adiante, porque te respeitei, não quero que se arrependa de ter perdido a virgindade comigo...e Martina...seu pai não se importa muito... Somos noivos.
Ela agarrou as pontas do lençol para poder caminhar sem tropeçar e admitiu com um olhar um pouco triste.
__ Acho que tem razão, se me amasse, não teria me colocado nesta situação. Na verdade, só tenho valor porque me vendeu para sanar suas dívidas.
Estendeu a mão pedindo a roupa íntima a ele, que passou por ela com a peça na mão e subiu a escada. Martina o seguiu, entrando no dormitório com os móveis planejados.
Ele anunciou:
__Vamos passar o domingo aqui. Tem alguns biquínis novos, na primeira gaveta daquela porta ali. - apontou para o armário. __ Toalhas e material de higiene no banheiro. Se quiser, pode ficar nua, ninguém nos incomodará, estamos a sós, aliás, você fica linda deitada nesses lençóis assim, como veio ao mundo. - apontou para a cama, dando uma risadinha de canto de boca.
Martina não se abalou com o fato dele ter tirado seu vestido quando estava dormindo. Depois do que tinha acontecido, ele a enxergar nua era o de menos.
__ Porque toma decisões sem me perguntar se eu gostaria ou não de ficar aqui? - indagou irritada.
__ Porque vamos casar e precisamos ficar mais tempo juntos. Esqueceu a noite de ontem? O que falei? Que vamos nos conhecer melhor! - respondeu a pergunta retórica.
Como poderia? - pensou ela, apertando o lençol contra o corpo em forma de proteção. Murilo notou a linguagem corporal dela e a tranquilizou.
__ Não vou te estuprar. Vai pedir para se entregar a mim e já aviso que uma das minhas virtudes é ser paciente. A noite de ontem, me disse que estou no caminho certo. Quando estiver pronta e confiar em mim, vou te dar muito mais do que apenas carícias. - levou o pedaço de renda ao nariz e cheirou sensualmente.
Aquele gesto despertou nela as mesmas sensações da noite anterior. Sentiu seu sexo apertar de desejo e balançou a cabeça negando, revirando os olhos, em sinal de deboche, procurando disfarçar o que estava sentindo.
Murilo se aproximou, dando um beijo em sua boca e ela tremeu; o simples encostar dos lábios despertava nela, a ânsia de sentir mais o gosto dele.
Ele se afastou girando nos calcanhares e saiu levando consigo a calcinha. Martina ficou no meio do quarto paralisada, vendo ele fechar a porta.
__ Assim que decidir o que vai usar, desça para a gente tomar café. - ordenou.
Sim, senhor! - pensou irônica.- Só sabe dar ordens!
Entrou no banheiro, que não era muito espaçoso e ligou o chuveiro, passando rapidamente, o sabonete em seu corpo. As imagens do que acontecera no sofá a fizeram desestabilizar e a sensação estranha na boca do estômago surgiu.
Fechou os olhos tentando afugentar aqueles pensamentos, mas não conseguia. O que tinha sentido com Murilo tinha um quê de quero mais. Se imaginou com ele, nua, na cama novamente, suas mãos e sua língua a acariciando em lugares do seu corpo que a fizeram perder a razão.
Deixou a água correr por entre os seios firmes e demorou mais do que o normal ali.
Desligou o chuveiro se cobrindo com a toalha felpuda que estava dobrada em cima do balcão e abrindo a gaveta, encontrou uma necessarie com escovas de dentes e escova de cabelo ainda embaladas, ao lado, um hidratante e um protetor solar de uma marca de cosméticos famosa, que já tinham sido usados, pois estavam pela metade.
Com certeza, ela não era a única que frequentava o iate e também não era apenas um lugar especial para pensar, como ele havia dito. Ele trazia mulheres para ali e essa conclusão a incomodou.
Saiu em direção ao quarto e abriu a porta do roupeiro. Nele havia algumas peças de roupas, que imaginou serem de Murilo e algumas roupas femininas, como shorts, camisetas e agasalhos para o frio. Seus olhos bateram em uma saída de banho branca de tecido bem fininho, modelo camisa.
Puxou a gaveta e se deparou com alguns maiôs e biquínis, ainda com etiquetas. Escolheu um biquíni verde escuro, não muito pequeno, porque não queria provocar Murilo. A calcinha modelava com perfeição as nádegas firmes e arredondadas e o sutiã de bojo cobria uma boa parte dos seios.
Vestiu e se olhou no espelho, parecia que, quem tinha o comprado, havia pensado nela, o que sabia que não era verdade, pois Murilo jamais entraria numa loja para comprar este tipo de roupa. Com certeza, alguma mulher comprou e deixou ali, muito, provavelmente Paula.
A foto que viu na rede social de Murilo, num dia de diversão, Paula o acompanhava e como sabia que eram ou tinham sido amantes, concluiu que a dona das peças de roupas, seria ela.
Passou mais uma vez, a escova nos cabelos, vestiu a saída de banho e pegou o protetor solar, saindo para fora à procura de Murilo.
O sol ofuscou um pouco sua visão e ela cerrou os olhos.
__ Você demora demais!
Martina ouviu a voz e virou em direção à ela.
Murilo estava sentado quase ao lado, debaixo de uma tenda e apenas um tecido os separava. Ela levantou o pano e se deparou com uma mesa pequena, posta com o café da manhã.
__ Desculpa, não costumo ser tão demorada. Acontece que tudo é novidade, então demorei para achar e experimentar o biquíni.
__ Quer café? - indagou servindo uma caneca.
__ Sim, obrigada.
Ele alcançou a ela, que se sentou numa espreguiçadeira branca estofada, cruzando as pernas, revelando uma parte das coxas. O gesto não passou despercebido, os olhos de Murilo fixaram-se nela.
Martina correu a vista ao redor, a água azul cintilando sob os raios do sol da manhã. As montanhas ficaram ao longe, quase não dava mais para se avistar as casas. Estavam longe da costa. O rio era imenso.
Martina puxou conversa, camuflando o poder que aqueles olhos cor da noite tinham sobre ela.
__ Você que trouxe o iate até aqui?
__ Sim. Gosto de ficar assim. Sem ver ninguém, mergulhar, refletir...
__ Quando meu irmão falou de você, me mostrou uma foto em que está com Paula e uma outra moça... Paula não se importa que você traga mulheres para cá?
Ele sentou na cadeira ao lado, pegando a caneca da mão dela, bebeu um gole do seu café e devolveu, a mirando sério.
__ E porquê se importaria? Nunca tivemos nada oficial! Quando nos envolvemos, pus as cartas na mesa. Você está incomodada com o fato de outras mulheres já terem frequentado meu iate?
Martina riu, como se aquilo fosse a última coisa que a preocupasse, no entanto bem lá fundo a incomodava.
__ Já conversamos sobre isso. Eu não te amo, portanto quem veio aqui ou deixou de vir, não me importa. Importa sim o fato de você não cumprir o que prometeu, que foi de me respeitar enquanto sua esposa e noiva, pois se me trair, não pensarei duas vezes em não me manter fiel!
Murilo esticou uma das mãos agarrando seu braço, a fazendo se levantar rapidamente. A caneca de café saltou da mão dela e o líquido respingou na saída de banho, a manchando.
Martina arregalou os olhos assustada .
__ O que é isso?!Você é muito grosso! - disse descendo os olhos para a mancha escura.
As feições dele tinha mudado rapidamente, indo de um semblante calmo ao irritado em questão de segundos.
__ Já lhe disse que você me tira do sério! Sabe bem as consequências do não cumprimento do contrato. Ademais, não acredito que vá querer dormir com outro depois de experimentar o quanto posso te dar de prazer. Ontem foi só uma amostra!
Martina riu sarcástica.
__ O que aconteceu ontem, pra mim não teve muita importância. O fato de nunca ter dormido com ninguém, não me torna uma santa e nem você o rei do sexo! Posso provar do doce, gostar e querer experimentar novas receitas!
Murilo irritado, largando o braço dela, posicionou as duas mãos nos botões da saída de banho, acima dos seios e rasgou ao meio, a deixando só de biquíni. Correu os olhos pelo vale entre os seios descendo até a barriga lisa. As mãos agora, se posicionaram em sua cintura, uma de cada lado. Ela sentiu o puxão contra o corpo de Murilo e sua boca ser tomada por um beijo violento, a língua exigindo passagem entre seus lábios.
Martina percebeu a ereção dele crescendo contra suas coxas.Tentou empurrá-lo, porém Murilo era mais forte. Ele correu a mão e empurrou um dos lado do biquíni para baixo e logo em seguida fez isso do outro lado.
O beijo continuava e Martina queria reagir, mas sentindo as mãos dele, que agora, apertavam sua bunda contra seu membro, maleou. O desejo tomou conta de seu corpo, reagindo positivamente às carícias de Murilo. Gemeu quando foi afagada na entrada de sua vagina, e com sofreguidão buscou o ar que lhe falhava. Os lábios dele se curvaram maliciosamente, num sorriso ainda com a boca grudada na dela, então, subitamente, a soltou com força, a afastando dele.
Martina cambaleou e sentiu seu rosto esquentar, quando se deu conta que tinha sucumbido mais uma vez às carícias dele.
Rapidamente e com vergonha, levantou a calcinha do biquíni.
Murilo virado de costas, teceu o comentário que, algum dias depois, viria a se tornar uma realidade.
__ Quando provar todo o prazer que posso dar a você, com certeza vai mudar de ideia. Você viveu até agora, nos contos de princesas, mas a realidade é outra. Não existe amor entre um casal, sem existir desejo sexual entre ambas as partes, porém pode existir desejo, sem amor. Tudo dependerá de cada um de nós. Já parou pra pensar que, além de você ser um investimento financeiro, eu a desejo... Não é amor... nem nunca será, apenas a quero por um tempo. Parece que com você acontece o mesmo. Você me deseja, não tem como negar!
As palavras de Murilo a atingiram em cheio e a magoaram profundamente, e seus olhos se encheram. Saiu antes que ele a visse chorar, subindo apressada para o quarto. Fechou a porta atrás de si e chorou, sentindo raiva por ter se deixado levar daquela maneira. Começava a conhecer as facetas daquele homem. Ele poderia ser um noivo gentil ou simplesmente ser implacável quando as coisas não saíam ao seu agrado.
Respirou profundamente, para se acalmar, indo ao banheiro lavar o rosto. Ouviu quando a porta do quarto se abriu e Murilo a chamar.
Ela respondeu com a voz fraca, de dentro do banheiro.
__ Só um minuto.
Saiu enrolando a saída de banho na mão.
__ Qual o problema agora? - interpelou sem o encarar.
__ Nenhum, só o fato de que me excedi. Vamos embora só à tarde, seria bom que ao menos pudéssemos conversar como gente civilizada.
Ela piscou sem entender nada. Murilo só podia ser bipolar, mudava de humor como se nada tivesse acontecido. - pensou.
__ Acho que seria melhor a gente ir embora, Murilo. Aonde colocou meu vestido?
__ Decidi que só vou sair daqui, à tarde, portanto desça comigo e vamos terminar de tomar café.
Martina o desafiou.
__ Perdi a fome. Vou ficar aqui mesmo.
__ Não gosto de comer sozinho, vai descer e me acompanhar.
Ela bufou.
__ Pare de dar ordens! Não sou sua empregada ou sua dama de companhia. Não quero ir!
__ Você é muito teimosa, me tira do prumo e depois vem chorar no banheiro. Qual é? Se não sente nada por mim não deveria ficar tão magoada assim.
__ Está confundindo minhas reações. Me assustei, só isso!
__ Detesto mulheres choronas! Estou te esperando, não demore, estou com fome!
Disse e saiu.

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