Micael dirigiu até o cemitério norte de Houston, os pneus da Land Rover fizeram barulho quando se chocaram com as pedrinhas do asfalto. Parou o veículo e saiu, usava apenas a camisa de botões.
— Uôa, Micael. — Jerry tinha um pedaço de madeira na boca, triturava com os dentes. — Eu separei o caixão que queria.
— Ótimo. — Observou o local. — Preciso da pá e da enxada.
— Até parece que vai cometer um crime. — Jerry riu, e ele cometeria mesmo.
— Vou enterrar o meu cachorro. O Pitbull que eu havia dado para Aline. Reservei um caixão porque ele sim, era da família. — Mentiu. — Pode nos deixar a sós? Eu preciso de um tempo para me despedir.
— Sim, pode ficar sozinho. — Jerry assentiu. — Eu vou sair, comprar algumas coisas. Volto mais tarde.
— Tchau. — Micael esperou que Jerry saísse. A caminhonete 4x4 rugiu quando o homem pisou fundo, saindo do cemitério.
Aquele lugar era tenebroso, mas Micael não tinha tanto medo. As folhas das árvores se balançavam, ele andou até a traseira da Land Rover, abriu o porta malas pegando o saco preto, que havia colocado em Sophia. A levou entre os ombros até achar um ótimo local.
— Hum, deixe-me ver. — Pensou rápido. — Você deve ficar longe de muita gente. — Encontrou um lugar mais calmo, onde a terra estava ótima para enterrar. Largou o saco preto e foi até o pequeno chalé em que Jerry ficava. Buscou o caixão separado que estava em cima de um carrinho, facilitando o transporte, teve a pá e enxada nas mãos, voltou ao local desaterrando o desnecessário. Arregaçou as mangas da blusa social e continuou seu trabalho, estava suando, aquela quentura o matou. Por fim, havia cavado seu buraco, jogado o caixão e aberto sua tampa, estava finalizado. Ele pensou que não conseguiria, mas foi fácil. Era forte!
Tirou Sophia do saco preto, seus lábios estavam roxos, a pálpebra móvel sem vida. Estava gelada, como se estivesse em um freezer. Micael rasgou suas roupas, a deixando nua, antes de pega-la no colo e encaixar seu corpo no caixão.
— Você pensou que ia destruir a minha vida. — Sorriu, maléfico. — E eu disse que iria matar você. — Teve toda a força do mundo quando tampou o caixão, rosqueando seus lados, bateu na madeira maciça verificando se estava bem preso. Sophia não sairia viva dali, ele tinha toda a certeza do mundo. O oxigênio iria faltar, ela morreria em horas, estava tudo certo, ele havia conseguido se livrar de mais uma.
Por fim, foi até o porta luvas da Land Rover buscando seu isqueiro, jogou um pouco de gasolina e tacou fogo nas roupas de Sophia, bateu as mãos se livrando do que tinha cometido. Dirigiu até a cidade novamente, tinha Aline para resolver no momento.
— Senhora Borges? — A enfermeira chamou Aline que estava se recuperando. Encarou os lados do quarto luxuoso. — Sente algo?
— Ah, não. — Franziu o cenho. — O meu bebê... Ele está bem?
— Está sim, seu marido disse que você caiu da escada. Desequilibrou e caiu. — Foi sincera ao dizer. Sem coração! Micael era um doente. — Mas fique tranquila, seu bebê está bem.
— Ótimo. — Sorriu leve. — Você sabe se uma mulher loira estava aí?
— A sua irmã? Sim, ela estava. Mas sumiu com seu marido, que estava esperando você acordar.
— Minha irmã. — Tinha entendido. — Ok, se eles voltarem eu gostaria de falar com ela.
— Eu aviso. — Verificou o soro de Aline.
— Quando terei alta?
— Se estiver boa, em algumas horas. O seu marido deve lhe buscar, não podemos deixar você ir sozinha. — Explicou.
— Ok. — Não, não estava nada ok! — Eu preciso que me ajude.
— O que há, senhora Borges?
Aline encarou os lados, pensando rápido. Se contasse a chamaria de louca, se não contasse ela se chamaria de louca. Negou com a cabeça soltando um belo sorriso para a enfermeira.
— Não é nada, eu pensei alto.
— Tem certeza?
— Sim. Acho que eu bati os miolos, não estão funcionando direito. — Riu falsa. — Mas obrigada pelas informações. Ficarei esperando o meu marido.
— Qualquer coisa é só apertar o botão ao lado da cama. — A enfermeira assentiu, antes de deixar o quarto. Aline piscou rápido, não conseguia lembrar do que aconteceu, mas sabia que Micael havia lhe empurrado. Decidiu tirar um cochilo quando a porta abriu novamente, revelando o próprio.
— Acorde, vamos para casa! — Disse, duro. Retirou a agulha fincada no braço de Aline.
— EI! — Gritou. — Não encoste em mim. — Esbraveceu. — Seu doente! Me jogou da escada e disse para o médico que eu caí?
— Você queria que eu dissesse que havia lhe empurrado? — Debochou.
— Estúpido.
— Deixe para me xingar depois. Vamos embora!
— Eu não vou embora com você. Eu vou embora com Sophia.
— Sophia está morta! Ou irá morrer em vinte e quatro horas.
— Como? — Franziu a sobrancelha.
Micael respirou fundo, se contasse para Aline ela iria surtar, o jeito foi mentir, como fez, a vida toda.
— Sophia foi embora, Aline. Ela me contou o que aconteceu, quis te ajudar. E foi embora, como uma puta sem vergonha. Rasgou o contrato e foi embora. — Estava bravo, tinha a face empedrada. — Agora levante daí ou serei obrigado a te arrastar.
Aline fechou os olhos, tinha lágrimas em seu rosto. Apoiou-se devagar na cama que estava ficando, saiu sem a ajuda de Micael, andou pelos corredores com o avental do hospital, sem se importar em devolver. Pegou o elevador, deixou o prédio de luxo e entrou na Land Rover do marido, chorando em silêncio. Não queria que Sophia fosse embora, mas foi o melhor a fazer, e ela, contou o plano, sem medo.
— Eu irei pedir alguma coisa para você comer. — Micael largou a chave da Land Rover no balcão, Aline estava parada, em frente á escada.
— Eu não quero.
— Mas precisa. — Abriu a geladeira. — Está com esse inferno de feto, precisa se alimentar.
— Não chame meu filho de feto.
— Eu chamo do que quiser, é um feto! — Deu de ombros. — Tem preferência na comida?
— Vá para o inferno. — Praguejou, antes de subir as escadas. Tirou o avental em que usava, foi até sua suíte tomando um banho, vestiu seu robe confortável, buscou seus travesseiros e seu edredom que gostava de dormir. Saiu do quarto em que ela e Micael dividiram, quase á vida toda. Desceu as escadas descalça, segurando as roupas de cama.
Micael a repreendeu, estava sentado no sofá, bebendo seu vinho.
— Onde vai?
— Dormir.
— O quarto é lá em cima.
— Seu quarto é lá em cima. — Engoliu seco. — A partir de hoje eu dormirei aqui em baixo, e se você ousar encostar um dedo em mim, irá pagar por suas consequências. — Segurou o choro, tinha os dentes cerrados.
— Ah, minhas...
— Não fale comigo, não toque em mim. — Pausou. — Se quiser ser tratado como gente, me trate igual a uma. Estou cansada desse seu comportamento, é ridículo até para mim. — Negou com a cabeça antes de deixar Micael, sozinho, com seu vinho e seu sofá.
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Perfume de Mulher - MiniFic
RomanceSophia Abrahão, uma bela prostituta que encantava todos os homens. Não era de se apegar, de ter encontros com clientes, até Micael chegar, um homem desejado, de dinheiro, que só queria uma única coisa: Sedução e corpos nus.