30° Capítulo

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Micael dirigiu até o cemitério norte de Houston, os pneus da Land Rover fizeram barulho quando se chocaram com as pedrinhas do asfalto. Parou o veículo e saiu, usava apenas a camisa de botões.

— Uôa, Micael. — Jerry tinha um pedaço de madeira na boca, triturava com os dentes. — Eu separei o caixão que queria.

— Ótimo. — Observou o local. — Preciso da pá e da enxada.

— Até parece que vai cometer um crime. — Jerry riu, e ele cometeria mesmo.

— Vou enterrar o meu cachorro. O Pitbull que eu havia dado para Aline. Reservei um caixão porque ele sim, era da família. — Mentiu. — Pode nos deixar a sós? Eu preciso de um tempo para me despedir.

— Sim, pode ficar sozinho. — Jerry assentiu. — Eu vou sair, comprar algumas coisas. Volto mais tarde.

— Tchau. — Micael esperou que Jerry saísse. A caminhonete 4x4 rugiu quando o homem pisou fundo, saindo do cemitério.

Aquele lugar era tenebroso, mas Micael não tinha tanto medo. As folhas das árvores se balançavam, ele andou até a traseira da Land Rover, abriu o porta malas pegando o saco preto, que havia colocado em Sophia. A levou entre os ombros até achar um ótimo local.

— Hum, deixe-me ver. — Pensou rápido. — Você deve ficar longe de muita gente. — Encontrou um lugar mais calmo, onde a terra estava ótima para enterrar. Largou o saco preto e foi até o pequeno chalé em que Jerry ficava. Buscou o caixão separado que estava em cima de um carrinho, facilitando o transporte, teve a pá e enxada nas mãos, voltou ao local desaterrando o desnecessário. Arregaçou as mangas da blusa social e continuou seu trabalho, estava suando, aquela quentura o matou. Por fim, havia cavado seu buraco, jogado o caixão e aberto sua tampa, estava finalizado. Ele pensou que não conseguiria, mas foi fácil. Era forte!

Tirou Sophia do saco preto, seus lábios estavam roxos, a pálpebra móvel sem vida. Estava gelada, como se estivesse em um freezer. Micael rasgou suas roupas, a deixando nua, antes de pega-la no colo e encaixar seu corpo no caixão.

— Você pensou que ia destruir a minha vida. — Sorriu, maléfico. — E eu disse que iria matar você. — Teve toda a força do mundo quando tampou o caixão, rosqueando seus lados, bateu na madeira maciça verificando se estava bem preso. Sophia não sairia viva dali, ele tinha toda a certeza do mundo. O oxigênio iria faltar, ela morreria em horas, estava tudo certo, ele havia conseguido se livrar de mais uma.

Por fim, foi até o porta luvas da Land Rover buscando seu isqueiro, jogou um pouco de gasolina e tacou fogo nas roupas de Sophia, bateu as mãos se livrando do que tinha cometido. Dirigiu até a cidade novamente, tinha Aline para resolver no momento.

— Senhora Borges? — A enfermeira chamou Aline que estava se recuperando. Encarou os lados do quarto luxuoso. — Sente algo?

— Ah, não. — Franziu o cenho. — O meu bebê... Ele está bem?

— Está sim, seu marido disse que você caiu da escada. Desequilibrou e caiu. — Foi sincera ao dizer. Sem coração! Micael era um doente. — Mas fique tranquila, seu bebê está bem.

— Ótimo. — Sorriu leve. — Você sabe se uma mulher loira estava aí?

— A sua irmã? Sim, ela estava. Mas sumiu com seu marido, que estava esperando você acordar.

— Minha irmã. — Tinha entendido. — Ok, se eles voltarem eu gostaria de falar com ela.

— Eu aviso. — Verificou o soro de Aline.

— Quando terei alta?

— Se estiver boa, em algumas horas. O seu marido deve lhe buscar, não podemos deixar você ir sozinha. — Explicou.

— Ok. — Não, não estava nada ok! — Eu preciso que me ajude.

— O que há, senhora Borges?

Aline encarou os lados, pensando rápido. Se contasse a chamaria de louca, se não contasse ela se chamaria de louca. Negou com a cabeça soltando um belo sorriso para a enfermeira.

— Não é nada, eu pensei alto.

— Tem certeza?

— Sim. Acho que eu bati os miolos, não estão funcionando direito. — Riu falsa. — Mas obrigada pelas informações. Ficarei esperando o meu marido.

— Qualquer coisa é só apertar o botão ao lado da cama. — A enfermeira assentiu, antes de deixar o quarto. Aline piscou rápido, não conseguia lembrar do que aconteceu, mas sabia que Micael havia lhe empurrado. Decidiu tirar um cochilo quando a porta abriu novamente, revelando o próprio.

— Acorde, vamos para casa! — Disse, duro. Retirou a agulha fincada no braço de Aline.

— EI! — Gritou. — Não encoste em mim. — Esbraveceu. — Seu doente! Me jogou da escada e disse para o médico que eu caí?

— Você queria que eu dissesse que havia lhe empurrado? — Debochou.

— Estúpido.

— Deixe para me xingar depois. Vamos embora!

— Eu não vou embora com você. Eu vou embora com Sophia.

— Sophia está morta! Ou irá morrer em vinte e quatro horas.

— Como? — Franziu a sobrancelha.

Micael respirou fundo, se contasse para Aline ela iria surtar, o jeito foi mentir, como fez, a vida toda.

— Sophia foi embora, Aline. Ela me contou o que aconteceu, quis te ajudar. E foi embora, como uma puta sem vergonha. Rasgou o contrato e foi embora. — Estava bravo, tinha a face empedrada. — Agora levante daí ou serei obrigado a te arrastar.

Aline fechou os olhos, tinha lágrimas em seu rosto. Apoiou-se devagar na cama que estava ficando, saiu sem a ajuda de Micael, andou pelos corredores com o avental do hospital, sem se importar em devolver. Pegou o elevador, deixou o prédio de luxo e entrou na Land Rover do marido, chorando em silêncio. Não queria que Sophia fosse embora, mas foi o melhor a fazer, e ela, contou o plano, sem medo.

— Eu irei pedir alguma coisa para você comer. — Micael largou a chave da Land Rover no balcão, Aline estava parada, em frente á escada.

— Eu não quero.

— Mas precisa. — Abriu a geladeira. — Está com esse inferno de feto, precisa se alimentar.

— Não chame meu filho de feto.

— Eu chamo do que quiser, é um feto! — Deu de ombros. — Tem preferência na comida?

— Vá para o inferno. — Praguejou, antes de subir as escadas. Tirou o avental em que usava, foi até sua suíte tomando um banho, vestiu seu robe confortável, buscou seus travesseiros e seu edredom que gostava de dormir. Saiu do quarto em que ela e Micael dividiram, quase á vida toda. Desceu as escadas descalça, segurando as roupas de cama.

Micael a repreendeu, estava sentado no sofá, bebendo seu vinho.

— Onde vai?

— Dormir.

— O quarto é lá em cima.

— Seu quarto é lá em cima. — Engoliu seco. — A partir de hoje eu dormirei aqui em baixo, e se você ousar encostar um dedo em mim, irá pagar por suas consequências. — Segurou o choro, tinha os dentes cerrados.

— Ah, minhas...

— Não fale comigo, não toque em mim. — Pausou. — Se quiser ser tratado como gente, me trate igual a uma. Estou cansada desse seu comportamento, é ridículo até para mim. — Negou com a cabeça antes de deixar Micael, sozinho, com seu vinho e seu sofá.

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