31º Capítulo

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O corpo de Sophia despertou no meio da escuridão, piscou rápido tentando decifrar onde estava. Sua mente não queria saber, e nem seu corpo, mas não tinha como escapar. Estava espremida no caixão, tinha a respiração ofegante quando a ficha lhe caiu.

— SOCORRO. — Gritou. Bateu com as mãos na madeira maciça. — ALGUÉM ME AJUDA. SOCORRO! — Gritou novamente.

Mas ninguém iria escutar, ela estava literalmente sozinha.

— EU VOU MATAR VOCÊ, SEU DESGRAÇADO. — Estava chorando, desesperada. O ar estava ficando pequeno para ela, ali. — SOCORRO! — Voltou a gritar. — PELO AMOR DE DEUS, SOCORRO. — Soluçou de chorar, o desespero era maior. Ficou quieta, de olhos fechados, não tinha o que fazer, nem percebeu que estava nua. Só chorou, como uma criança indefesa. — Eu não quero morrer, eu não quero morrer, eu não quero morrer, eu não quero morrer. — Disse baixinho, enquanto as lágrimas a acompanhava. — Eu não quero morrer. — A última palavra saiu em sussurro. Não queria morrer! Talvez nunca tivesse encontrado Micael, nunca tivesse aceitado ir naquele maldito flat, conhecer seus dons, saber de seus charmes, se envolver com a sua mulher. Se tivesse uma máquina do tempo ela não pensaria duas vezes, apenas aceitaria entrar dentro e continuar com seus velhos ricos, que lhe davam carinho e presentes caros.

Ela não queria morrer. Foi o que fez quando sorriu, entre sussurros, o ar estava quente, suas narinas precisavam de ar fresco, estava abafado ali. Encolheu os ombros e relaxou o corpo, esperando ir, esperando sua luz, não sabia que o calor de Houston mataria ela. Não tinha opção, se gritasse ninguém escutaria, e se perdesse suas forças morreria mais rápido. Sua mãe sempre disse que, quando morresse, seria bem rápido. Teria formas de morrer, mas não sabíamos como. Ela aceitou a forma dela, viva, dentro de um caixão. Foi uma bela prostituta, conseguiu salvar casamentos, descobrir novos ares, lembrou-se da escola em que estudou, dos namorados bastardos que teve, lembrou de Carlie. Ela estava preparada para o seu fim, só não sabia que seria tão cruel.

Sua respiração acalmou, o corpo ficou em transe, agora, eternamente. As pálpebras fecharam indicando que Sophia fora embora, sem ao menos se despedir de quem ela amava.

Ela não queria morrer.

— Aline? — Micael bateu na porta do quarto de hóspedes. Tinha um prato fundo com sopa, estava quente, o mesmo tinha acabado de fazer. — Abra essa porta, eu fiz algo para você comer.

Escutou quando a mesma destrancou à porta, estava cochilando, pelo jeito da face.

— O que quer de mim?

— A sopa. — Mostrou para ela, sem jeito. — Você deve comer, o feto deve estar com fome. — Coçou a nuca.

— Colocou veneno na sopa?

— Claro que não. Eu não seria tão burro assim. — Entregou á mulher a sopa que havia feito, o cheiro estava delicioso. Micael sabia sim cozinhar, quando queria. — Só coma, tudo bem? Eu estarei lá em cima. Se precisar.

Ok, muito estranho! Aline tinha o prato de sopa nas mãos, deixou o aroma correr em suas narinas, levou uma colher em cheio mas teve que correr ao banheiro, um enjoo havia lhe pegado, soltando tudo para fora. Era péssimo! Mas estava gostando dessa fase na gravidez, foi o seu sonho, o que sempre quis. Nunca pensou que estaria feliz em agarrar um vaso sanitário, com motivos importantes para fazer aquilo. A morena escovou os dentes, voltou para á cama e dormiu, tranquila. Com saudade de Sophia, mas ainda sim, tranquila.

— Bom dia. — Micael disse calmo enquanto tomava uma xícara de café, tinha o IPad nas mãos.

— Bom dia? — Questionou enquanto se sentava em seu lugar, observou tudo fresco. Ele havia ido até a padaria, um milagre em anos! — Brioche?

— Você gosta, não venha mentir. — Deslizou o dedo na tela do aparelho. — Tem cappuccino com açúcar, optei pela máquina fazer um pouco mais doce. — Encarou a esposa. — Você tomou a sopa?

— Não consegui.

— Estava tão ruim assim?

— Tive enjoos. — Pegou uma xícara despejando o cappuccino. — Sophia não disse para onde iria? Ela simplesmente se foi?

— Sim, Aline. Ela simplesmente se foi. — Desligou o IPad. — Ela nos deixou, te ajudou e se foi. Agora somos eu e você, e claro, o feto.

— Estou estranhando o seu comportamento.

— Então continue a estranhar. — Pausou. — Não fique triste por Sophia, ela é uma vaca! — Levantou-se, deu uma última arrumada em sua gravata. — Irei trabalhar, qualquer coisa me ligue. Estou em sua disposição!

Estava na disposição de Aline, aquilo era algo muito estranho. Terminou o seu café sozinha, tentou comer o brioche que estava fresco mas não conseguiu, o enjoo lhe veio novamente, fazendo soltar tudo na pia da cozinha. Ela irritou-se com aquilo, lavou tudo antes de tirar a mesa do café, só queria sua cama no momento, e um banho. Nada mais.

Micael chegou na empresa, entrou no elevador e esperou que chegasse no andar de sua sala, cumprimentou sua secretária e passou pela grande porta de madeira, aconchegando-se em seu lugar.

— Desculpe, senhor Borges. — A secretária entrou. — Recebi uma ligação do Canadá, querem conversar com o senhor.

— Diga para mandar um e-mail, se fosse outro lugar eu até atenderia. — Mexeu em seu IMac. — Mais alguma coisa?

— Não. Apenas isso. — Ia saindo.

— Espere. — A mulher pausou, estava esperando o que Micael queria. — Quero que mande flores á casa de Phill, no nome de Rose. — Ajustou-se. — Nada de perguntas, apenas faça isso.

— Certo. — Sua secretária assentiu antes de deixar a sala.

Micael pesquisou em seu IMac, tinha tirado o dia hoje para se desculpar, ou tentar. Ainda não estava acostumado com a idéia de Aline ter uma criança, ele não iria se acostumar nunca, ele não tinha gostado, mas estava aceitando. Continuou a pesquisar alguns problemas de sua empresa, tinha o pensamento livre cuidando de Aline daquele jeito, ou pelo menos tentando. Enquanto as flores... Micael não iria fazer aquilo, mas viu que era a hora. Estava sentindo falta de Phill, de suas piadas ridículas, estava sentindo falta do amigo e empresário, que mesmo fazendo suas merdas, ajudava Micael, estava sentindo falta! A melhor opção foi mandar flores para Rose, um modo de se... Desculpar, talvez.

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