37º Capítulo

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Micael saiu do quarto quando Sophia se pôs a dormir, procurou Aline que estava no seu, em baixo, bateu na porta antes de entrar.

— Atrapalho? — Perguntou á mulher que estava sobrando alguns macacões. Não tinha muito o que fazer, estava se ocupando com o bebê, que ainda não tinha um sexo definido.

— Não. Claro que não! — Sorriu. Micael fechou à porta atrás de si. — Estava levando Sophia para o quarto? — Teve chateação em sua voz.

— Você diz em que modo?

— No modo de hospedá-la. Teria outro modo?

— Claro que não. Você sabe que eu odeio essa mulher.

— Você ainda deixou dinheiro na conta dela, não deixou? — Franziu o cenho, lembrando.

— Deixei. Dinheiro suficiente para ela sair daqui, arrumar algum lugar.

— Ótimo. — Dobrou o último macacão. — Quer saber? Deixe ela aqui mesmo. Não está atrapalhando ninguém.

— Claro que está! Ela veio para nos separar. Viu como chegou? Como se nada tivesse acontecido.

— E para ela não aconteceu nada mesmo. — Abaixou a cabeça, tinha uma pilha de macacões dobrados.

— Não fique assim por uma ninguém, ela não faz mais parte de nossas vidas. O contrato está rasgado, fim dos problemas. — Micael sorriu, acolhedor. Observou o ventre redondo de Aline. — Seu feto está bem?

— Ele chutou algumas vezes, mas nada que seja absurdo. — Lembrou. — As posições para dormir ficaram difíceis. — Riu leve. — Bem que minha mãe me disse, eu iria ter problemas com isso.

— O feto está tirando seu sono?

— Um pouco. Fico cansada a maior parte do dia, com sono, bocejo demais. — Levantou-se, colocando os macacões em uma cômoda. — Nada que seja um absurdo.

— Eu sabia que o feto te daria problemas. Mas não vamos discutir sobre isso. — Aline riu. — O que há? Estou com cara de palhaço?

— Você é engraçado, às vezes. — Sentou-se na frente de Micael. — Estava me lembrando quando nos conhecemos no colégio, um mês antes de irmos para a faculdade.

— Marta Ramps. — Pensou alto. — Ela ainda mora em Houston?

— Sim. — Aline franziu o cenho. — Casou-se com Patt, têm três filhos, a última viagem que fizeram foi para Cusco. Ele também é empresário.

— Onde sabe essas informações?

— Redes sociais, que você não tem um pingo de curiosidade de entrar. — Riram.

— Isso me irrita.

— Esqueça os números e ações, pelo menos um pouco. — Pousou as mãos no peito do marido. — Minhas bolsas da Chanel podem esperar. — Micael deu um riso.

— Eu prefiro dar á você mais bolsas do que passar meu tempo vendo baboseiras inúteis. — Piscou rápido.

— É um jeito de se distrair. — Retirou as mãos de lá.

— Eu vou voltar para a empresa, por precaução, fique por aqui hoje. E não troque palavras com Sophia.

— Por que eu ficaria trancada aqui?

— Faça o que quiser, então. — Levantou-se da cama, respirou fundo e saiu ás pressas. Tinha que voltar para a empresa, não gostou nada da visita de Sophia, realmente achou que estava morta. Uma pena para ela! Agora havia virado capacho, e Aline não sabia um terço da história.

As horas se passaram, Aline optou por cochilar, sentia sono a maior parte do tempo. Despertou bem tarde, quando sentiu o cheiro de brioche vindo da cozinha. Levantou-se ainda sonolenta, arrumou os cabelos e andou até lá, não podia ser Micael aprontando esse tipo de coisa, ele sabia cozinhar, mas nem tanto.

— Bom sono? — Sophia sorriu, tirava uma assadeira quente com brioches deliciosos.

— Ótimo. Pena que despertei.

— Fiz brioches, seu preferido. — Deixou a assadeira em cima do balcão de mármore, retirou as luvas de silicone, ambas coloridas. — Precisamos conversar.

— Eu não quero conversar com você. Eu quero paz! Entende? Eu estou bem, com meu marido, você me ajudou no que eu queria, agora eu simplesmente quero um pouco de paz.

— Nós nem conversamos!

— E precisamos conversar? Você fez sua escolha e eu aceitei. Se quiser, fique morando aqui, durma em qualquer quarto, mas não teremos a afinidade de antes. Eu perdi a confiança em você. — Disse dura. Sophia assentiu, aquilo lhe doeu, era como perder uma parte de sua vida, sua amiga. Aline não merecia aquilo, Micael era um monstro.

— Meus meses ausentes foram uma novidade para você.

— Você achou que eu sofreria, não vou mentir, no início me doeu, mas agora. — Cruzou os braços. — Estou feliz, tudo que eu preciso está dentro do meu ventre, sob meus cuidados.

— Fico feliz. — Sophia sorriu, segurando suas lágrimas.

— Eu vou tomar um banho. — Andou até a assadeira, buscando vários brioches, levou-os consigo. — Devem estar uma delicia! — Encolheu os ombros. — Boa noite, Sophia. — Saiu andando, deixando Sophia sozinha na cozinha, não adiantava fazer nada, sua amizade com Aline tinha chegado ao fim, por culpa de Micael.

E falando no mesmo, havia acabado de chegar, cansado, morto para ser mais exato. Adentrou a cozinha vendo Sophia com seus brioches na assadeira.

— Péssima noite para você, Sophia Abrahão.

— O que conversamos hoje mais cedo? — Apoiou as mãos no balcão, não tinha a face muito boa.

— Estou cansado.

— Problema é seu. — Guardou a assadeira no forno novamente.

— Eu quero jantar e tomar um banho, descansar e tirar os problemas de mim.

— Eu vou dar uma colher de chá para você, só hoje. — Sorriu. — Irei fazer o seu jantar.

— Com algum veneno específico? Se agir rápido eu aceitarei.

— Fiquei com pena da sua história de vida, me senti um monstro também. Não deveria ter jogado o feedback na sua cara. — Deu as costas para Micael. — Se arrume na mesa de jantar, estará pronto em alguns minutos. — O homem estranhou mas estava aceitando. Seu corpo estava tenso, sua mente cansada. Retirou o terno e abriu os botões da camisa, liberando para o ar fresco entrar. Afrouxou a gravata e sentou-se em seu lugar na mesa, esperando pelo jantar que Sophia o propôs. Encarou os móveis no apartamento, Fechou os olhos, cansado. O som de Sophia ecoou, o trazendo para realidade novamente.

— Conseguiu chegar? — Avistou o prato que havia em suas mãos.

— Consegui. Foi o jantar mais rápido que consegui fazer. — Deixou o prato de cerâmica em frente á Micael que franziu o cenho. — Carne de gato, essa ração é ótima. O cheiro então. — Forçou o nariz, o cheiro era horrível. — Agradeça por comer proteína, é bom para você. — Micael ficou imóvel, encarando o prato, logo após, encarando Sophia.

— Vaca.

— O que disse? — Fingiu-se. — Coma antes que estrague. Depois de muito tempo fora do saco, a ração fica meio... Ruim. — Deu seu sorriso, como uma cartada final. — Vamos! Coma logo e pare de enrolar. — Tinha os dentes cerrados, esperando por Micael. O homem fechou os olhos, levou a colher até a boca triturando a carne crua e industrializada, o enjoo lhe veio, junto com ânsia. Horrível! — Se você vomitar, irá comer o vômito também. — Alertou. Aquilo era muito cruel, mas Sophia não ligava. Estava achando divertido até.

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