— Senhora Sophia, eu irei servir os canapés. — O garçom perguntou para a loira que assentiu, usava um vestido preto, aberto nas costas, seu cabelo estava preso em um coque frouxo, tinha os saltos Saint Laurent que custariam sete mil dólares em uma loja de segunda mão. É claro que os de Sophia não eram mais de segunda mão, e sim, de primeira.
— Ele está lá dentro, não quer deixar os visitantes vê-la. — A mãe de Aline apareceu ao lado de Sophia, usava uma boina preta, com redinha, que cobria o seu rosto.
— Eu irei chamá-lo! — O salto de Sophia ecoou no salão, onde o piso era de madeira. Teve suas mãos delicadas abrindo a porta de correr, revelando Micael, sentado ao lado do caixão maciço em que Aline estava sendo velada. Caminhou até ele que não se incomodou com sua presença. — Você precisa deixá-los entrarem.
— Eu preciso estar sozinho com ela.
— Temos duzentas pessoas ao lado de fora, querem ver Aline antes de enterra-la.
— Eu preciso ficar sozinho com ela. — Disse mais uma vez, tocou de leve o nariz da esposa, que estava gelado.
— Micael, por favor. — Agachou-se perto dele. — Você ficou duas horas e meia aí dentro, trancado. A cerimônia está acontecendo e você não foi cumprimentar ninguém. — Encarou ele. — Eu sei que está sendo difícil, mas não pode levar Aline para os lugares, ela está morta!
— Por que você é tão cruel? — Grunhiu. — Eu sei que ela está morta, eu só queria um tempo com ela.
— Você já ficou tempo demais. Deixe os outros verem ela. — Explicou, como uma mãe irritada. — Eu irei abrir a porta, a mãe de Aline está perguntando à todo o minuto. — Sophia ficou de pé novamente, arrumou o vestido e abriu a porta de correr, Micael ainda continuou lá, sentado em uma poltrona, ao lado da esposa. Tocou em suas mãos sem vida, fazendo carinho nos polegares.
Os amigos e familiares entraram no cômodo onde Aline estava sendo velada, aproveitaram para se despedir enquanto Micael a sondava, não conversou com ninguém, apenas continuou fazendo o seu dever, que era despedir-se de Aline. O padre em que contratou veio logo em seguida, fez sua oração para a esposa e o apoio do cemitério levou Aline, que estava reservada em um túmulo, Sophia ficou em ordem de tudo. Foi difícil para Micael ver a mulher ser enterrada, sentiu um nó na garganta quando os coveiros jogaram a terra ainda molhada, afofaram e logo em seguida arrumaram a lápide com seu nome, Sophia abaixou a cabeça, deu um abraço em Micael que ficou em silêncio, estava aéreo.
— Espero que fique bem. — A mãe de Aline apareceu, arrumou seu Ray Ban no rosto. Micael assentiu, sem dizer nada novamente. — Você irá cuidar dele? — Perguntou para Sophia que sorriu.
— Irei sim, até que ele melhore. — Sabia do estado de Micael, ele não iria sobreviver sozinho. Não do jeito em que estava.
— Que bom! Qualquer coisa é só me ligar, ou mandar um e-mail. — A mulher mais velha deu um sorriso sem vida, saiu andando deixando os dois no mesmo lugar, Micael parecia estar imóvel, com os pés colados no chão.
— Vamos para casa? — Sophia botou uma mão em seu ombro, o terno que usava era perfeito.
— Eu não quero ir para casa.
— Mas você precisa ir. — Pausou. — Ela está enterrada, o que irá ficar são os bons momentos. Entenda isso.
— Se quer tanto ir para casa, por que não vai sozinha? — Encarou Sophia com desprezo.
— Porque se eu te deixar aqui, não irá raciocinar direito. Irá fazer alguma besteira.
— Deixe que eu faça, não tenho mais nada nesse mundo.
— Ah não? E sua empresa? E seu ramo? Sua conquista? Você mesmo me disse que se orgulha do homem em que se tornou, irá jogar fora tudo isso?
— Eu não importo com a porra de uma empresa, minha mulher acabou de morrer e você quer que eu pense na porra da minha empresa? — Franziu o cenho, indignado. — Por favor, vá embora! Eu quero ficar sozinho, eu preciso desse momento, e você não tem que dar nenhuma opinião! — Sophia assentiu, mexeu em seus cabelos e saiu pisando duro.
Tinha vindo com a BMW que era de Aline, sentou-se no banco de couro e arrumou os pés no pedal, antes de dar partida no veículo potente. Tinha as mãos no volante, atenta, não iria mais discutir com Micael, mas sabia que cuidaria dele, estava em péssimas condições, iria ficar doente logo menos. Negou com a cabeça, sua vida estava um caos, ela não tinha para onde ir. Enquanto dirigia pensou em visitar Carlie, negou com a cabeça novamente, não iria fazer aquilo, já sabia da resposta da amiga e então, iriam brigar.
Estacionou o carro de luxo na garagem do condomínio, saiu do veículo apertando o alarme, subiu de elevador e suspirou quando entrou no grande apartamento. Tirou os saltos que estavam a incomodando, abriu o zíper do vestido relaxando suas costas, por mais que estivessem nuas, ela relaxou. Pegou seu IPhone discando o número de Carlie. A amiga não atendeu sua ligação, uma pena para Sophia que quase atirou o aparelho longe, grunhindo quieta. Estava sozinha, naquela imensidão de problemas.
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Perfume de Mulher - MiniFic
RomanceSophia Abrahão, uma bela prostituta que encantava todos os homens. Não era de se apegar, de ter encontros com clientes, até Micael chegar, um homem desejado, de dinheiro, que só queria uma única coisa: Sedução e corpos nus.