Capítulo Um

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Evelyn

A vida nunca foi fácil para Evelyn Neiva, ela foi abandonada pela mãe aos três anos de idade em frente a um grande shopping da cidade vestida apenas com um vestidinho rosa bebê e segurando uma fralda de pano. Desde aquele dia a vida dela havia virado de cabeça para baixo. Ela foi encaminhada para uma casa de acolhimento e de lá foi mandada para várias famílias provisórias, no entanto, nenhuma quis ficar com ela. Assim que completou 18 anos de idade o Estado a jogou para o mundo e ela se viu sem família, dinheiro ou teto para morar.

Ela só podia contar com três pessoas, Bruna e Ana que eram irmãs e melhores amigas dela desde que se conheceram na escola e Dona Maria uma das cuidadoras da última casa de acolhimento que cuidou dela como uma filha durante todo tempo em que ficou por lá. Dona Maria reservou parte do seu salário daquele mês e deu para jovem se manter pelo menos durante um mês fora do abrigo. Mas ela nem chegou a usar para pagar algum albergue, pois Bruna e Ana decidiram sair da casa dos pais e alugar um pequeno apartamento apenas para poder acolher a amiga, elas eram donas de um salão de beleza que herdaram da avó materna. No começo foi difícil para Evelyn aceitar a ajuda ela se sentia um peso nas costas das amigas, mas depois percebeu que elas não faziam aquilo por caridade ou querendo nada em troca, elas a ajudava, pois a amava.

Nos primeiros meses ela trabalhou no salão de beleza das amigas pela manhã e ia para o colégio a tarde, mas quando concluiu os estudos no final daquele ano, ela conseguiu uma bolsa de estudos para estudar administração em uma das universidades públicas da sua cidade e entrou de cabeça nos estudos decidida a dar um rumo diferente em sua vida, mesmo assim continuou no salão até se formar. Como sempre foi uma ótima aluna recebeu indicação de um dos professores e logo depois da formatura estava trabalhando na administração de um dos maiores escritórios de engenharia da cidade.

-Eve, você viu minhas chaves por ai? – Bruna perguntou enquanto equilibrava uma pilha de livros nos braços. Ela estava no último ano de medicina e quase não parava em casa de tanto que vivia na universidade.

-Coloquei em cima do aparador no corredor. –Ela gritou vindo da cozinha limpando as mãos no pano de prato. -Já vai sair?

-Sim, tenho que estudar.

-Você se lembra que hoje é sábado não é? Ainda são 8:30 da manhã.

-Sim, eu não esqueci do jantar do seu trabalho. Eu só estou indo porque eu marquei com Brian para estudar e conversar um pouco, nós vamos almoçar juntos, mas eu chego cedo.

-Eu vou te esperar. Bom estudo e juízo! –Sorriu para amiga.

Assim que Bruna saiu ela voltou para cozinha onde tomou seu café enquanto assistia um vídeo que havia recebido no grupo de jovens da Igreja. Evelyn conheceu Jesus no último ano da faculdade através de uma reunião que acontecia todas as quartas-feiras no jardim da universidade que estudava. Ela nunca se sentiu tão amada, acolhida e protegida como quando teve um encontro com Jesus, ela sentiu cada espaço vazio em seu peito ser preenchido por sua paz e presença indescritível e desde então, ela não se via mais sem ele. Era cristã a pouco mais de dois anos e fazia parte do grupo de teatro da sua congregação.

- Bom dia! –Ana falou enquanto se jogava no sofá com os cabelos bagunçados e o rosto amassado.

-Bom dia, Ana! –Ela respondeu mesmo já sendo 12:05 da tarde e ela já ter arrumado o apartamento inteiro enquanto a amiga dormia.

Ana tambem tinha cursado administração e com seus conhecimentos e qualificação ela ampliou o salão e expandiu os negócios que agora Evelyn também era sócia.

-Eu juro que eu gosto do Lorenzo, mas ele não é nem um pouco conveniente. Ele me ligou 10 vezes hoje, se meu celular não tivesse no silencioso ele teria me acordado ás 7: 30 da manhã. -Reclamou enquanto digitava no celular.

-Já passou do meio dia, ele deve estar preocupado e além do mais hoje é sábado, ele deveria querer te chamar para sair e aproveitar o dia juntos.

-Você sabe que não somos namorados não é?

-Eu juro que eu não entendo essa relação maluca entre vocês.

-Não é maluca, é uma relação moderna. Nos gostamos e ficamos juntos sem compromisso.

-Já disse que isso não vai dar certo né?

-Vira essa boca para lá! –Bateu na madeira da mesa de centro.

-Não tô jogando praga Ana, é só lógico para mim que isso não tem chances de ir para frente sem você se apegar.

-Por que tá dizendo isso?

-Porque você se importa demais com as pessoas para não se apegar á elas, para não assumir um compromisso. Você está aproveitando essa relação agora, mas depois você vai querer algo mais. Eu te conheço.

-Tudo que eu quero é ficar com ele sempre que puder, sem compromisso.

-Se você está dizendo!. –Evelyn falou jogando as mãos para cima em rendição.

As três eram muito diferentes uma da outra. Evelyn era a mais centrada e fechada. Racional. Não se permitia agir pela emoção, quase nunca se desesperava diante de uma situação ruim, odiava dramas e ser vista como frágil era uma ofensa. As coisa com ela eram sim, sim e não, não. Era sempre clara e objetiva apesar de sempre guardar consigo seus sentimentos e frustações.

Bruna era o equilíbrio das três, a mais calma, sonhadora e carinhosa, determinada e empática, se colocar no lugar do outro era sempre um exercício diário em sua vida. Mas ela também em alguns momentos se estressa e tem a mania de querer tudo sempre à sua maneira. Era ela quem apartava as discussões entre Evelyn e Ana que aconteciam quase sempre.

Ana era sem dúvidas a mais cabeça dura das três, sua aparência divergia da sua personalidade, pois olhando para ela parecia a mais meiga e doce das pessoas, mas se pisassem em seu pé se revelava. Talvez as palavras que mais descrevam sua personalidade são: intensa e impulsiva. As coisa para ela eram sempre entre os extremos, amava ou odiava, gostava ou detestava, amiga ou inimiga, lidar com ela não era uma tarefa tão fácil.

Talvez seja por isso que Evelyn e ela discutissem tanto por pequena coisas, eram diferentes e parecidas ao mesmo tempo.

***

-Eu vou ao Shopping com o Lorenzo, mas volto cedo parar irmos para o jantar.

-Bruna vai comigo, você disse que não poderia ir.

-Eu só não sabia que o jantar que o Lorenzo me convidou é o mesmo que você vai. Ele me mandou o convite pelo e-mail e é o mesmo lugar.

-Que legal! –Evelyn comemorou por poder ter as duas amigas naquela noite.

CONTINUA....

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