Como poderia ficar tão perdida estando num lugar tão desprovido de vida? Parecia que todo o meu trabalho estava perdido no limbo, pois eu não conseguia me adaptar ao cenário para que pudesse começa-lo. Sinto saudades do restaurante que Mayhem e eu íamos toda hora de almoço quando as horas avançam e já são quase três.
Tenho que cozinhar com as minhas próprias mãos.
A geladeira estava cheia com todos os tipos de boas comidas, bebidas e até algumas sobremesas, enquanto que ele estava lá, sentado à mesa tomando uma xicara de chá e lendo um jornal na mais absoluta tranquilidade.
Por que não conversava? Por que preferiu fechar as cortinas e ficar a luz artificial? Estava quente do lado de fora!
— Senhor Fraulen, estou certa em dizer que preferia livros do que brincar na rua quando era criança?
Ele olhou na minha direção e abaixou sua xicara.
— A rua não nos ensina boas coisas, não comparadas as que fazemos aqui, na sombra e sobre quatro paredes nos observando.
Que ele era um tédio eu já sabia, porém, agora comprovara e precisava de material.
— Fiz algumas comidas, espero que goste. Enquanto isso vou dar um gás na investigação da morte de seu vigia.
— Faça isso. Oh, aproposito, adorei o chá.
— Obrigada — sorrio, tímida e divertida.
Será que ele estava na sombra para evitar alguma coisa? Assim como o estranho vigia que por motivos desconhecidos ficou todo o momento coberto e longe do sol?
Não... talvez fosse diferente. O vigia estava com a pele avermelhada e salpicada, provavelmente decorrente de uma irritação ao sol ou uma doença de pele que o forçava a ficar coberto mesmo que no calor extremo.
Enquanto subo as escadas, eu o observo de longe, por sobre suas costas, ele usa roupas igualmente fechadas, chapéu e é tão lento quanto uma barata.
Será que isso tinha algo a ver?
Sigo para a biblioteca e ligo um dos computadores, acesso à internet, o meu e-mail e os meus dados através de um pendrive.
Ok, primeiro dia, primeiras horas e o comportamento de Dante Fraulen. Pego o gravador de voz e o ligo.
— Bem... hum... primeiro dia, três da tarde, investigação sobre Dante Fraulen e a sua ligação com o sobrenatural. Dante obviamente não aparenta ser nada mais que um homem misterioso e movido pela sensação de divinação que dava ao corpo humano. Abrindo a investigação, quero saber qual a forma que ele usa para retratar tão bem, quero saber também o que ele acha acerca de crimes com ou sem intenção e o que acha desse criminoso estar roubando a vida dele. Fim da gravação.
Deixo o gravador de lado e busco mais informações sobre ele já que perguntar iria resultar num tedioso discurso que teria a palavra "arte" enaltecida várias vezes.
Dante Fraulen, a obra. Obviamente é a única coisa que aparece na pesquisa por se tratar de uma famosa e misteriosa obra que sobreviveu a um incêndio junto com outras 3. Através da história ela teve duas replicações, o mesmo homem moreno e bem apessoado retratado.
ELE.
O homem que estava no andar debaixo da casa.
Por uma inigualável coincidência e semelhança, eu tinha o homem mais parecido com Dante Fraulen diante de mim. Nada o diferia.
Claro, já ouvi e vi matérias acerca dessas coincidências, como uma mulher retratada em 1900 que se parecia com uma mulher que nasceu nos anos 90.
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O Ultimo Fraulen
Mystery / ThrillerO misterioso desaparecimento de três mulheres em menos de um mês despertou o interesse de toda polícia de Trodeheim, Noruega, e também de Emilia Braun, uma investigadora local que agora aposta seu trabalho, horas de sono e até mesmo a sua sanidade p...