Às vezes eu podia sair no meio do dia para tirar o estresse.
No meio tempo entre as minhas saídas, geralmente eu ia ao cais e me sentava bem na ponta da ponte de madeira mais antiga do que a minha própria vida e olhava para a agua seguindo o curso do rio, os barcos ao longe, o céu com nuvens mais baixas e o tempo mais frio devido a chegada do outono e das cores mais belas que o cenário produzia.
Ao longe no oeste, um aglomerado de montanhas criavam relevos esverdeados, o sol desfiava e apenas fios dele atingiam a cidade que por ter muitas janelas de vidro criavam cores vibrantes, enquanto que a frente, uma imensidão de agua separava o meu mundo agitado de uma calmaria sem precedentes.
A bebida quente escorre pela minha garganta, reconfortante, maravilhosa e suficiente para me distrair por alguns instantes enquanto movo as pernas por fora da ponte sem toca-las nas aguas.
Não devia ter atirado em Dante Fraulen, mas se não o tivesse feito, ele não me levaria a sério. Fazendo-o, talvez acreditasse que eu realmente sabia sobre os seus segredos tão bem que até o faria se questionar se sabia tanto acerca de si mesmo quanto eu o sabia.
Estou tão perto do 100º caso resolvido.
Não posso falhar. Nunca tinha falhado antes.
Minha mãe, se viva, me questionaria acerca dos meus motivos para sair apontando o dedo, mas ela sempre acreditava que a verdade devia prevalecer por pior e mais difícil que fosse de aceitar.
No fim, eu tinha herdado aquele credo, e agora, mais do que nunca estava crente de que enfrentava uma criatura que só deveria existir em livros, não na vida real, não entre as pessoas reais que podiam ser feridas.
Se Dante era a manifestação da vontade de Tompson, uma animação dos seus desejos, por que ele estava fazendo mal as pessoas? Arte deveria ser apenas algo bonito de ser e não que feria. Ao menos era assim que Tompson deveria enxergar a arte.
Dante nunca mais confiaria em mim para nada, mas eu não iria descansar antes de prender ele ou inocenta-lo, afinal, o que ele mais tinha eram segredos que precisavam ser desvendados.
Então o meu celular tocou incansavelmente, estava na bolsa, o tomei.
— Emília.
— Emy, preciso de você aqui, Dante convocou um advogado.
— Tudo bem, estou voltando.
Urgh... não tinha paz sequer para tomar uma bebida quente.
* * * * *
Espero paciente enquanto o elevador sobe até que pare e abra as portas. Movimentação na delegacia não me era novidade, independente do dia e hora, lá estávamos nós, sobretudo Agnes que não parava um instante sequer para descansar já que tinha tantas operações para transmitir e apenas dois ouvidos para ouvir.
Segui direto para a sala de Mayhem, bati na porta e entrei.
— Com licença, May.
Na sala, um homem de meia idade, cabelos grisalhos, barba ruiva e óculos com armação transparente, vestido com um terno azul estava presente, junto com o que parecia ser um habeas corpus sobre a mesa de May que também parecia inconformada e nada contente.
— O doutor Lews apresentou essa decisão do juizado de Trodheim, mandando soltar Dante Fraulen imediatamente por falta de provas.
— Falta de provas? — questiono, uma mão à altura da cintura. — Doutor, você vai me desculpar, mas o que mais temos nessa delegacia são provas que incriminam Dante Fraulen diretamente.
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O Ultimo Fraulen
Mystery / ThrillerO misterioso desaparecimento de três mulheres em menos de um mês despertou o interesse de toda polícia de Trodeheim, Noruega, e também de Emilia Braun, uma investigadora local que agora aposta seu trabalho, horas de sono e até mesmo a sua sanidade p...