Um míssil nos atingiu?
Será que a morte era tão permissiva a ponto de não sentirmos nada?
Dante, é morto. Minhas mãos coçaram quando larguei a estaca e os fluidos escorreram do local onde o acertei.
Fiz o certo.
Estive apaixonada, mas não me deixaria ser enganada por um sentimento bobo que apenas eu era capaz de sentir, compreender e entender que não era o certo. Eu nunca devia ter me apaixonado por uma pintura.
Foi ele quem me machucou mais. Foram eles quem me mataram e machucaram a minha irmã.
De repente, eu desperto com um suspiro que ativa a todos os meus sentidos. Uma luz dourada, quente e acolhedora preenche o vazio que era a escuridão na qual eu havia me metido.
Balanço a cabeça e franzo o cenho, tentando formar os fragmentos de imagem em algo mais completo. E, quando percebo... estou na minha sala de estar e o bule está chiando incessantemente. Ouço passos nus vindo pela escada e quando olho sobre o sofá, Mayhem sorri.
— Emy, já falei para você usar a chaleira silenciosa de manhã! — ela desligou o fogo e colocou a mão na cintura de forma inquisidora.
Me levantei. Todos os meus músculos pareciam adormecidos, principalmente os do meu trazeiro que formigaram na área onde estive sentada.
Olhei para a minha irmã e sorri.
— MAYHEEEEEEEEEEEEEEEEM!
Pulo sobre seus braços para abraça-la o mais forte que posso e beijo por todo seu rosto quantas vezes consigo antes de ela dar um chilique tentando me separar do seu corpo musculoso.
— O que é isso! Você está bem, garota?
Eu beijo-lhe até mesmo os olhos e ela me dá um tapinha.
— Você... é real? — roubo suas mãos e a afago quantas vezes consigo.
Sim, Mayhem Braun era real, assim como todos os moveis na minha casa, a luz pálida do sol atravessando as frestas da porta, o cheiro de café, a madeira fria e lisa sobre meus pés descalços. Eu era real. Esse era o meu mundo.
— Acredito que sim.
— Irmã... qual foi a última coisa que você fez?
— Bem... — ela mudou a chaleira de boca. — Eu chorei de emoção quando Becker me acordou apenas para me pedir em casamento!
AAAAAAAAAAAH!
Quase gritei. Na verdade, ambas gritamos. Tanta energia percorria naquela cozinha que eu até ignorei por alguns instantes quando o nosso homem surgiu pelas escadas e pulou junto com a gente. Não era costumeiro que um homem barbado, cheio de postura e maturidade pulasse junto com as garotas.
Naquele momento, felicidades se propagavam no nosso ciclo. No meu — o principal —, sabia que as coisas tinham voltado ao mínimo da normalidade. Aquela era mesmo a minha realidade no fim de tudo. E, no de Mayhem, ela saltitava e ria a medida em que a crença de que acabara de se tornar noiva se tornava mais plausível. Ela iria se casar com um Becker que devia ter tomado um tiro no peito e morrido em combate.
Vê-lo era uma emoção sem igual. Vê-la, ela era uma emoção que não me cabia dentro do peito e não me importava qual era a explicação para tudo aquilo, apenas que provavelmente... nada daquilo existiu.
Como eu sabia? Não sentia a perturbação de Mayhem pela última noite em que foi raptada, ou o confronto que tivemos com os Fraulen dias antes.
E quando nos sentamos para assistir à televisão, eu percebo Maratriz em seus formosos vestidos apresentando o seu outro programa sobre entretenimento juvenil.
— São dez horas, Emília. É melhor comer e se trocar logo para a formatura.
— Que formatura?
— A sua... — ela estreitou os olhos. — Sabia que você ia acabar esquecendo, por isso me pediu para te lembrar.
— Eu me formei na COP?
— Com honras e orgulho.
— Melhor tomar muito café, Emy — disse Becker com seu copo de café com leite. — Vai ter um dia cheio hoje. Também não se esqueça que o prefeito vai congratula-la pelo 100° caso resolvido.
— Eu...
— Ela esqueceu também, Beck — Mayhem empurrou a minha testa com um dedo e sorriu.
Virei o rosto para o outro lado e sorri também. De alguma forma me sentia realizada e com uma nova realidade formada. Seria por fim formada agente especial, tinha resolvido um centésimo caso da minha carreira e o prefeito ainda iria falar comigo.
Acho que foi bem melhor os Fraulen terem deixado de existir.
Isso se eles realmente tiverem existido algum dia.
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O Ultimo Fraulen
Mystery / ThrillerO misterioso desaparecimento de três mulheres em menos de um mês despertou o interesse de toda polícia de Trodeheim, Noruega, e também de Emilia Braun, uma investigadora local que agora aposta seu trabalho, horas de sono e até mesmo a sua sanidade p...