Eu sinto quando meu joelho fraqueja e caio diretamente no chão batendo o braço em algo feito de vidro e duro o suficiente para doer meu cotovelo.
Dor de cabeça me toma, assim como a sensação de pensamentos embaralhados e confusos que se esforçam para formar algo mais real. Mas não consigo. Parece que ainda estou dentro daquela ilusão por mais alguns instantes enquanto o meu mundo gira.
Por fim, tudo se acalma e... estou de volta na minha sala.
Bom, ao menos... onde eu estava? Lembrava a sala da minha casa pelo formato e pela porta que eu risquei de canetinha colorida a muito tempo, mas por quê parecia abanada a uns mil anos?
Poeira cobria um par de moveis desbotados, o sofá estava virado, os quadros da sala partidos no chão e sobre toneladas de mofo. Quando olho pela escada, noto que... luz do dia entra. Há luzes cizentas no além do vidro da porta que me atraem um pouco, mas eu me levanto e arrumo meus cabelos.
— Dante? — para onde ele tinha ido. — Mayhem?
Quando dou um passo, piso num vidro quebrado. O chão em madeira range debaixo dos meus calçados, alguns pedaço dele se quebram quando piso.
— O que aconteceu aqui? — olho ao redor. — Mayhem?
Subo até o segundo andar até o meu quarto. Nada. Até o quarto dela... Nada. Apenas um cenário de abandono total e as luzes que vem do teto esburacado. Olho através dela e o tempo parece neblinado.
Volto ao primeiro andar e procuro mais um pouco, mas não há nada.
Ok, ela pode ter saído ou... um botijão explodido.
Não, não pode ser isso. Minha mente mergulha num frenesi, energia se dispersa pelo meu corpo e eu só consigo correr até a porta.
Mas, quando a abro... o meu coração pula pela boca.
— Não... isso não pode ser verdade.
Todo meu corpo convulsiona com o mundo que está diante de mim. Além do céu cinzento, um cenário de guerra parecia ter passado pela minha rua e por todas nas quais meus olhos atingiam. Era uma mistura de cenários que confundiam o meu senso de direcionamento. Um era futurista, carros pretos e brancos com vidros negros deslizavam pelo chão que era tão liso e plano como um espelho. Casas grandes se perdiam de vista. As ruas que eu conhecia — ou que conheço, foram substituídas por mais ruas ou tomadas por casas como essas. Não era um cenário de total destruição, mas de certa desolação.
Lembrava um cenário pós apocalipse de sci-fi, mas que, infelizmente, era bastante real.
Então vejo as primeiras pessoas. Não como veria se abrisse a porta para os testemunhas de Jeová num domingo de manhã, mas como se elas surgissem de repente e as suas vozes assumissem o espaço até então vazio. Elas eram reais, mas eu não conhecia ninguém — e, aparentemente ninguém me conhecia. Eles vestiam roupas emborrachadas de cor azul escuro e usavam uma espécie de coroa dourada ao redor da cabeça.
— Por favor... — aceno para uma mulher, mas ela me olha com estranheza. — Ei! — um rapaz passa por mim e sorri sedutoramente. — Com licença!
Ladeio com uma senhora de aparentes setenta anos. Ela tinha olhos muito claros, praticamente azul elétricos.
— Sim, filha?
— Onde estamos?
— Trondheim.
A pergunta talvez fosse melhor se questionasse: Quando ou em que mundo estávamos.
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O Ultimo Fraulen
Mystery / ThrillerO misterioso desaparecimento de três mulheres em menos de um mês despertou o interesse de toda polícia de Trodeheim, Noruega, e também de Emilia Braun, uma investigadora local que agora aposta seu trabalho, horas de sono e até mesmo a sua sanidade p...