Capitulo 20

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A cozinha da casa era um espaço pouco iluminado e pouco cômodo por estar cercado por quatro paredes grosseiras e largadas ao relento e aos cupins. Uma mesa quadrada para seis pessoas estava disposta no meio dela junto a um fogão, um armário grande com portas de vidro e uma geladeira enferrujada. Sobre nós, um lustre de ouro com velas escorridas.

— ... Você precisa entender o quão custoso foi a nossa ausência nesse mundo, Dante. Já parou para pensar que hoje eu poderia ser o presidente do maior banco do mundo — Silas ergueu um braço ao redor do meu ombro. — Teria mulheres, teríamos negócios rentáveis, teríamos o dinheiro único que os tornaria possíveis. Todos ficariam felizes e contentes podendo comprar e vender mais.

Afastei o braço dele de cima de mim. Estava ao lado de Silas e Dante, enquanto que Maikon abocanhava sua comida do outro lado da mesa e me olhava pesadamente.

— Se fizessem isso os religiosos achariam que o anticristo chegou a terra — pontuei.

Eles riram, debochando.

— Dante erradicaria a desconfiança — disse Maikon apontando-lhe o garfo. — É satisfatório de certa forma voltar ao que se assemelha a uma vida. Viram o que fizemos? Escândalos logo se erguerão acerca daquela mulher que caiu do prédio alto. A mídia clamara por respostas da polícia e todos se sentirão inseguros para sair de casa.

— O que vocês querem aqui? — olho para ambos.

— Provavelmente o mesmo que queriam a quinze anos atrás — disse Dante, desconfiado em encarar Silas mais que o normal. Me sinto pequena entre eles. — O que mais me irrita, é que a tentativa de passar por despercebido já não é mais possível. A senhorita Braun veio a mim na tentativa de erradicar um crime mas o que conseguiu foi atiçar ainda mais as chamas e trazer os fantasmas do passado de volta.

— Eu? Você está me culpado pelos seus próprios crimes, Dante? — cruzo braço ao erguer a voz, quero dar um tapa nele. — Me explica o porquê de vocês estarem aqui que eu deixo todo mundo em paz se me convier.

— Ei... meneie o seu tom — exigiu Maikon na ponta da mesa. — Não somos crianças para debater aos gritos.

— Parece que o paraíso está ruindo aos pedaços entre o lindo casal. Como você disse que se chamava, querida?

— Emília. E não, nós não somos um casal. E, Maikon, sou uma autoridade policial, por isso sou eu quem devo pedir para que as coisas se acalmem entre nós e que vocês deixem de ser uma ameaça a minha integridade.

Por fora, uma tigresa rosnava para mim impor respeito para ficar segura, mas, por dentro, eu sentia que Mayhem não tinha passado tempo suficiente comigo para me ensinar como realmente se impor diante dos homens mais arrogantes e cheios de si.

— Mjeer vai gostar dela — Silas sorriu descaradamente ao olhar para Dante. — Entretanto, senhorita Emília, vamos expor os fatos: viemos para conquistar vocês. Todos vocês. É uma sensação de poder, de grandeza que todos nós sentimos. É uma melancolia acreditar que as pessoas só são diferentes porque pensam diferente. Nós existimos para mudar isso e faze-las pensar que todos são iguais. Pensamento iguais resultam em menos diferença, entende? Somos heróis se visto dessa forma, não?

— Silas sempre achou que podia conquistar a todos com o poder do dinheiro — ditou Dante apontando-lhe um garfo. — A manifestação dele o fez acreditar que mexer com vossa economia seria suficiente para manipular a humanidade; assim como a minha é fixar a religião. A de Maikon é dominar a política, e a de Mjeer, a informação, comunicação e mídia. Essas são as partes que compunham a personalidade de Tompson Fraulen, ao que sabemos.

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